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Rendez-vous cultural

Podcasts dão o tom da nova era do rádio

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Em outubro de 2014, a rádio pública americana NPR transmitiu o primeiro episódio do podcast mais bem-sucedido de todos os tempos, a série radiofônica Serial. Para quem não sabe, o podcast é um programa de áudio periódico, que pode ser baixado em computadores, tabletes ou smartphones. Um de seus méritos é que você pode ouvi-lo onde e quando quiser. Idealizado, produzido, e apresentado, pela jornalista americana Sarah Koenig, a primeira temporada de Serial - que abordava um caso de assassinato ocorrido há 15 anos - contabilizou 90 milhões de downloads pelo mundo afora. Tamanho sucesso impulsionou novas criações sonoras, sejam elas realizadas por rádios generalizadas ou produtores independentes.

A produtora independente "Nouvelles Écoutes"
A produtora independente "Nouvelles Écoutes" Divulgação
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O apetite do público por essa mídia fez com que recordes de audiência fossem batidos na França. Só no mês de março, 16 milhões de podcasts da rádio pública France Culture foram baixados. O podcast vai ganhando pouco a pouco uma linguagem própria, dando espaço a narrativas mais livres e sofisticadas.

Produtores independentes revigoram o mercado sonoro

Os jornalistas Lauren Bastide e Julien Neuville, produtores independentes de Nouvelles Écoutes.
Os jornalistas Lauren Bastide e Julien Neuville, produtores independentes de Nouvelles Écoutes. Divulgação

Os jornalistas franceses Julien Neuville e Lauren Bastide lançaram a produtora independente Nouvelles Écoutes, (“Novas Escutas”, em tradução livre), em novembro de 2016, e parecem estar conquistando um lugar ao sol.
No cardápio, dois programas recorrentes que têm fidelizado o ouvinte: La Poudre, um espaço dedicado ao feminismo, onde artistas, intelectuais e personalidades políticas, discutem a condição da mulher; Banquette, um encontro com grandes personagens do universo do futebol, mas também micro- séries sobre assuntos que dizem respeito à atualidade. Com apenas dois meses de existência, os programas de Nouvelles Ecoutes foram baixados 150 mil vezes. Neuville afirma que o modelo econômico adotado por eles é a publicidade presente no início do podcats, conhecido como pré-roll, bem como uma campanha bem sucedida de crowdfunding.

À RFI Brasil, Julien Neuville detalha o que o motivou a produzir conteúdo sonoros num suporte relativamente novo. Ele afirma que sua intenção é a de propor algo que todos, sem exceção, possam escutar. Ele afirma que sua experiência na imprensa escrita lhe confrontou aos prazos de edição, de publicação, paginação, etc.
“Nós concluímos que um podcast é um suporte com uma flexibilidade muito maior. Tanto no que se refere à duração dos programas - 20, 30, 40 minutos – quanto à frequência, já que nós publicamos quando e somente o que nós queremos. Mas queríamos sobretudo, dar voz, literalmente, aos que são inaudíveis, que escutamos raramente. ”

A jornalista Pascale Clark, uma das vozes mais emblemáticas da rádio pública francesa, também se lançou nessa aventura e lançou no mês de abril uma plataforma de podcasts, BoxSons, composta por jornalistas, autores, diretores e profissionais do som. Clark defende a utilização do podcast e explica a mensalidade da assinatura de € 9: “Vocês poderão escutar nossas reportagens no trem, no avião, num trator, cozinhando, caminhando, enfim, quando vocês quiserem. Vocês vão viajar conosco, é um trabalho de escuta e imaginação. Bem, esse é um serviço pago, mas vocês serão muito bem tratados. ”

As sócias e produtoras independentes de BoxSons, Pascale Clark e Candice Marchal.
As sócias e produtoras independentes de BoxSons, Pascale Clark e Candice Marchal. Divulgação

A evolução do podcast, um come-back impressionante do rádio

A semióloga e especialista de mídias Virginie Spies, afirma que a presença dos podcats em nosso cotidiano será cada vez maior, sejam eles de natureza jornalística, humorística, cultural ou lúdica. De acordo com a especialista, o número de ouvintes tem aumentado ao mesmo tempo em que novos podcasts são lançados. Os avanços na tecnologia, com destaque para o rápido avanço do uso de smartphones e dispositivos móveis, além da maior conectividade dentro dos carros, têm contribuído para o aumento do interesse por podcasts.

“O rádio voltou com força total, aliás, ele nunca deixou de existir. É interessante observar como as mídias são analisadas e estudadas: quando a televisão surgiu, disseram que o rádio iria desaparecer. Cada vez que uma nova mídia aparece, a gente acha que uma mídia mais antiga vai deixar de existir, mas não é o caso, muito pelo contrário.

De acordo com o diretor da BBC, Denis Nolan, o mundo da publicidade tem se mostrado cada vez mais interessado por esse novo mercado, já que as ofertas, bem como a audiência tem aumentado exponencialmente. Segundo ele, fala-se mesmo em “gentrificação” dos podcasts, onde sociedades privadas desenvolveriam podcasts sob medida para satisfazer marcas.

A pergunta que fica no ar é: será que o podcast é a nova galinha dos ovos de ouro nesse vasto mundo digital?

 

 

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