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Brasil/Festival de Toulouse

Crise não afeta cinema brasileiro, dizem cineastas em festival francês

O Brasil tem boa participação no Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse, um dos mais importantes da França. Mais de 20 filmes brasileiros integram as várias mostras desta 28ª edição do Cinélatino, que acontece até o dia 20 de março na cidade do sul do país. Para cineastas brasileiros que vieram a Toulouse, essa amostra da produção cinematográfica do país indica, apesar da crise, o sucesso da política audiovisual nacional.

Cineasta brasileiro Sérgio Andrade que participa do Festival  Cinélatino de Toulouse.
Cineasta brasileiro Sérgio Andrade que participa do Festival Cinélatino de Toulouse. RFI Brasil
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Adriana Brandão, enviada especial da RFI a Toulouse

Seis filmes brasileiros foram selecionados nas competições oficiais do Cinélatino de Toulouse: o longa-metragem de ficção "Antes o tempo não acabava", de Sérgio Andrade e Fábio Baldo; os documentários "Futuro Junho", de Maria Augusta Ramos, e "Jonas e o Circo Sem Lona", de Paula Gomes; e os curtas-metragens de ficção "Ainda Sangro por Dentro", de Carlos Segundo, "Edifício Tatuapé Mahal", de Carolina Markowicz, e "Quintal", de André Novais Oliveira.

Outros 11 filmes participam de mostras paralelas e o diretor pernambucano, Marcelo Gomes, é homenageado em Toulouse, com a retrospectiva de seus quatro longas-metragens. Além disso, vários cineastas apresentam nas seções Cinema em Desenvolvimento e Cinema em Construção seus projetos de filme, em busca de financiamento e co-produções.

Elogios à política audiovisual brasileira

Cineastas brasileiros que vieram a Toulouse disseram à RFI que essa multiplicidade de filmes é fruto do sucesso da política audivisual brasileira, comandada pela Ancine (Agência Nacional de Cinema).

O amazonense Sérgio Andrade concorre ao prêmio máximo do Cinélatino com um filme rodado na região de Manaus. O longa "Antes o tempo não acabava", co-dirigido por Fabio Baldo, é uma ficção sobre os índios urbanos, que traz um ator indígena como protagonista. A história, entre cidade e aldeia, mostra os conflitos entre tradição e modernidade e a busca por uma identidade própria, incluido a sexualidade.

Sérgio Andrade diz que a política audiovisual brasileira acabou criando um parque de fomento regionalizado, que permitiu a eclosão de uma produção em regiões do país onde não havia uma tradição cinematrográfica, como na Amazônia. Para ele, essa política tem sido um sucesso: “O financiamento do cinema tem sido muito exitoso e muito expressivo. O que se construiu, com a arrecadação do Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional, por exemplo, foi muito bem pensado.”

Sérgio Andrade lamenta, por causa do escândalo de corrupção, a interrupção do Petrobras Cultural, um dos maiores patrocinadores do cinema nacional. Mas o cineasta defende a transparência da produção atual: "O audiovisual não precisa ser corrupto porque houve corrupção na Petrobras. A política para o audiovisual foi muito bem construída e deu frutos. E não são frutos de coisas corruptas, mas de coisas transparentes que têm rendido trabalho e semado um futuro para o audiovisual."

Cinema livre da crise

O diretor de Recife, Marcelo Gomes, homenageado este ano com uma retrospectiva no Festival de Toulouse, concorda. Ele acha que, por enquanto, o cinema brasileiro está "um pouco livre dessa crise toda porque construiu uma tragetória de muito sucesso nos últimos 15 anos, sucesso de bilheteria, sucesso de produção".

O pernambucano, que venceu o Cinélatino no ano passado com o longa "O Homem das Multidões" elogia o trabalho da Ancine e a Lei das Teles, cuja arrecadação é revertida para financiar filmes. "Essas leis de fomento são quase intocáveis. Ok, a Petrobras não está mais realizando editais como antigamente, nem o BNDES, mas a gente tem uma série de editais regionais que promovem o cinema regional brasileiro. Então, de uma forma ou de outra, por enquanto, não existe uma crise de produção no cinema brasileiro. Mudaram as fontes de financiamento", afirma. Marcelo Gomes está preocupado com o futuro e se pergunta se os "próximos governos vão continuar esse fomento ao cinema ou não".

Co-produções internacionais não são mais necessárias

Maria Augusta Ramos está na competição oficial de documentários em Toulouse com seu sétimo filme, "Futuro Junho", sobre as manifestações pré-Copa do Mundo de 2014. Ela também elogia o trabalho da Ancine: "Tem se produzido muito nos últimos anos graças às novas políticas de cinema. Temos novos diretores que são extremamente talentosos. Eles têm feito filmes que pensam o Brasil, que pensam este momento, todas essas questões e contradições. Isso é uma mudança positiva dos últimos anos."

A diretora, que nasceu em Brasília, mas divide sua vida entre o Rio de Janeiro e Amsterdã, realizou quase todos os seus filmes em co-produção com uma televisão holandesa. Maria Augusta diz que atualmente as co-produções continuam fundamentais, mas garante que, hoje em dia, é possivel fazer filmes no Brasil sem elas. "Eu digo isso com muita alegria", conclui.

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