Pesquisador francês cria teste que prevê recaídas e sobrevida de pacientes com câncer do cólon
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O Immunoscore, desenvolvido pelo imunologista Jérôme Galon, é eficaz para identificar riscos de metástases após a cirurgia, mas também indica se um tratamento pode funcionar ou não no combate à doença.
A invenção do cientista francês foi apresentada durante a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em Chicago, nos Estados Unidos. O encontro, que aconteceu entre os dias 31 de maio e 4 de junho, trouxe as últimas descobertas nos tratamentos contra o câncer.
O teste Immunoscore® foi uma das novidades deste ano e seu uso já foi aprovado na Europa e nos Estados Unidos. Em breve, ele poderá chegar à América Latina e outros países, embora já exista a possibilidade de enviar amostras para análise aos estabelecimentos americanos.
Resultado de quase 15 anos de pesquisas, o teste consegue prever o sucesso de uma quimioterapia e sua duração – três ou seis meses por exemplo. A nova ferramenta se baseia na medida da reação imunológica de pacientes com câncer. Para isso, um aparelho ultrassom sofisticado digitaliza as imagens de duas amostras extras do tumor recolhidas durante a cirurgia para realizar a biópsia.
Em seguida, as lâminas são escaneadas e um programa de computador conta o número de células citotóxicas T, responsáveis pela destruição das células cancerígenas. Quanto maior o número dessas células T, maiores são as chances de sobrevivência do paciente.
O programa calcula uma probabilidade baseada na quantidade de células positivas encontradas no tumor. Pela primeira vez na história do combate à doença, os oncologistas podem ter uma ideia exata da gravidade do câncer, do risco de recidiva e morte nas diferentes etapas do tratamento.
O uso do Immunoscore, por enquanto, foi aprovado especificamente para os tumores malignos colorretais – a precisão do teste é de 95% para medir a probabilidade de sobrevivência. Ele também reduz o uso de medicação extremamente tóxica para pacientes com baixo risco, os preservando de diversos efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, dores, perda de cabelo, cansaço e mal-estar generalizado.
Em entrevista à RFI Brasil, o pesquisador francês contou que, quando iniciou seus estudos, existia pouco interesse em relação à imunologia do câncer. “Mostramos desde 2005 o papel essencial do sistema imunológico na doença”, diz. “Demonstramos, pela primeira vez, sobretudo em nosso artigo publicado na revista Science, em 2010, que a progressão de um câncer, as invasões e a metástase dependem das reações imunitárias, especialmente dos linfócitos T, ou linfócitos T citotóxicos, presentes em locais específicos dentro do tumor”, completou.
No ano passado, a revista The Lancet, uma referência no meio médico, publicou um artigo considerado como a validação internacional do Immunoscore, que hoje tem o consenso de toda a comunidade cientifica e é superior a todos os testes atualmente disponíveis. Os estudos internacionais que levaram a essa conclusão envolveram mais de 2.500 pacientes.
“É uma outra visão do câncer", explica o pesquisador francês. Hoje, os testes disponíveis nas clínicas medemas células tumorais. Esta é a primeira vez que temos uma ferramenta que não mede as células tumorais, mas o sistema imunológico do paciente e sua resposta imunitária capaz de combater essas células”, reitera.
Para viabilizar sua invenção no mercado, o pesquisador francês fundou a empresa HalioDx, em 2014. A companhia obteve financiamento e criou parcerias com diversos distribuidores de produtos médicos para poder em breve disponibilizar e distribuir a invenção para pacientes em todo o mundo.
O feito do especialista francês, diretor de pesquisa do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França) também rendeu uma indicação do prêmio “Invento Europeu 2019”, um dos mais importantes do continente. O cientista foi indicado como um dos três finalistas da premiação, que acontece nesta terça-feira (18).
Predição de outros cânceres
Durante os estudos coordenados por Jérome Galon e no processo de validação internacional, o Immunoscore foi testado no câncer colorretal. O cientista explica que sua equipe estuda agora seu uso em outros tipos de tumores, já que todos contêm as células T citotóxicas.
“O teste pode provavelmente ser aplicado em vários tipos de câncer. Ainda não há nada publicado a respeito, os estudos estão sendo feitos, mas achamos que ele pode ser proposto em outros tipos de câncer”, conclui. Uma nova esperança para o tratamento dessa doença que, em 2018, matou cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo.
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