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Rendez-vous cultural

João Paulo Cuenca lança seu primeiro livro na França

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O livro do escritor brasileiro "O único final feliz para uma história de amor é um acidente", acaba de ser lançado na França pela editora Cambourakis. Esta é sua primeira obra  traduzida para o francês, lançada em 2010 no Brasil e inspirada de uma viagem do autor a Tóquio, em 2007.

O escritor João Paulo Cuenca.
O escritor João Paulo Cuenca. Flikcr/ Creative Commons
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Aos 35 anos, João Paulo Cuenca é considerado um dos maiores talentos da literatura contemporânea brasileira.  "O único final feliz para uma história de amor é um acidente", que já foi traduzido em vários outros idiomas, narra a história de amor entre o jovem Shunsuke Okuda e a garçonete romena Iulana Romiszowska. Os dois são monitorados por um submarino mantido pelo pai do protagonista, uma presença constante e opressora. Apaixonado pela cultura japonesa, o autor carioca faz um apanhado de múltiplas referências, de Murakami a João Gilberto. Nesta entrevista, o autor conversou com a RFI sobre seu processo de criação e seu novo projeto de livro que vai virar filme, "A Morte."

Você escreveu um blog de sua viagem a Tóquio em 2007. Como esse diário ajudou você na criação da história?

Quis fazer um diário do que eu estava vendo, descobrindo e sentindo. Um livro sempre começa com uma obsessão. Começo a ler sobre um assunto e não consigo mais parar de pensar naquilo. Aquilo vira um processo de investigação, de detetive mesmo, e chega um momento em que você precisa contar isso num livro. É você se apaixonar por uma ideia, um assunto, por um lugar, que foi o caso de Tóquio para mim.

Quanto tempo você passou em Tóquio para sua pesquisa ?

Eu passei 40 dias no país, já com o propósito de pesquisar para esse romance. Quando cheguei, não tinha muita ideia do que seria o livro. A viagem foi fundamental para descobrir os personagens e a história que eu queria contar, o clima. A pesquisa foi bastante urbana, é um romance urbano, como todos meus outros romances, que se passam nas esquinas das cidades, nos corredores, nos becos, nos túneis de metrô. Escrevi esse livro em 2007 e é curioso perceber como ele vai mudando. A gente vai enxergando a história com diferentes olhos e sob diferentes luzes.

Por que incluir um personagem romeno num romance que se passa em Tóquio, caso de uma das protagonistas, a Iulana ?

Eu queria colocar alguma coisa que fosse bastante exótica para os japoneses, como eu, no caso, que era bastante exótico. Estava decidido a não colocar nenhum personagem brasileiro na história, com exceção do João Gilberto, que toca no rádio, e o personagem escuta em um café. Mas o gaijin, o estrangeiro, precisava entrar na minha história.

Você já pensava em escrever um romance tendo Tóquio como pano de fundo ?

Sim, sempre fui fascinado por cultura japonesa. Já tinha ideia de escrever um romance japonês e não sabia como executar esse projeto. Surgiu um convite para fazer essa viagem e foi muito feliz. Desde muito pequeno  fui influenciado pela cultura japonesa, com os seriados de Godzilla, os romances de Tanizaki, os filmes de Kurosawa, quadrinhos… Na biblioteca de casa, por exemplo, tem uma parte inteira só de coisas japonesas, que já existiam antes de eu viajar. A viagem foi um encontro com uma espécie de imaginário, que eu sempre idealizei. É um lugar de representação, de simulacro para mim. E o livro também trata disso.

A gente se imagina dentro de um filme ao ler o livro, e acredito que isso seja proposital na sua narrativa.

Acredito que depois da invenção do cinema toda literatura passou a ser cinematográfica. A gente organiza o mundo através de imagens. Decupamos nossas lembranças, que imaginamos, quase como em um quadro, uma verdadeira decupagem cinematográfica. Tóquio é uma cidade onde você está submerso por uma torrente de imagens o tempo todo. O jeito que eu escolhi para narrar esse livro e apreender essa realidade foi visual, porque o livro também é sobre mediação. São temas do contemporâneo e que coloco todas em meus livros.

O submarino do livro é uma espécie de "Big Brother" ?

É uma metáfora para o Big Brother que carregamos no bolso. Cada um de nós carrega uma poderosa ferramenta de construção audiovisual de criação dessa representação de nós mesmos, ícones de nós mesmos, essa mentira de nós mesmos, que são nossos perfis em redes sociais. Estamos o tempo todo ficcionalizando nossa própria vida. Criando um personagem através dessas imagens que voluntariamente captamos e divulgamos.

Você está escrevendo um novo livro, "A Morte", como está sendo trabalhar nesse projeto ?

Este livro explora algo que aconteceu verdadeiramente comigo em 2008. Um sujeito morreu, num edifício ocupado no centro do Rio, e a mulher identificou ele para a polícia com a minha certidão de nascimento, meu nome completo e meus documentos. Contratei um detetive, investiguei essa história, e o livro é uma espécie de investigação semi autobiográfica desse ocorrido. Quando eu conto essa história, sempre me perguntam se não é uma ficção. Acho que vivemos cada vez mais nesse limiar, e esse livro japonês fala muito dessa fronteira da realidade e da representação.
 

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