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Rendez-vous cultural

Imigração, guerra e terrorismo são temas de peças do Festival de Avignon 2015

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O palco é um aeroporto onde estão detidas em uma sala para averiguações oito pessoas provenientes de um voo de Istambul, no qual morreu um jovem desconhecido de origem árabe. O cenário da peça Soudain La Nuit, em cartaz no Festival de Avignon, é perfeito para ilustrar os medos e sentimentos controversos que rondam as portas da Europa e que estão presentes esse ano em vários espetáculos do evento.

Christophe Raynaud de Lage
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O ponto de partida da peça de Olivier Saccomano, dirigida por Nathalie Garraud, foi dois fenômenos que assombraram os europeus nos últimos tempos: a propagação do vírus Ebola e os atentados do grupo Estado Islâmico. Dois episódios que, segundo o autor do texto, simbolizam “uma dita ameaça às fronteiras europeias”.

Mas ao invés de falar dos que estão do outro lado das fronteiras, a peça coloca em situação de isolamento total, dentro de um aeroporto, um grupo de europeus às voltas com suas paranoias e inseguranças. O espetáculo é o ultimo episódio de um ciclo chamado “Espectros da Europa”, desenvolvido pela companhia Du Zieu.

“Je suis l’autre”

Soudain La Nuit (De repente surge a noite, em tradução livre) é uma peça densa, que tem o mérito de fazer refletir sobre nós mesmos e sobre “o outro”, uma das temáticas centrais da programação desse ano do festival.

Parafraseando o “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), que virou um emblema após o ataque contra o semanário Charlie Hebdo, há exatamente seis meses em Paris, o diretor do festival de Avignon, o dramaturgo Olivier Py, desenvolveu a programação desse ano em torno da seguinte ideia: “Eu sou o outro”.

“Eu sou outro, para mim, é a base da cultura. Uma cultura interessante vai além do nacional, dos guetos, ela vai em direção ao universal. E nós temos que acolher o outro porque ele é o outro, mas também porque ele é parte de nós mesmos”, afirma Py, defendendo com um tom assumidamente engajado a ajuda aos imigrantes africanos à deriva no Mar Mediterrâneo.

Dança e guerra

Além da imigração, o terrorismo e a guerra estão presentes em vários espetáculos esse ano. Cenas que lembram o terrorismo aparecem no final da montagem moderna de O Rei Lear, de Shakespeare, dirigida pelo próprio Py. A guerra inspira ainda o trabalho de coreógrafos como o franco-albanês Angelin Preljocaj ou a húngara Eszter Salamon.

O célebre coreógrafo Preljocaj vai apresentar na segunda quinzena de julho em Avignon o espetáculo Retour à Berratham, no palco mítico do festival: o Palácio dos Papas. 3 atores e 11 bailarinos vão interpretar a coreografia sobre o retorno de um jovem ao pais imaginário, Berratham, devastado pela guerra.

A performer Eszter Salamon apresentará por sua vez a coreografia Monument O, inspirada na relação entre dança e guerra. Seu trabalho é fruto de um questionamento sobre a história do ocidente. Através da dança, ela pretende “revelar partes ignoradas ou rejeitadas da nossa história, que não são contadas nos livros”.

Como bem lembra o diretor do festival, no texto da programação do evento, Avignon 2015 “pretende mostrar a lucidez do artista, feita de indignação e não de resignação”.
 

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