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Cinema/Paris

Neta de Jorge Amado abre Festival do Cinema Brasileiro em Paris

O filme ‘Capitães de Areia’, da cineasta Cecília Amado, inspirado do romance de Jorge Amado, é um dos destaques da programação do Festival do Cinema Brasileiro, que começou nesta quarta-feira em Paris. Em entrevista à RFI, Cecília falou sobre a época que viveu na França, e os momentos vividos com seu avô na capital francesa, que influenciaram sua carreira.

A psicóloga Paloma e a cineasta Cecília Amado, filha e neta de Jorge Amado,  na abertura do Festival do Cinema Brasileiro em Paris
A psicóloga Paloma e a cineasta Cecília Amado, filha e neta de Jorge Amado, na abertura do Festival do Cinema Brasileiro em Paris Foto: Divulgação
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De seu avô, Cecília Amado guarda na memória a cadência da voz, a paixão por contar e ouvir histórias, e também os anos que passaram juntos em Paris. Era início dos anos 90, o então presidente Fernando Collor tinha acabado de chegar ao poder e Jorge Amado e Zélia Gattai moravam na capital francesa. Cecília, que também veio morar no país com os pais, tinha 13 anos e se lembra dessa época como um período de convívio intenso com o avô. Foi também aos 14 anos que a cineasta leu ‘Capitães da Areia’, o célebre romance do escritor. Paixão à primeira leitura. Cecília conta que, ainda adolescente, sonhava em ver o livro reproduzido na tela. "Costumo dizer que Capitães da Areia me escolheu. Fazendo cinema, surgiu a oportunidade de realizar esse sonho. Se eu imaginei assim, achei que outros jovens também gostariam de conhecer Pedro Bala correndo na praia. Foi aí que decidi fazer o filme", conta.

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Cecília Amado

O filme em questão, Capitães da Areia, abriu nesta quarta-feira o Festival do Cinema Brasileiro em Paris, e foi exibido na França pela primeira vez. No palco, Cecília se emocionou ao lembrar do avô, diante da plateia formada em grande parte por franceses. Chamou a mãe, Paloma Amado, e lembrou que Jorge Amado, membro do Partido Comunista, ficaria satisfeito em saber que a esquerda havia retomado o poder na França, com a vitória de François Hollande, do  Partido Socialista. "Não só pelo fato de ser a esquerda", explica Cecília. "É um tipo de pensamento. A gente esteve na França em um período de transição, no governo Chirac…Acredito que ele estaria bem aliviado. Ele tinha grandes amigos na França e a esperança de que o país recebesse melhor os imigrantes, os africanos, que houvesse uma conciliação", diz.

Adolescência na França

A cineasta viveu na França dos 13 aos 17 anos. A adaptação foi um pouco difícil, mas a experiêcia, marcante. "Estudei em duas escolas, uma juventude inserida na juventude francesa. Como eu era muito brasileira, na época tinha um monte de lugares onde eu gostaria de estar, menos na França. São culturas muito diferentes, mas aprendi muito." A convivência com o avô é uma das lembranças mais vivas para Cecília nos quatro anos passados na capital francesa. Ela conta que testemunhou o processo de criação de vários livros, entre eles Tocaia Grande, Navegação de Cabotagem ou ainda O Sumiço da Santa. "Acompanhei a escrita, e me lembro que ele lia os originais em voz alta. Eu me lembro da cadência da voz dele lendo, muito emocionante. Ele também era, tanto na Bahia quanto aqui, um 'trocador' de histórias, ele gostava de ouvir e contar histórias."

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Cecília Amado

Em suas caminhadas no Marais, bairro onde morava, diz Cecília o fruteiro, o padeiro, e todas as pessoas que faziam parte de sua rotina inspiravam personagens. "Acompanhar meu avô nessas caminhadas diárias, me acrescentou muito, me ensinou a ouvir as pessoas, e também me ajudou a ouvir os capitães da areia para fazer o filme." A proximidade com o avô a deixou, diz, mais à vontade para recriar a história. "Eu me senti muito confortável. Primeiro porque o filme foi escrito por um Jorge Amado de 24 anos. Era um jovem, e eu conheci e convivi com ele a partir dos 70, até quase os 90, quando faleceu. Ele tinha um outro pensamento, mais humanista do que político. Isso me permitiu ser fiel ao meu Jorge, de me perguntar o que hoje ele falaria com essa história." Cecília confessa que não leu todos os livros do avô. "Acho que de certa forma é até bom, tenho um olhar para compreender alguns livros que talvez não tivesse há alguns anos atrás."

Contadora de histórias para a tela grande, a carreira de Cecília é promissora. O filme Capitães da Areia já foi exibido em diversos países, deve desembarcar em breve em Xangai, e agora a cineasta espera que ele seja comercializado na França. Cecília já tem outros projetos em mente : dois projetos de documentários na Bahia e um projeto de ficção autoral no Rio, chamado "30 Carnavais", ainda em fase de criação. A cineasta também pretende levar para o cinema outro livro do avô: "A Descoberta da América pelos Turcos", que está sendo reeditado na França pela editora Stock.

 

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