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Saúde em dia

França: cientista aprimora novo método para tratar dores crônicas

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Doenças como a Fibromialgia podem ser aliviadas com novas técnicas, como a chamada estimulação magnética transcraniana

A pesquisadora Frédérique Pointdessous-Jazat em seu escritorio no hospital Ambroise Paré, em Boulogne
A pesquisadora Frédérique Pointdessous-Jazat em seu escritorio no hospital Ambroise Paré, em Boulogne (Foto: Taissa Stivanin/RFI Brasil)
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A dor é uma sensação que nos faz sentir vivos, como um sinal de alerta. Sem ela, seria impossível para o homem se proteger do perigo. Esta experiência sensorial é variável em função de cada organismo e pode ser mais ou menos intensa dependendo do estado emocional.

“Todo mundo sente dor, mas não da mesma maneira”, explica Frédérique Poindessous-Jazat, engenheira do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, especialista em neurociências e da avaliação da dor no Hospital Ambroise Paré, em Boulogne, perto de Paris. “Existe a questão cultural. As mulheres, por exemplo, vão assumir mais facilmente que sentem dor em relação aos homens, que tradicionalmente cresceram ouvindo que menino não chora”, diz. As diferenças hormonais também não favorecem o sexo feminino e podem exacerbar certas sensações dolorosas, observa.

No hospital, a pesquisadora testa de maneira objetiva a tolerância à dor nos pacientes e também a sensibilidade ao frio e ao calor, que podem indicar a existência de doenças. Durante a reportagem, Frédérique mostrou à reportagem da RFI como os testes são realizados, utilizando agulhas e outros equipamentos ligados a um programa de computador que medirá essa sensação.

Fisiologicamente, lembra a pesquisadora, há também pessoas mais ou menos resistentes. O stress e até mesmo clima também influenciam essa sensação. “Quando o dia está cinzento e brigamos com alguém, a dor pode parecer mais intensa”, resume. Ela também pode ser crônica ou aguda. “A sensação dolorosa é indispensável, é um alarme. Mas no caso de certas patologias, é uma disfunção, porque o alarme soa o tempo todo.”

Estimulação magnética

Para algumas doenças, existem novas alternativas de tratamento contra a dor. Uma delas, explica Frédérique, é a técnica conhecida como rTMS (estimulação magnética transcraniana), disponível no setor do hospital onde a cientista trabalha. O dispositivo alivia as chamadas dores neuropáticas, às vezes sem necessidade de usar medicamentos.

“A ideia é usar ondas eletromagnéticas, que passam através da pele do crânio, do próprio crânio e das meninges e atingem o córtex motor. As ondas vão estimular fibras nervosas que vão levar ao tálamo e aos outros córtex, interferindo na mensagem dolorosa periférica e ativando uma rede inibidora de neurônios e a secreção de endomorfina”, explica. A endomorfina é uma substância endógena, ou seja, produzida pelo próprio corpo, que atua contra a dor. De forma geral, a estimulação educa as redes neuronais, atenuando a sensação dolorosa.

A engenheira aplica a técnica há cerca de oito anos em pacientes com doenças variadas de origem neuropática, resultantes de lesões nervosas. Nesta lista estão incluídas patologias como a Fibromialgia, que causa dores musculares difusas, e até problemas mais simples mas não menos dolorosos, como hérnias na coluna, por exemplo.

Computador usado pelo robô simula imagens em 3D
Computador usado pelo robô simula imagens em 3D (Foto: Taissa Stivanin/RFI Brasil)

A especialista francesa agora está testando o dispositivo nas dores neuropáticas centrais, que envolvem o cérebro e a medula espinhal. “Não vamos necessariamente evitar os medicamentos, mas há pacientes que não suportam certos remédios e podem testar essa terapia. Podemos também utilizar os dois ao mesmo tempo", diz. No total, cerca de 300 pacientes já foram beneficiados.

Robô francês

A engenheira francesa também mostrou à RFI como funciona o robô utilizado na estimulação magnética, produzido por uma empresa de Strasburgo, no leste do país. Depois de introduzir as imagens do cérebro do paciente em 3D no equipamento um neuronavigador, vai indicar ao robô o local exato onde será colocado o aparelho que vai emitir as ondas. A bobina metálica, aplicada no couro cabeludo do paciente, transmitirá uma “impulsão eletromagnética”, que vai gerar um choque elétrico modificando a atividade cerebral.

Em seu protocolo de pesquisa, a cientista explica que a frequência da estimulação deve ser superior a 5 hertz. “Fazemos uma pausa de 20 segundos e depois recomeçamos. Isso será feito 30 vezes.” Nos pacientes, esse número cai para 15 vezes, com pausa de 50 segundos. A estimulação dura, em geral, 15 minutos. A ideia é que, em breve, outros pacientes possam beneficiar da técnica, que revoluciona o tratamento de certos tipos de dor.

Cientista francesa mostra robô que aplica a estimulação magnética nos pacientes
Cientista francesa mostra robô que aplica a estimulação magnética nos pacientes (Foto: Taissa Stivanin/RFI Brasil)

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