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Saúde em dia

Câncer de mama: prevenção personalizada evita stress e permite detecção precoce

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O câncer de mama é que o mais atinge as mulheres em todo o mundo, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde).  A estimativa é que uma a cada oito mulheres possa desenvolver a doença, a causa mais frequente de morte por câncer na população feminina.

Dr Paulo Roberto Alcântara
Dr Paulo Roberto Alcântara Arquivo Pessoal
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Há consenso na comunidade científica mundial sobre a importância do diagnóstico precoce – cerca de 90% dos tumores de mama são curáveis se descobertos no início. A questão é: quando e de que forma deve ser iniciado o rastreamento? No Brasil, o Ministério da Saúde e o INCA (Instituto Nacional do Câncer), recomendam a realização de mamografias anuais partir dos 50 anos – a França segue a mesma indicação, mas a cada dois anos. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica o exame aos 40 anos. A detecção precoce é fundamental, explica o mastologista Paulo Roberto Alcântara Filho, médico do renomado hospital Sírio Libanês, em São Paulo, mas o stress que envolve a realização dos exames também é tema de um grande debate entre especialistas.

“Quando se está fazendo o rastreamento, as mulheres muitas vezes são submetidas a um stress desnecessário. Não significa que ele não deva ser feito, pelo contrário, tem que ser feito, mas de uma forma bastante racional, porque muitas vezes você acaba trazendo um stress para a paciente que não é bem-vindo”, diz o mastologista, lembrando que a carga emocional é um fator de risco para esse e outros cânceres. A discussão sobre a idade ideal do início dos exames é frequentemente abordada pelos especialistas no Brasil e outros países, principalmente desenvolvidos. De acordo com o especialista brasileiro, ainda há muitas dificuldades em definir qual o melhor momento para iniciar as mamografias, que é comprovadamente o único exame que reduz a mortalidade pelo câncer de mama.

“Há muitos estudos mostrando que entre os 40 e 50 anos já se deve começar o rastreamento, porque nessa idade já existe uma incidência maior do câncer de mama. O grande problema nessa faixa etária entre 40 e 49 anos é que muitas dessas mulheres ainda têm ciclos menstruais, em fases ativas de menstruação. Ou seja, têm um estimulo hormonal mensal que faz com que as mamas sejam mais densas também. Isso dificulta muito o diagnóstico por mamografia”, detalha o médico brasileiro.  É relativamente comum por exemplo, encontrar nódulos que são, na maior parte dos casos, benignos.

Ao mesmo tempo, a detecção precoce de um tumor maligno salva vidas e permite que o tratamento seja menos radical, tanto do ponto de vista cirúrgico, como da necessidade de Quimioterapia, ressalta. A mamografia não é recomendada antes dos 30 anos. Geralmente os ginecologistas e mastologistas acabam fazendo ultrassom de mamas em mulheres mais jovens, apesar de não ser um exame de rastreamento. "Recebo muitas pacientes que fizeram mamografia entre 20-30 anos, mesmo não tendo qualquer risco aumentado por questão hereditária. São exames mal indicados mesmo. Mais importante é a mulher se conhecer desde jovem e receber uma primeira orientação médica. Certamente detectaríamos mulheres que poderiam iniciar métodos de rastreamento personalizados para sua idade e seu risco familiar", ressalta o mastologista brasileiro.

A Medicina deve ser, desta forma, cada vez mais personalizada, apesar do estabelecimento de diretrizes para o rastreamento populacional ser fundamental. É essencial identificar pacientes, por exemplo, que possuam uma mutação genética específica, que aumenta as chances de desenvolver um câncer de mama ainda jovem - na maioria das vezes antes mesmo da idade de rastreamento preconizada para a população geral. São situações raras, mas essas pacientes precisam de um monitoramento frequente e precoce. “Muitas vezes essas pacientes só são identificadas quando já estão doentes”, lamenta Paulo Alcântara. Esses casos representam apenas entre 8 e 10% dos diagnósticos, mas o acompanhamento deve ser iniciado entre 20 e 30 anos.

Para a presidente da associação francesa Cancerdusein.org, Sandrine Fauchon, uma das mais importantes do país, as mulheres devem se habituar a se apalpar e mostrar os seios para os médicos uma vez por ano desde cedo, independentemente da realização de uma mamografia. "As mulheres têm o hábito de fazer um Papanicolau todos os anos, mas esse reflexo infelizmente não existe com o câncer do seio", diz. A precocidade no diagnóstico é a única maneira de obter a cura. A associação também financia a pesquisa, com bolsas de estudo, e diferentes prêmios que estimulam a melhoria na qualidade de vida das pacientes, sejam elas estéticas ou no dia a dia.

Enquanto na França qualquer mulher se beneficia com facilidades dos exames preventivos, no Brasil a Sociedade Brasileira de Mastologia identificou um problema público para o rastreamento do câncer de mama. “Por incrível que pareça, o país possui 5.500 mamógrafos. Segundo o Ministério da Saúde, é necessário um mamógrafo para cada 240 mil pessoas. Ou seja, em uma população de cerca de 200 milhões de pessoas, sendo que nem todas são mulheres, seriam necessários 800 mamógrafos distribuídos pelo país”, diz o mastologista Paulo Alcântara.

De acordo com ele, sobram equipamentos mas, em vários estados, eles não são utilizados corretamente ou são desperdiçados: muitos estão quebrados ou nem saíram das caixas. Além disso, há concentração nos grandes centros, como é o caso do Estado de São Paulo. “O problema não é a falta do exame, mas o acesso a ele”, ressalta. As mulheres sabem que devem fazer a mamografia, mas muitas vezes o deslocamento e a espera as desestimulam", diz.

Por que esse é o câncer que mais atinge as mulheres?

A razão pela qual essa doença atinge tanto as mulheres ainda é um mistério. “Não se sabe ao certo porque as mulheres são mais acometidas pelo câncer de mama em relação a outros órgãos, mas existem fatores ligados ao sexo feminino que predispõem à doença. A mulher é exposta ao longo da vida a ciclos menstruais que acabam sendo estímulos hormonais ao longo da vida. Isso é um fator de risco maior – algo que o homem por exemplo não tem”, explica. Também há a questão da obesidade, alimentação, gravidez tardia, além, mais uma vez, do stress. “Hoje em dia as mulheres engravidam mais tarde e são submetidas a um stress maior por conta de uma participação muito mais eficaz na sociedade, em comparação a gerações anteriores”, avalia.

Cada diagnóstico revela uma história

A cantora francesa Fabi Perier descobriu em 2008 que tinha um câncer de mama. Desde então ela luta conta o tumor, que se espalhou para outros órgãos. “Infelizmente, em alguns casos, sabemos que não haverá cura. Isso é o que chamamos de câncer crônico”, explica. Hoje, para sensibilizar as mulheres sobre a importância da prevenção, ela participa ativamente de campanhas e também denuncia a falta de ajuda para pessoas que devem batalhar pelo seu sustento no cotidiano enquanto lutam contra uma doença grave.

Isabelle Guyomarch dirigente de uma empresa de cosméticos, descobriu há cinco anos que tinha a doença. Para falar sobre sua experiência, ela escreveu o livro “Combatente”. “É uma prova que te dá uma percepção da vida e de seu imediatismo. Você sente necessidade de viver intensamente e isso provoca uma certa inveja nas pessoas, essa capacidade de relativizar as coisas. Ao mesmo tempo, só nos sentimos de fato curadas quando conseguimos pensar no futuro”, diz.

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