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Saúde em dia

Pesquisadores franceses criam nanomedicamento revolucionário contra a dor

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Descoberta surge como uma alternativa à morfina em casos de uso prolongado, sem o risco dos efeitos colaterais. Os nanomedicamentos são moléculas ativas inseridas em uma cápsula ou vetor, cerca de 50 mil vezes menor do que um fio de cabelo.

Imagem mostra que nanomedicamento contra a dor desenvolvido pela equipe francesa se concentra na pata do rato e não se espalha pelo organismo.
Imagem mostra que nanomedicamento contra a dor desenvolvido pela equipe francesa se concentra na pata do rato e não se espalha pelo organismo. (Foto: Divulgação/Patrick Couvreur)
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Esses "mísseis" orgânicos, capazes de atingir com exatidão a área do corpo onde está localizada a inflamação, começam a revolucionar a farmacologia. A equipe do renomado professor de farmácia francês Patrick Couvreur, que tem uma cátedra na universidade de Paris-Saclay, acaba de fazer uma descoberta que pode revolucionar o tratamento da dor.

O grupo de pesquisadores conseguiu usar neuropeptídeos, mediadores químicos presentes no cérebro, para tratar e neutralizar a sensação dolorosa. "A ideia que tivemos foi utilizar um peptídeo natural, a leucina-encefalina, que é uma endorfina. As endorfinas são sintetizadas pelas células cerebrais para diminuir a dor", explica.

O feito da equipe foi associar a leucina-encefalina e o esqualeno, um composto orgânico, que envolve endorfina. A molécula é "encapsulada" e as duas substâncias formam, naturalmente, uma estrutura única através de um quebra-cabeças químico complexo. O importante é o resultado: a aplicação da nanopartícula, testada em patas de ratos, acabou com a dor sem invadir os órgãos vizinhos. "As nanopartículas vão agir nos receptores periféricos", afirma Couvreur. O nanomedicamento foi administrado nos animais por via intravenosa.

Hoje, uma das únicas opções para aliviar o sofrimento de pacientes com doenças graves é a morfina, um opiáceo que gera dependência e exige doses cada vez mais fortes para ter o efeito desejado. Isso porque a substância entra nos tecidos e se espalha no organismo.

O nanomedicamento contra a dor criado pela equipe do professor francês age apenas no sistema periférico e tem essa grande vantagem: vai direto ao alvo, como um "míssil" teleguiado, preservando os órgãos sadios. "Essa nanotecnologia vai ser capaz de modificar a biodistribuição do medicamento, de liberá-lo no lugar certo e na hora certa", explica o cientista francês.

 

Nos órgãos sadios, diz, as paredes dos vasos (artérias, veias e capilares) são impermeáveis e não há buracos entre as células. Por outro lado, se existe uma reação inflamatória, células conhecidas como macrófagos vão liberar as chamadas citocinas, moléculas que emitem sinais entre as células durante o desencadeamento de respostas do sistema imunológico.

É isso que acontece no corpo quando o paciente sente dor, tem um câncer ou uma doença infecciosa. “Na área inflamada, a parede dos vasos é bem mais permeável. O nanomedicamento poderá, desta forma, difundir a substância de maneira seletiva, apenas onde existe inflamação.”

Uso da morfina aumenta com envelhecimento da população

O tratamento da dor, destaca o professor francês, é um desafio para a sociedade, principalmente nos países onde a esperança de vida aumenta, e com ela as doenças ligadas ao envelhecimento. Hoje, a morfina e seus derivados são a primeira opção para tratar a dor provocada por diversas patologias crônicas.

O especialista lembra que os opiáceos são essenciais para gerenciar dores insuportáveis e o nanomedicamento desenvolvido por sua equipe não visa substituí-los em casos extremos.

“O problema é quando quando você administra essas moléculas de maneira repetitiva. Os opiáceos e seus derivados, como a morfina, agem em receptores no cérebro porque ultrapassam a barreira hematoencefálica. Daí surgem os efeitos ligados ao sistema nervoso central, de dependência, tolerância e até insuficiência respiratória."

O surgimento de novos tratamentos contra a dor não significa que a morfina deve deixar de ser uma alternativa terapêutica. “Em pacientes com um câncer terminal, é evidente que utilizar a morfina e seus derivados não cria nenhum problema, já que esses pacientes terão uma sobrevida de alguns meses ou no máximo um ou dois anos”, diz.

Financiamento

O próximo passo agora é dar continuidade às pesquisas e obter o financiamento das novas etapas, explica o professor Couvreur. É preciso avaliar a toxicidade da molécula em duas espécies animais e determinar a quantidade de produto necessária para preparar um lote de testes clínicos em humanos.

Para isso, calcula o especialista, seria necessário um fundo de pelo menos € 3,5 milhões, além dos recursos já obtidos no European Research Council, organismo europeu de incentivo à pesquisa. Uma das opções é a criação de uma start-up baseada nos Estados Unidos, onde o abuso dos opiáceos como a morfina mata cerca de 130 pessoas por dia.

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