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Livro Paris: subvenção à tradução impulsionou literatura sul-coreana no exterior

Convidada de honra do Livro Paris, a feira literária da capital francesa, a Coreia do Sul testemunha um grande vigor editorial, promovido por uma política cultural singular, segundo reportagem do jornal francês Express.

Hwang Sok-yong
Hwang Sok-yong Divulgação
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"O país nos proporciona uma reflexão de como é possível ser coreano em um mundo que se tornou uma aldeia global", diz Jean-Claude de Crescenzo, editor, tradutor e diretor de estudos coreanos da Universidade Aix-Marseille, que é o consultor sobre o país para o Livro Paris.

Essas palavras resumem a evolução recente de uma literatura que, pela chegada de uma geração de autores que cresceu com a democracia e a sociedade de consumo, globalizou-se até nas temáticas romanescas.

Uma evolução produzida igualmente pela história recente, que se desenvolveu com grande velocidade: dividido em dois pela guerra da Coreia (1950-1953), sob jugo ditatorial no fim dos anos 1980, o país passou, em 20 anos, de país pobre à 13ª potência econômica mundial.

Um país bem-sucedido tanto na indústria e no comércio quanto na promoção de uma forma de "soft power" cultural e digital - videogames, cinema e k-pop, a música pop coreana, cujo nome mais conhecido no mundo é Psy e seu hit "Gangnam Style".

Três gerações de autores

No campo literário, esse movimento é encarnado por três gerações de autores bem distintas. A primeira reúne aqueles que viveram a guerra da Coreia, como Kim Hoon, que nasceu em 1948 em Seul, e Hwang Sok-yong, que nasceu em 1943 na Manchúria ocupada.

Esse último, presente na feira literária parisiense, é sem dúvida um dos escritores mais conhecidos do país: preso duas vezes durante a ditadura, seus escritos são parábolas que fazem denúncias, como a singular "Todas as Coisas da Nossa Vida", que acaba de chegar às livrarias francesas.

A geração seguinte é formada por autores que nasceram durante a ditadura, entre os anos 1960 e 1987, como Kim Young-ha, cujas obras estão a meio caminho entre a parábola política e a literatura intimista. E a terceira é composta por escritores atualmente na faixa dos 30 anos, que cresceram em um país democrático.

Subvenção maciça à tradução

Há muito tempo ignoradas pelo público ocidental, essas ondas sucessivas chegaram ao conhecimento dos leitores estrangeiros por um sistema de promoção original: a subvenção maciça à tradução e à exportação. Desde 1996, a promoção das letras coreanas no exterior é gerada principalmente pelo Instituto de Tradução Literária da Coreia (KLTI, na sigla original), órgão público fundado pelo governo.

Até 2014, era o instituto que selecionava as obras a ser traduzidas, que contratava os tradutores, que os pagava e que assumia financeiramente uma boa parte da produção e também da promoção. Co-fundadora e atual diretora da editora Zulma, Laure Leroy foi pioneira das publicações coreanas na França e a primeira a publicar Sok-yong (sete romances entre 2002 e 2010).

Ela foi também uma das primeiras a experimentar "esse sistema rápido, que se tornou um freio, porque a seleção era efetuada de um ponto de vista coreano".

"Não podíamos ter aqui a mesma visão. Sem contar que, na França, editar um romance não pode ser pensado dessa maneira. É por isso que temos muitos livros sobre a guerra da Coreia, mas precisávamos também de outras coisas. Não era apenas uma maneira de controlar as histórias, mas também os discursos que eram exportados."

História recente dura

Jean-Claude de Crescenzo relativiza, entretando, esse intervencionismo, julgando que, "muito interessantes financeiramente, essas ajudas permitiram elevar a quantidade, a proporção e a qualidade dos textos".

Outro pioneiro das letras coreanas na França, Philippe Picquier diz que "nunca publicou sob o pretexto de que isso permitiria a obtenção de uma subvenção".

De Seul, o encarregado de traduções para a Europa do KLTI, Jung Ji-kwon, resume assim a posição coreana: "O objetivo das nossas atividades não é desfavorecer alguns autores para promover as ações literárias de outros. Pelo contrário, é ajudar a publicar obras diversas... exceto as muito comerciais ou religiosas".

E reforça: "Atravessamos uma história recente muito dura: invasão, colonização, guerra e divisão, industrialização e democratização. Uma história condensada, acelerada, inteiramente refletida na nossa literatura".

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