França: associação alerta para risco de produtos de limpeza para saúde
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A associação francesa “60 milhões de consumidores” analisou as substâncias de 108 produtos vendidos na França e criou um ranking dos mais nocivos para a saúde e o meio-ambiente. Seus representantes defendem a criação de um selo, similar ao usado na indústria alimentícia, para guiar a população na hora das compras.
Todo mundo adora ver a casa brilhando, mas as moléculas utilizadas para limpar móveis, pisos, azulejos, lavar roupa, louça ou matar insetos representam um perigo real para a saúde. Em sua análise, a associação detectou sulfatos, disruptores endócrinos, substâncias irritantes e potencialmente cancerígenas. O mais grave é que as etiquetas não indicavam com precisão a presença dessas moléculas e muitas das questões enviadas aos fabricantes, incluindo marcas orgânicas, ficaram sem resposta.
O engenheiro do Instituto Nacional do Consumo, Emmanuel Chevalier, participou do estudo e resumiu a gravidade da situação em uma entrevista concedida ao canal francês BFMTV. “Em todos os produtos encontramos conservantes que consideramos problemáticos, substâncias que podem provocar alergias presentes nos perfumes e nocivas para a saúde e o meio-ambiente”, reitera.
A recomendação geral é evitar lenços umedecidos e sprays usados para limpar a cozinha e o banheiro. Produtos que fazem muita espuma também deve ser banidos: os fabricantes sabem que o consumidor os associam à casa limpa e adicionam espumantes nos detergentes. Mas, na realidade, eles dificultam a remoção da sujeira porque são difíceis de serem removidos, mesmo depois do enxágue. Além disso, podem estragar as engrenagens dos eletrodomésticos. A espuma também dificulta a oxigenação da agua quando atinge oceanos, por exemplo.
Sprays de limpeza podem prejudicar tanto quanto cigarro
O uso constante de produtos de limpeza em spray leva à inalação de agentes químicos, como o cloro, por exemplo, e irrita as vias respiratórias. Uma pesquisa publicada em 2018 pela Universidade de Bergen, na Noruega, mostrou que a utilização prolongada – entre 10 e 20 anos- é comparável a 20 cigarros por dia. Os pesquisadores acompanharam um grupo de 6.230 pessoas e concluíram que as partículas utilizadas em boa parte do aerossóis alteraram a capacidade pulmonar dos participantes, principalmente profissionais da limpeza.
Pessoas predispostas também podem desencadear doenças cardiovasculares e pulmonares se expostas a tais substâncias, explicou em entrevista à RFI Brasil o pneumologista francês Franck Soyez, que atua no hospital de Antony, na região parisiense.
“Existem pessoas frágeis à chamada poluição interior. São as crianças, as pessoas idosas e as mulheres gravidas, de uma maneira geral. Indivíduos com doenças pulmonares crônicas, também serão mais sensíveis à exposição”, explica. Ele também lembra que as partículas químicas podem favorecer o aparecimento de doenças e piorar uma patologia cardíaca já existente. “Passamos 80% do tempo dentro de casa e 20% na rua. Então a poluição interna é algo importante, que deve ser levado em consideração”, observa.
De acordo com ele, os produtos mais nefastos para o pulmão são os de combustão, que emitem dióxido de carbono e derivados do azoto. Além do cigarro, naturalmente, o incenso, por exemplo, entra nessa categoria. Nos produtos de limpeza, lembra o especialista francês, há ainda os chamados componentes orgânicos voláteis – como os formaldeídos. “Essa substância está em toda parte: nos detergentes, sabão em pó, produtos de limpeza em geral, moveis, colas, pinturas, solventes, lenços umedecidos, desodorantes e cosméticos. Os formaldeídos irritam muito os brônquios”, alerta.
Óleos essenciais usados na limpeza também podem gerar uma reação inflamatória nas vias respiratórias e devem ser evitados. Algumas medidas simples, exemplifica o especialista, também ajudam a diminuir a poluição interior: retirar a poeira com um pedaço de tecido umedecido, arejar a casa diariamente e privilegiar produtos naturais, como o vinagre branco, o bicarbonato de sódio ou ainda o sabão negro.
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