Acessar o conteúdo principal
Cultura

Paris dá adeus ao artista plástico brasileiro Arthur Luiz Piza

O artista plástico brasileiro Arthur Luiz Piza, radicado em Paris, morreu na última sexta-feira (26), aos 89 anos. Ele morava na capital francesa há mais de 60 anos e era reconhecido internacionalmente como um dos grandes mestres da gravura contemporânea. O artista será cremado em Paris, na sexta-feira (2), às 13h, no cemitério Père Lachaise.

Arthur Luiz Piza em seu ateliê em Paris, em 2012.
Arthur Luiz Piza em seu ateliê em Paris, em 2012. © Jeanne Bucher Jaeger
Publicidade

A morte de Arthur Luiz Piza surpreendeu a todos. Há menos de um mês, ele ainda jantava com amigos, visitava sua galeria em Paris, a Jeanne Bucher Jaeger, e trabalhava normalmente em seu ateliê. “Sentiu um grande cansaço, foi internado no hospital Americano e morreu 20 dias depois de uma doença no sangue”, conta, ainda surpresa, sua mulher e companheira de toda a vida, Clélia.

O casal morava em Paris desde 1951 e era uma referência para a comunidade brasileira da cidade. O ateliê de Piza, no 6° distrito da capital, era frequentado por artistas, críticos de arte, curadores e colecionadores. No local, se tem um apanhado da vasta e diversa obra criada por ele. Nas paredes e até no chão, exemplares de sua série “Tramas” de arame e zinco pintado, aquarelas com colagem, ou suas famosas gravuras.

“Não escolhemos Paris, Paris é que acabou nos escolhendo. Fomos ficando, sendo adaptados e adotados. É muito estranho. Eu percebo, agora que ele já não está, que no fundo a cidade nos cativou e nos fez”, relembra Clélia.

Mestre da gravura contemporânea

Quando se instalou na França, o paulista tinha uma formação em pintura com Antonio Gomide e começava a se interessar pela gravura. Em Paris, ele se especializou na técnica com o mestre polonês Johnny Friedlaender. Em busca de volume, introduziu o relevo em sua obra e ganhou notoriedade. Sua evolução o levou às colagens coloridas em papel, cortes e recorte, para finalmente, chegar à escultura, utilizando materiais insólitos, como arames, zinco, acrílico e papel.

Avenir certain, 1994, gravura em metal.
Avenir certain, 1994, gravura em metal. © Galeria Raquel Arnaud

Durante sua longa carreira artística, Piza recebeu 16 prêmios nacionais e internacionais. Além da participação em bienais importantes, fez exposições, individuais e coletivas, nas principais capitais mundiais. Ele deixou mais de 3 mil obras. Muitas delas podem ser vistas nos mais renomados museus do mundo: Museu de Arte Moderna e Centro Georges Pompidou, de Paris, Guggenheim e MoMA, de Nova York.

Um catálogo raisonné de toda sua obra estava sendo elaborado por ele, com a ajuda de Clélia e três colaboradores. Viúva, ela passará a tocar o trabalho sozinha: “Isso passa a ser meu objetivo no momento, para sobreviver no sentido espiritual da palavra”.

Construtivismo e geometria

“Construtivismo e geometria” são marcas da obra de “um artista com poderosa força criativa e impecável no cuidado que dedicava a todas as técnicas de sua criação”, lembra Raquel Arnaud, da galeria que representa Piza no Brasil. Ela diz que a obra dele tem seus colecionadores cativos: “Quando não se sabe o que comprar, compra-se Piza. Além dele ser internacionalmente conhecido e valorizado, eles (colecionadores) sentem orgulho dele ser brasileiro”, garante Raquel que conhecia Piza desde 1973. Ele foi o primeiro artista de sua galeria. “Um profissional que nos ajudou a crescer e um amigo generoso”, resume.

Generosidade é também um adjetivo empregado pelo galerista de Piza em Paris, Emmanuel Jaeger, para definir o artista que estava sempre em uma “criatividade incessante, cheio de ideias e tinha paixão pelo universo da arte”. Segundo Jaeger, as raízes brasileiras não eram visíveis na sua arte abstrata e muito colorida. “Fora a cachaça, que ele apreciava, sua arte ultrapassava o cenário puramente brasileiro”, brinca o galerista que irá continuar a defender o trabalho “insubstituível e indispensável” de Piza.

Ponte entre a cultura francesa e brasileira

Marcelo Araújo, presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) teve uma convivência muito próxima com Piza, desde 2002 quando montou a primeira retrospectiva do artista na Pinacoteca de São Paulo. Ele é “um dos maiores artistas brasileiros da segunda metade do século 20”, afirma.

G 151, 1980-1990, incisão e pintura em papel.
G 151, 1980-1990, incisão e pintura em papel. © Galeria Raquel Arnaud

“Ele conseguiu com suas obras construir uma ponte com toda uma tradição brasileira muito forte deste período, que é de uma arte construtiva aliada a uma sensibilidade pessoal muito grande”, analisa o presidente do Ibram. Vivendo em Paris, “teve um papel de ponte entre a cultura brasileira e francesa (…) entre os dois países que sempre estiveram muito próximos, principalmente no campo das artes visuais. Talvez, o Piza seja a mais relevante expressão dessa parceria, dessa aliança entre as duas culturas”, ressalta.

O mundo artístico e cultural brasileiro ficou “desolado, quase órfão” com o desaparecimento, afirma o ex-diretor da Pinacoteca. Mas o Brasil também poderá dar seu adeus a Piza. Depois da cremação no cemitério Père Lachaise em Paris, na próxima sexta-feira (2), suas cinzas serão levadas para sua terra natal.

“O Piza vai ter uma homenagem na França e outra no Brasil. Ele vai ser duplamente enterrado”, conta Clélia. O enterro em São Paulo ainda não tem data definida.
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.