Futebol é debatido em festival literário francês que homenageia Brasil
A poucos dias da abertura da Copa do Mundo, o futebol não podia ficar de fora do Festival Internacional do Livro e do Filme de Saint-Malo, que este ano tem o Brasil como um dos convidados de honra. O tema foi debatido esta manhã (8) em um evento especial que contou com a participação do escritor brasileiro Luiz Ruffato. As manifestações no Brasil contra a Copa foram abordadas no debate.
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O escritor mineiro, autor de “Eles eram muitos cavalos”, é um dos onze autores brasileiros convidados a participar este ano do festival “Étonnants Voyageurs”, que acontece até amanhã (9). Um conto de Ruffato “Bonheur suprême» (Alegria imensa) integra a antologia «Le football au Brésil: onze histoires d’une passion» (Futebol no Brasil : onze histórias de uma paixão) que acaba de ser lançado na França pela editora Anacaona. Também participaram do debate os escritores franceses Jean-Paul Delfino, autor de vários livros sobre o Brasil, e Benoît Heimermann, jornalista esportivo.
A matinê «Planeta Futebol » foi aberta com a projeção do filme francês “Looking for Rio”, de Gilles Perez e Emmanuel Besnard. O documentário, narrado pelo ex-craque Éric Cantona sobre a história do futebol carioca, acabou influenciando o debate que foi dominado pela história do esporte no Brasil e pela organização da Copa do Mundo no país.
Futebol e racismo
Jean-Paul Delfino lembrou que o futebol, que chegou ao país no final do século 19, era no início um esporte de elite, antes de se tornar o mais popular do país.
Luiz Ruffato, que escreve estórias principalmente sobre os operários, disse que o futebol, que ritma a vida das classes populares brasileiras, era inconturnável e que aparece em muitos de seus livros. O escritor lamentou, no entanto, que o brasileiro já não é mais tão louco por futebol. «Hoje, por razões externas, como a especulação imobiliária que acaba com os campinhos de várzea, ingressos caros nos estádios e as escolinhas que formam jogadores mais técnicos, o futebol volta a ser uma coisa de elite», analisa.
Copa e manifestações
Respondendo à pergunta sobre as manifestações contra a Copa, o escritor brasileiro disse que não tem dúvidas de que o «brasileiro continua gostando de futebol, mas não da organização do evento».
Ele acredita que o Mundial vai acontecer, mas que «o mais curioso vai estar do lado de fora dos estádios». Ele pensa que «a maneira como as pessoas vão protestar, o que elas vão estar reivindicando, será talvez um momento antropológico muito interessante. A maneira como a Copa do Mundo está sendo realizada no Brasil, com a imposição do padrão FIFA nos estádios em um país que não tem esse padrão em outras infraestruturas, causou e causa muita indignação”.
Futebol e literatura
Para Luiz Ruffato, o fantástico universo do futebol é uma mina de inspiração, «mas nunca entendeu muito bem por que o tema, que começa a ser explorado, é pouco presente na literatura brasileira.»
Contrariando o escritor, a editora Chandeigne, acaba de lançar na França a antologia «La poésie du football brésilien» (Poesia do futebol brasileiro), traduzida e organizada por Max de Carvalho. O livro reúne 17 poemas de dez poetas, entre eles grandes nomes de nossa literatura como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Morais e Mario Quintana.
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