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Planeta Verde

RFI visita a “Arca de Noé vegetal", o maior banco mundial de sementes na Noruega

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É num dos pontos mais ao norte do Ocidente que repousa um tesouro da humanidade: o Banco Mundial de Sementes, em Svalbard, na Noruega, completa 10 anos com um recorde a comemorar. A maior reserva de espécies vegetais do mundo inteiro, conhecida como “Arca de Noé”, ultrapassou a marca de 1 milhão de grãos armazenados, um estoque genético de segurança para o caso de catástrofes naturais, conflitos ou acidentes atingirem a diversidade de alimentos do planeta.

Entrada da montanha onde fica o Banco Mundial de Sementes de Svalbard.
Entrada da montanha onde fica o Banco Mundial de Sementes de Svalbard. © Lucile Gimberg / RFI
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É lá, em uma câmara fria a -18°C, que estão guardadas sob um forte esquema de segurança amostras da Austrália, do Marrocos, da Bolívia ou do Azerbaijão, entre tantos outros países. O túnel de acesso começa do lado de fora das montanhas e avança no interior da rocha, protegido por seis portas diferentes. Os repórteres da RFI Lucile Gimberg e Simon Rozé visitaram o local.

“Não usamos o material que está aqui cotidianamente. Trata-se de um back up das sementes que temos no mundo. Se alguma coisa der errado em algum lugar, a ideia é podermos vir aqui recuperar as mesmas amostras e plantar novas”, explica Marie Haga, diretora-executiva da Crop Trust Diversity Trust, entidade fundada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para proteger as espécies vegetais.

Sementes do mundo inteiro são estocadas em Svalbard.
Sementes do mundo inteiro são estocadas em Svalbard. Simon Rozé / RFI

Para celebrar os 10 anos da iniciativa, 23 bancos de sementes depositaram mais de 70 mil grãos de cultivo, como trigo, ervilha e milho. Fernando Ortega, pesquisador do Instituto de Estudos Agropecuários do Chile, e Ivan Matus, sub-diretor nacional de pesquisas, foram pessoalmente garantir a segunda entrega do seu país para o banco.

“Estou tremendamente emocionado. É uma experiência que planejamos por dois anos e estou muito contente pela oportunidade de estar aqui. Vamos colocar as sementes na sua caixa definitiva, onde ficarão armazenadas para as gerações futuras”, comenta Ortega. Eles levaram 120 variedades do cultivo de trigo, o mais importante do Chile. “Essas sementes variam entre as que tínhamos nos anos 1960 até as encontradas em 2017, ou seja, a riqueza genética que temos nessas sementes é muito relevante – não apenas para o Chile, como para a comunidade mundial, já que o trigo é cultivado em praticamente todo o mundo”, diz Matus.

Perda da diversidade agrícola

Marie Haga alerta para a perda das variedades produzidas nas últimas décadas, uma consequência das práticas agrícolas intensivas. Haga afirma que 75% dos vegetais consumidos no mundo vêm de apenas 12 espécies. A China não produz mais 90% das variedades de arroz que tinha nos anos 1950, enquanto o México deixou para trás 80% dos tipos de milho que cultivava, durante o último século.

Pesquisadores levam grãos para serem conservados no Banco Mundial de Sementes.
Pesquisadores levam grãos para serem conservados no Banco Mundial de Sementes. Junge, Heiko / NTB Scanpix / AFP

A diretora-executiva também observa que, com as mudanças do clima e a maior frequência de fenômenos extremos, como tufões e tsunamis, o Banco Mundial de Sementes é uma garantia de que os países poderão reencontrar as espécies de vegetais alimentares a que estavam habituados. Nos cinco continentes, a agricultura sofre os efeitos das alterações do clima.  

“Essa diversidade que temos aqui é realmente a base que precisamos para produzir as novas plantas. O principal problema para a produção, atualmente, é que as mudanças climáticas avançam rápido demais e as plantas não estão conseguindo se adaptar. Precisamos ajudá-las”, ressalta a ex-ministra norueguesa. “Por isso, precisamos de diversidade para chegarmos a plantas que suportem, por exemplo, altas temperaturas, ou uma alta concentração de sal no solo, ou que tenham uma capacidade maior de nutrição ou ainda possam enfrentar novas pestes e doenças.”

Síria é o primeiro país a recorrer às reservas

Além disso, a reserva acaba de comprovar a sua relevância em outras ocasiões, igualmente catastróficas: as guerras. O conflito na Síria destruiu a sede do Centro Internacional de Pesquisas Agrícolas em Zonas Aridas (Icarda) que ficava em Aleppo. Ahmed Amri, chefe de recursos genéticos do Icarda, contou com as sementes armazenadas na Noruega para repor as amostras perdidas. Foi a primeira vez que um país solicitou acesso às suas sementes guardadas.

“A solução mais fácil foi trazer as sementes de Svalbard. Começamos em 2015, quando retiramos 38 mil sementes de Svalbard. Nós as multiplicamos durante as duas últimas temporadas de plantio, no Marrocos e no Líbano, para podermos repor o nosso estoque de garantia”, relata. “Até agora, pudemos devolver 35 mil grãos para o banco.”

A cópia do estoque de Aleppo havia sido entregue à Svalbard na abertura do local, em 2008. Amri relata que jamais imaginou que as sementes seriam utilizadas tão cedo – a guerra na Síria estourou três anos depois, em 2011.

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