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Brasil-Mundo

Festival de cinema do Brics abre novo mercado de co-produções para brasileiros

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O segundo festival de filmes do Brics, o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, rendeu ao cinema brasileiro dois prêmios e abriu as portas para produções conjuntas em uma parte do mundo ainda pouco explorada pelos diretores brasileiros.

O diretor e roteirista brasileiro Marcos Jorge ficou encantado com a China.
O diretor e roteirista brasileiro Marcos Jorge ficou encantado com a China. Divulgação
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Vivian Oswald, correspondente em Pequim

 

Até 2022, os cinco países devem realizar cinco co-produções, como “Para onde foi o tempo”, a primeira delas, uma coletânea de cinco curta-metragens. O curta brasileiro foi dirigido por Walter Salles.

 

Depois de uma semana na China, onde participou do festival, o diretor e roteirista Marcos Jorge, saiu convencido de que essas são novas oportunidades para além do universo das parceiras com América Latina, Europa e Estados Unidos, regiões em que o cinema brasileiro vinha concentrando seus esforços. Mas ele acha que, para funcionar de verdade, os filmes devem ser trabalhados por dois ou três países que tenham mais características em comum para evitar que sejam sempre a reunião de cinco produtos diferentes.

 

"A Rússia, a Índia, a China e a África do Sul não são países que estão normalmente no nosso radar quando pensamos em co-produções. E isso, na verdade, é um erro. O que esse segundo festival de cinema dos Brics mostrou é que esses cinco países estão muito interessados em cooperar no campo da produção cinematográfica. É muito interessante pensar em co-produzir. Não necessariamente entre os cinco ao mesmo tempo, como foi o filme de abertura do festival, que reuniu os cinco, mas, quem sabe, dois ou três dos cinco que tenham uma afinidade maior", disse o cineasta. 

 

Para Marcos, as parceiras devem render bons frutos e ampliar o alcance dos filmes produzidos nos países em desenvolvimento, como aconteceu em seu primeiro longa-metragem “Estômago”, uma parceria com a Itália. Segundo ele, seu filme se beneficiou muito do fato de ser uma co-produção, de ter uma espécie de dupla nacionalidade, principalmente pelo alcance de novos públicos, além de um orçamento maior.

 

"Pelo fato de ter essa dupla nacionalidade, a gente acessou com mais facilidade o mercado europeu, e o filme acabou realmente acontecendo em muitos países. Foi vendido para mais de 20 países. Eu acho que co-produções são saídas interessantíssimas para o cinema brasileiro, já que só apresentam vantagens", destacou.

 

Vitalidade da China encanta cineasta brasileiro

 

O diretor brasileiro se deixou encantar pela China. Talvez tanto que até se esqueceu da poluição e saiu para uma corrida matinal em Pequim no último sábado. Não conseguiu completar o seu objetivo. Mas o que viu entre a capital e Chegndu, a cidade do festival, foi o suficiente para convencê-lo a tirar do papel um projeto que vinha acalentando e que ainda é segredo. Ele revelou à RFI que, se tudo der certo, quer começar a filmar na China em 2020.

 

Na segunda maior economia do mundo, o brasileiro viu vitalidade. "Um mundo novo, com pessoas muito vivas e que querem recuperar o esplendor de séculos atrás." Ele se surpreendeu com o que chamou de outro coração que pulsa. Segundo o cineasta brasileiro, isso abre os horizontes para além do mundo eurocêntrico e americanófilo com o qual o Brasil se acostumou.

 

"Talvez a palavra que melhor defina o que mais me chocou na China é 'vitalidade'. A vitalidade demonstrada hoje por esse país é algo surpreendente, claro e evidente. E simplesmente pulsante. É um país pulsante que está em mudança, em transformação. Deu muita vontade de fazer parte disso, de manter contato, de acompanhar isso e viver isso junto com eles", revelou.

 

E parece que Marcos também agradou os chineses, que querem conferir ao seu filme “Mundo cão” um novo olhar, um olhar chinês. Depois de uma das projeções do filme durante o festival do Brics, ele foi contatado por uma produtora chinesa que manifestou interesse em comprar os direitos autorais da obra para fazer um “remake” na China.

 

"Essa hipótese me deixou muito feliz. Imaginar uma história que você criou, baseada de certa forma num país, que, não só é compreendida num país tão diferente, com uma cultura tão diferente, com uma língua tão diferente, mas que pode, eventualmente, até fazer sentido nesse outro país. Tomara que isso aconteça. Estou muito feliz que isso acabe acontecendo, porque seria uma delícia ver o filme feito por um outro cineasta, por outra cultura, numa outra língua. Lindo!".

 

Marcos estudou Comunicação no Brasil e Cinema na Itália, onde viveu por mais de uma década e começou a dirigir profissionalmente. Seu primeiro longa de ficção, “Estômago”, venceu 39 prêmios. Foi o filme brasileiro mais premiado no biênio 2008-2009 e recentemente considerado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) um dos 100 melhores filmes nacionais de todos os tempos.

 

A revista “Variety” listou-o entre os diretores mais interessantes do cinema brasileiro.

Em 2016, lançou “Mundo Cão”, seu quarto longa-metragem de ficção, adquirido pela Netflix e vencedor do prêmio do juri do Festival de Cinema Brasileiro de Paris no mesmo ano.

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