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Saúde em dia

França: campanha com fotos sensuais divulga tratamento para evitar contaminação do HIV

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A associação francesa Aides lançou, no início de julho, a campanha Prep 4 Love ("Preparado para o amor"). O objetivo é distribuir, para grupos considerados de risco, um medicamento que bloqueia a transmissão do vírus HIV caso haja contato com uma pessoa contaminada.

Campanha da associação francesa Aides para o uso do medicamento que previne a transmissão do HIV
Campanha da associação francesa Aides para o uso do medicamento que previne a transmissão do HIV (Foto: Reuters)
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A campanha da associação francesa traz fotos chamativas de casais homossexuais e heterossexuais, que podem ser vistas em cartazes espalhados pelas ruas e estações de metrô e ônibus de Paris. Inspirando-se em uma iniciativa similar realizada na cidade americana de Chicago, a Aides espera derrubar o tabu existente em torno do vírus e suas formas de transmissão. Mais de 36 milhões de pessoas são portadoras do HIV no mundo, segundo dados da ONU divulgados em 2016.

Respondendo a críticas sobre o teor das imagens usadas nos outdoors, a porta-voz da associação, Camille Spire, afirma que a ideia não é incitar o sexo sem camisinha, mas apresentar uma alternativa de proteção. “A mensagem deve ser clara e a reação é normal. Quando os preservativos começaram a ser distribuídos gratuitamente nos anos 80, as pessoas diziam que isso iria estimular a depravação”, exemplifica Camille.

O uso preventivo da molécula anti-HIV, que existe desde 2004, foi aprovado em 2012 pela FDA, a agência que regula remédios e alimentos nos EUA. Nessa época, os cientistas descobriram que o Truvada, nome comercial do medicamento, pode ser usado no cotidiano para bloquear a replicação do vírus em células saudáveis. Um comprimido por dia, como mostra campanha da associação francesa, é suficiente para impedir a infecção durante uma relação sexual com um soropositivo.

Atualmente, cerca de 7 mil pessoas utilizam a profilaxia na França, autorizada há 18 meses no país. “São muitas pessoas, mas o número não é suficiente para impactar a epidemia”, lembra Camille. Entre 300 e 400 novos pacientes aderem ao tratamento mensalmente.

O estudante francês Thibault Frayer, que utiliza o Truvada em função de sua atividade sexual
O estudante francês Thibault Frayer, que utiliza o Truvada em função de sua atividade sexual (Foto: Taissa Stivanin/RFI Brasil)

Aproximadamente 97% dos usuários são homossexuais, “bem inseridos socialmente” e preocupados com a saúde.Este é o caso do estudante francês Thibault Frayer, 28 anos,que aderiu ao uso do retroviral para prevenir contaminações. Ele começou a utilizar o medicamento há aproximadamente três anos, durante a participação de um estudo sobre a molécula.

Esta pesquisa, diz, validou a eficácia do uso eventual do remédio na prevenção. “Uso camisinha na maioria das minhas relações, mas sempre pode acontecer, com alguns parceiros, que ela seja esquecida, ou que nenhum dos dois tenha um preservativo na hora”, diz. Consciente do risco que ele corria e da ansiedade que isso podia gerar, Thibault, diz que se sentia “culpado” por manter relações sem proteção. Ele então optou pelo tratamento, que no seu caso, não é diário.

“Podemos tomar dois comprimidos de uma vez e duas horas depois a proteção é total. Mas também é possível prolongar essa proteção. Por exemplo, se eu tiro uma semana de férias pode acontecer um monte de coisa e vou tomar todos os dias. Mas se eu estiver trabalhando muito, por exemplo, sem tempo, neste caso eu não vou tomar o comprimido”, explica.

Menos de 1% das mulheres utilizam o método, lamenta a representante da associação francesa. “A recomendação do tratamento hoje é para homens que tenham relações sexuais com outros homens, pessoas que nasceram em países da Africa subsariana, profissionais do sexo e transsexuais”, explica. Camille Spire sublinha a importância do tratamento para mulheres cujos parceiros se recusam a usar o preservativo.

“A ideia não é “vamos todos parar de usar a camisinha e trocar pela Prep”. Não é nada disso. Mas na maioria dos casos, o comprimido é adotado pelas pessoas que não querem utilizar o preservativo, ou que o colocam às vezes, mas não o tempo todo”, explica. A porta-voz da Aides lembra que, por diversas razões, em algumas ocasiões a camisinha será esquecida durante uma relação. Por isso a existência de meios complementares de proteção é fundamental.

Acompanhamento

O comprimido que previne a infecção reúne dois retrovirais, o tenofovir e a emtricitabina para uma prevenção a longo prazo deve ser tomado diariamente, no mesmo horário. O uso medicamento não exclui a camisinha e o contraceptivo para evitar outras doenças sexualmente transmissíveis e uma gravidez indesejada.

Como toda substância, pode gerar efeitos colaterais. Por isso é importante um acompanhamento trimestral, que serve também para despistar outras doenças e verificar que o remédio vem sendo utilizado corretamente.

Para a representante da associação francesa, o que falta agora é mais abertura por parte da comunidade médica na adoção do dispositivo e investimento na orientação de certas categorias da população, como os transsexuais. Um estudo divulgado em 2016 mostra que o uso preventivo do retroviral poderia ter evitado 92% das novas contaminações.

 

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