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Saúde em dia

Em livro, psicoterapeuta francesa ensina a aliviar dor crônica

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Psicoterapeuta desde 2003, a francesa Nancy Sebe atende há 16 anos pacientes que sofrem de dores provocadas por doenças crônicas. Entre elas, a Fibromialgia, a Enxaqueca, lombalgias ou patologias digestivas graves. Sua experiência acaba de se transformar em um livro, “Se libérer de la douleur chronique”, ou “Libertando-se da dor crônica” em tradução livre.

A psicoterapeuta Nancy Sèbe no hospital de Lodève, onde trabalha, no sul da França
A psicoterapeuta Nancy Sèbe no hospital de Lodève, onde trabalha, no sul da França (Foto:Divulgação)
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A obra acaba de chegar às livrarias na França e traz depoimentos de pacientes e a descrição dos métodos utilizados para diminuir o incômodo no cotidiano. Além disso, traz dicas simples, como massagens cranianas, que podem ser praticadas pelo próprio paciente em casa para aliviar suas sensações dolorosas.

Nancy trabalha no Hospital de Lodève, perto de Montpellier, no sul da França, uma das centenas de centros públicos especializados em dor crônica do pais. Ela também recebe seus pacientes em seu consultório, criando um programa específico para cada caso, que envolve técnicas como a hipnose, por exemplo.

A psicoterapeuta utiliza sua própria experiência na sua rotina. Ela mesma sofre de Linfedema na perna esquerda, um acumulo de linfa nos tecidos do corpo que pode causar infecções e fibrose. Uma experiência pessoal que enriquece sua troca com seus pacientes, garante.

“Quando a dor surge dentro de você, torna-se impossível interpretar essa sensação da mesma maneira. Existe tudo aquilo que aprendemos nos livros e aquilo que vivemos. Tem dias que a dor aparece e outros não. É importante compreender, quando temos esse mal-estar crônico, que seremos obrigados a abandonar várias atividades, mas ao mesmo teremos a ocasião de descobrir coisas novas”, explica.

Não existem testes para medir a intensidade exata da dor, que é sempre subjetiva. Ela tem uma função no organismo: trata-se de um sinal de alarme desencadeado pelo cérebro para proteger os animais. Sem a dor de um ferimento, por exemplo, os animais poderiam se ferir mortalmente sem se dar conta.

Quando perde essa finalidade primária e ancestral, a dor se transforma em uma patologia. Para que ela seja crônica, deve persistir por mais de três meses, interferir nas atividades cotidianas, na vida pessoal e profissional.

A incompreensão das pessoas que cercam os doentes é comum e acrescenta novas tensões ao dia-a-dia que já é complexo. Isso porque eles convivem com um mal que não coloca suas vidas em risco, pelo menos a curto prazo, mas não são “como todo mundo”, diz Nancy.

“Por que há dias em que a pessoa está bem e no dia seguinte, às vezes algumas horas depois, ela precisa se deitar, por exemplo? Para quem está de fora deste mundo da dor, parece totalmente sem sentido. Há dificuldade em entender e minimizar esse universo”, diz.

Em seu consultório, Nancy atende pessoas que sofrem e muitas, inclusive, nem sabe o que têm. “Várias não são diagnosticadas, mas isso não significa que não tenham nada ou estejam fingindo. É importante que tenham seu sofrimento reconhecido”, ressalta. Médicos, família, amigos e colegas de trabalho em geral têm dificuldades de gerenciar a dor crônica alheia, ressalta, que é vista como um “exagero.”

Disciplina diária e terapias individuais

Em seu livro, a psicoterapeuta francesa também descreve as diversas terapias utilizadas para aliviar a dor – que muitas vezes não cede com os medicamentos disponíveis, como a cortisona e a derivados da morfina, por exemplo. Essas moléculas, ainda que úteis, também geram inúmeros efeitos colaterais.

De acordo com Nancy Sebe, o trabalho realizado em seu consultório e no hospital é fazer com que o paciente aceite sua condição e “aprenda a inventar uma nova vida com seu corpo em sofrimento.” Segundo ela, a ideia é que o paciente avance e pare de se enxergar como vítima da situação.

Além da hipnose, a profissional francesa utiliza a EFT, técnica que utiliza os pontos energéticos da Medicina chinesa. Através de pressões manuais, o terapeuta atinge meridianos que atuam nas reações emocionais negativas, como medo ou stress. O arsenal terapêutico contra a dor também inclui a Yoga direcionada, com movimentos adaptados às limitações, e a meditação. Programas que podem ser adaptados e modificados em função dos resultados, lembra Nancy.

“A doença crônica nunca é desencadeada por apenas um fator. É um conjunto de fatores que vai criar um sistema em nosso organismo em função da patologia. Para mim, a solução só pode ser multifatorial”. Melhorar a vida desses pacientes depende, diz, de um trabalho coletivo. “Se não houvesse resultado eu estaria fazendo outra coisa.” O importante é que a pessoa se sinta confortável em seu cotidiano, reitera.

Histórias pessoais

O livro de Nancy Sebe traz depoimentos de diversos pacientes. Um delas é Leticia, 52 anos, que sofre de Fibromialgia, associada a uma depressão. Por conta de seu estado de saúde, que não melhorou com os remédios, ela abandonou a vida profissional.

Seus problemas físicos estavam também associados ao stress vivido na infância – ela foi vítima de abusos sexuais. A psicoterapeuta indicou a hipnose, técnicas variadas de Yoga e até o tricô, uma terapia manual eficaz em seu caso. Hoje a paciente está melhor e mais equilibrada.

Outra técnica utilizada foi a coerência cardíaca. Trata-se de uma série de exercícios diários que permitem regular o nervo vago e a secreção de cortisol, o chamado hormônio do stress, corticosteróide produzido no córtex cerebral. O nervo vago, que vai do cérebro até o abdômen, é fundamental para a frequência cardíaca e a respiração.

A especialista francesa também se lembra do caso de uma jovem com problemas digestivos que desenvolveu um medo patológico e abandonou até mesmo a faculdade. “Todas as histórias de família em torno de sua doença criaram angústias, que acabaram desaparecendo com as ferramentas terapêuticas que ela passou a utilizar”, conta. Hoje a estudante vive normalmente, mesmo sabendo que terá que conviver o resto da vida com seu mal.

“Muitas coisas, infelizmente, não podemos mudar. Elas aconteceram e continuam a poluir nosso cotidiano. Não podemos mudar isso. Nem eu, nem você e nem ninguém. Não podemos mudar o passado”, diz a psicoterapeuta francesa.

“Com frequência, somos tentados a nos projetar no futuro. Isso provoca muita ansiedade e angústia. A ideia é trabalhar o presente. Isso é difícil quando sentimos dor, não queremos estar no momento presente porque estamos sofrendo. E quanto mais sofremos, mais resistimos a esse sofrimento. Assim ele vai durar ainda mais tempo”, conclui.

 

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