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Governo italiano quer acabar com vacinação obrigatória em meio a surto de sarampo

O jornal francês Le Monde deu destaque nesta segunda-feira (27) ao projeto do partido Movimento 5 Estrelas, antissistema, e da Liga, de extrema-direita, de acabar com a legislação existente na Itália e retirar a obrigação de vacinar as crianças contra o sarampo. Uma emenda, validada pelo Senado em julho, deve ser examinada pelos deputados em setembro – deixando diretores de escola, médicos e pais num conflito sem fim.

Governo italiano quer acabar com vacinação obrigatória
Governo italiano quer acabar com vacinação obrigatória TEK IMAGE via Getty Images
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“Não podemos nos iludir e pensar que ninguém morrerá”, afirmou Giulia Grillo, ministra da Saúde do Movimento 5 Estrelas, que faz parte do time dos que querem honrar a promessa de acabar com a obrigatoriedade das vacinas. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Itália faz parte dos cinco países com alto risco de infecção, junto com o Paquistão, o Afeganistão, a Nigéria e a Romênia. Nós tivemos 5.000 casos de sarampo em 2017”, explica o presidente da Sociedade Italiana de Pediatria, Alberto Villani.

A batalha teve início em julho de 2017, quando, após um aumento de casos de sarampo, a lei Lorenzin entrou em vigor e introduziu dez vacinas obrigatórias e gratuitas às crianças de 0 a 16 anos. Desde então, os pais que querem fazer a inscrição dos filhos nas creches e escolas maternais devem apresentar um certificado de uma Unidade Sanitária Local. Já os responsáveis por alunos do ensino fundamental e médio podem ser multados em até € 500 caso falte alguma dose.

“A vacinação deve ser uma escolha livre, não uma imposição soviética”, disse o chefe da Liga, Matteo Salvini, na época. “Não quero que multinacionais ou farmácias façam da Itália um país cobaia”. Atualmente ministro do Interior, Salvini agredeceu a dois médicos pela “coragem” de reunir fundos para provar a presença de nanopartículas nocivas nas vacinas, como explica a repórter Margherita Nasi.

“Internet não contribui ao debate”

Desde o 5 de julho, uma circular assinada pelos ministro da Saúde e da Educação estipula que a atestação médica de vacinação, instaurada pela lei Lorenzi, não é mais obrigatória e que um certificado assinado pelos pais é suficiente.

Mas a Associação Nacional dos Diretores de Escola (ANDE) afirma que a circular não modifica a legislação de 2017. “Em setembro, as crianças sem certificado não poderão entrar na sala de aula. Os diretores terão que respeitar a lei e a lei em vigor é a Lorenzin”, afirmou o presidente da ANDE. As crianças permanecem, portanto, no meio do cabo de guerra político e científico.

O Movimento 5 Estrelas e a Liga preparam nesse momento uma legislação “pós-Lorenzin”, de acordo com a reportagem do Monde. Os dois partidos depositaram no Senado um projeto de lei que prevê a “obrigatoriedade flexível”: um recurso em que a vacinação seria acionada apenas em caso de urgência sanitária. O que, para a comunidade científica, não faz sentido nenhum.

“Desde 2012, os italianos têm cada menos confiança nas vacinas, e as ‘fake news’ que circulam na internet não ajudaram em nada”, analisa Pierluigi Lopalco, coautor do estudo “Human Vaccines and Immunotherapeutics”. Segundo sua pesquisa, menos de 2% dos pais não confiam nas vacinas e entre 10% e 15% estão em dúvida. Mas é quando eles fazem pesquisas na internet que se tornam completamente  contra a vacinação. “A vacina existe para criar uma reação imunitária positiva, não se trata de uma arma ideológica”, afirma o médico.

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