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Luiz Fernando Emediato, autor: "Golpe de 64 frustrou nossa aventura familiar"

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Jornalista, editor e escritor, o mineiro Luiz Fernando Emediato está em Lisboa participando do FESTin, o famoso festival do cinema itinerante da língua portuguesa (1° a 8 de março) que está na oitava edição. Inspirado em seu livro, foi o filme "O outro lado do paraíso", dirigido pelo cineasta André Ristum, que abriu o evento este ano.

Luiz Fernando Emediato em Lisboa, na abertura do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa
Luiz Fernando Emediato em Lisboa, na abertura do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa DR
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A história de "O outro lado do paraíso" se passa nos anos 60, quando a construção de Brasília atraiu milhares de brasileiros de todas as regiões. Autobiográfico, ele fala da grande aventura vivida pela família Emediato: "Escrevi o livro há 36 anos como uma forma de homenagem a meu pai, que teve uma vida de aventuras e marcou muito a minha vida. O que sou hoje devo a essa convivência com ele", diz o autor, contando que o pai era um visionário que buscava o paraíso na Terra, vivia mudando de uma cidade para outra, viajava, sumia e voltava. "Ele admirava muito o João Goulart, que era presidente do Brasil, e em 1963 Brasília estava sendo construída, então, meu pai pegou toda a família, enfiou num caminhão e fomos para lá. E é aí que se desenrola essa tragédia que foi nossa aventura em Brasília, que foi abortada pelo golpe militar de 64", ele relembra.

Na época, Luiz Fernando tinha 12 anos e era um menino curioso, que gostava muito de ler. "O filme trata da minha descoberta da leitura, da literatura, da vida, é um rito de passagem, uma história de amor, aventura, utopia, com o golpe militar como pano de fundo", conta o autor. Ao contrário da maioria dos escritores, que rejeitam as adaptações cinematográficas de suas obras, Emediato aprovou totalmente o resultado final, assim como a escolha do ator estreante Davi Galdeano, no papel de Nando, o narrador.

Golpes diferentes no Brasil

Inevitável fazer um paralelo dos anos 60 com o atual processo político brasileiro. "Na verdade, aquela elite civil que se uniu com os militares e foi responsável pelo golpe de 64, ela nunca saiu do poder, mesmo depois da democratização. Foram as mesmas pessoas, a mesma elite econômica, industrial, agrária, essa mesma elite deu um golpe no Brasil, um golpe mais moderno, mais inteligente, um golpe parlamentar, ou seja, há um simulacro de que foi um processo de impeachment democrático, não foi! É a mesma elite interrompendo (...) a evolução do Brasil para uma democracia de fato. Nunca tivemos uma democracia plena no Brasil, um país rico mas como o povo não tem acesso à educação plena, à cidadania para lhe dar consciência dos seus atos, inclusive na hora de votar, as elites continuam no poder. Aconteceu um retrocesso, uma continuação de 1964, infelizmente, 52 anos depois, veio um novo golpe, temos que chamar isso de golpe, mesmo que não aceitem, é um golpe", observa Emediato.

"O outro lado do paraíso" foi premiado como melhor filme do júri popular no Festival de Gramado e no Festival de Brasília,recebeu o Troféu Câmara Legislativa de melhor filme escolhido pelo público, melhor ator (Davi Galdeano), melhor atriz (Simone Iliescu) e melhor roteiro;  prêmios de melhor filme, melhor atriz (Maju Souza) e melhor filme do júri popular no Festival Latino-americano de Trieste, na Itália;  prêmio Rádio Exterior da Espanha pelo longa que melhor reflete a realidade latino-americana, e prêmio no Festival Latino-Americano da Catalunha, em Lleida, na Espanha.

 

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