Acessar o conteúdo principal
Rendez-vous cultural

A irreverência do artista Ben agita o comportado Musée Maillol de Paris

Publicado em:

O Musée Maillol de Paris, depois de 18 meses em obras, reabriu as portas com novos ares. Abrigando as esculturas de Aristide Maillol, o espaço agora dá as mãos à arte contemporânea com uma retrospectiva dos 50 anos de carreira do artista Ben.

Escultura de Aristide Maillol diante de uma parede com interferências verbais coloridas de Ben
Escultura de Aristide Maillol diante de uma parede com interferências verbais coloridas de Ben LC
Publicidade

Impossível definir Ben Vautier, conhecido simplesmente como Ben. Artista plástico, performer, agitador cultural, ele pode ser considerado, entre outros rótulos, o precursor da Street Art na França. Quando os famosos grafiteiros de hoje ainda não haviam nascido, ele já levava a arte para a rua nos anos 60, com intervenções provocadoras e engraçadas, que despertavam a curiosidade popular e iam bem além da escrita de suas famosas frases nos muros. Dois exemplos: ficar sentado em uma avenida com um cartaz "Olhe-me, já é suficiente", ou atravessar uma rua movimentada dentro de um saco, obviamente sob o olhar de amigos para não ser atropelado.

"Maillol amava as mulheres, eu também!"

Antes da reforma, o Musée Maillol apresentava unicamente o acervo do famoso pintor e escultor (1861-1944), cuja obra foi preservada por sua musa e modelo, Dina Verny. Maillol revolucionou a arte do início do século XX com suas esculturas de nu feminino, de formas generosas e linhas apuradas.

Ben confessa que ficou surpreso ao ser convidado para reabrir o Musée Maillol com sua mostra "Tout est Art?": "Há dez ou quinze anos eu teria dito 'não tenho nada a ver com Maillol', mas na verdade, eu tenho muito a ver com ele pois com a idade, a gente amadurece. Hoje eu percebo que continuo amando as mulheres. Minha relação com ele é essa, Maillol amava as mulheres, eu também. As esculturas de Maillol, mulheres nuas de formas generosas, me tocam muito. Bom, eu não desenharia as mulheres como ele, mas isso não me bloqueou. Eu acho que suas linhas são sempre atuais. Existe uma continuidade no trabalho dele que é boa, que me corresponde. Não me incomodou expor aqui, ao contrário, me deu muito prazer expor no museu de Maillol", diz o artista.

A caligrafia de Ben é famosa em toda a França

Uma das marcas registradas do artista é sua escrita, meio redonda e infantil. É com suas letras que ele escreve frases e mensagens na maioria de suas criações. Uma inspiração que se estendeu à comercialização de uma infinidade de objetos de papelaria, a maioria com frases brancas sobre fundo preto.  

Ben Vautier

Como será que isso começou? A resposta é óbvia e quase infantil: "As pessoas pensavam que eu tinha meu grafismo e que esse grafismo era arte. E eu disse que não, afinal de contas, eu ia ver um pintor especializado em caligrafia e pedia para ele escrever isso ou aquilo. Mas depois ele me cobrava muito caro, eu não tinha dinheiro, então comecei a escrever eu mesmo, como uma criança, do jeito mais simples possível, de modo que uma velha senhora ou uma criança pudessem compreender. E pouco a pouco essa escrita se tornou um estilo, pois onde há a repetição de alguma coisa, há o estilo. Então, eu me disse, bem, as pessoas dizem "o estilo de Ben" é essa escrita. Até começaram a me pedir para escrever coisas tipo "Viva a França" ou o nome de uma loja. Eu disse não! Eu não sou um pintor de letras!", ele conta.

As crianças adoram Ben

Em frente ao museu Maillol, um grande número de famílias com crianças comenta a mostra. Meninos e meninas de quatro a seis anos, contentes, trocam ideias sobre o que mais gostaram. Vitória foi a primeira a falar: "Eu achei muito engraçado e me diverti muito. Eu adorei porque tinha o crocodilo que mordia a almofada, o bebê pendurado, a bola com números, eu me diverti muito"!  Sua amiguinha Elsa, e o irmão mais novo, Arcan, também curtiram as mesmas coisas que Vitória.

Ben fica feliz com isso. "Eu procuro com frequência o público infantil. E quando vou nas escolas, com crianças de 4, 5, 6, 7 anos, faço sempre o mesmo discurso. Não se deixem levar pelo imperialismo cultural que reprova se vocês não conhecem a pintura do século XVIII, se vocês não conhecem Rembrandt, se não conhecem Van Gogh não podem ser artistas... Digo logo a primeira regra: tentem encontrar algo novo. No dia seguinte, a professora pede para eles fazerem o que Ben disse, inventem coisas". Ele também fala que a maioria vai escrever uma bobagem, como "papai", "mamãe", mas que sempre um ou dois vão dar asas à imaginação e fazer algo surpreendente.

A mostra "Tout est Art?, de Ben, pode ser vista até 15 de janeiro de 2017 no Musée Maillol.

Veja a galeria de fotos da exposição:

 

 

 

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.