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Planeta Verde

Pesquisa: falta grave de água pode afetar Porto Alegre e Salvador até 2050

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A grave crise de abastecimento de água potável que afeta a África do Sul serve de alerta para o mundo inteiro, em especial os países do Sul. A pressão agrícola e industrial, as mudanças climáticas e o aumento do consumo urbano farão com que quase um terço das maiores cidades do planeta não disponham de toda a água que precisam em 2050, segundo um estudo realizado por cientistas da Universidade de Kassel, na Alemanha, e da organização americana The Nature Conservancy. Das 20 que terão maior deficiência de água no mundo nos próximos 32 anos, duas são brasileiras: Porto Alegre e Salvador.

Sul-africanos enchem garrafas de água na Cidade do Cabo, que enfrenta racionamento.
Sul-africanos enchem garrafas de água na Cidade do Cabo, que enfrenta racionamento. REUTERS/Mike Hutchings
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As capitais são citadas no caso de a prioridade dos governos seja fornecer o recurso para a agricultura e a indústria nas próximas décadas. O estudo, publicado na respeitada revista cientifica Nature, cruzou os dados de recursos de água nos centros urbanos de 482 cidades dos cinco continentes com estimativas da evolução do clima e de demanda de água, realizadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Três cenários foram avaliados: a água é prioritariamente fornecida para os cidadãos; para a agricultura e a indústria; ou a preferência é proteger os ecossistemas naturais, com um mínimo de alterações nos rios.

“Uns anos atrás, São Paulo teve uma grande seca, agora a Cidade do Cabo está tendo uma muito grave. O clima muda ano a ano. No caso de Porto Alegre e Salvador, pode significar que há outros grandes usuários de água da base de onde a cidade está tirando a sua água e que, no futuro, a tendência é que aumente ainda mais”, afirma Rob McDonald, coautor da pesquisa Concorrência de água entre cidades e agricultura impulsionada pela mudança climática e pelo crescimento urbano (Water competition between cities and agriculture driven by climate change and urban growth). “Uma parte importante do estudo é sobre o futuro e o impacto da agricultura e isso influenciou na posição dessas cidades no ranking.”

Explosão demográfica nas cidades

Comum nas áreas rurais, a falta de água nas cidades médias e grandes vai se intensificar cada vez mais, alerta a pesquisa. As áreas urbanas não param de crescer e vão receber 2 bilhões de pessoas a mais até 2030. Até o fim do século, 92% da população mundial vai viver num centro urbano, contra 54% hoje. Nesse contexto, o consumo doméstico de água já quadruplicou nos últimos 60 anos.

As reservas mundiais estavam ameaçadas antes mesmo de as mudanças climáticas se acentuarem, com os lençóis freáticos explorados além dos limites, a construção de barragens que cortam o ciclo entre os rios e o mar e a poluição desenfreada das águas doces. Com o aquecimento do planeta e o aumento da ocorrência de períodos de secas, o problema só tende a piorar mesmo em países como o Brasil, onde as reservas são abundantes hoje.

“Isso é algo que apareceu muito claramente na pesquisa. Como as pessoas consomem cada vez mais água e a agricultura também, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas fazem com que a oferta de água esteja menos disponível, esse problema vai piorar. Nós projetamos que, com os atuais sistemas de abastecimento, uma a cada quatro cidades terá falta de água no futuro”, alerta o pesquisador. “Certamente, há soluções, mas as cidades vão precisar pensar em como elas garantirão esse recurso para os seus cidadãos.  Muitas já começaram a se planejar há anos, mas tantas outras ainda não entenderam completamente o que as mudanças climáticas vão significar no futuro.”

Agricultura x consumo urbano

A conclusão é que 27% das cidades, que abrigam 233 milhões de pessoas, vão precisar de mais água de que dispõem. Além disso, 19% delas terão um alto potencial de conflito entre as necessidades urbanas e agrícolas, já que ambas não vão conseguir ter acesso aos recursos hídricos que precisam. Robert McDonald nota que, em 80% destes casos, práticas agrícolas mais responsáveis liberariam água suficiente para o consumo urbano.

“Tentamos mostrar que não precisamos chegar a uma disputa entre ambos. Há muito para ser melhorado na eficiência das cidades, como uma boa manutenção da rede de água e esgotos, com soluções simples como consertos de vazamentos. E na agricultura, a maior questão é evitar desperdícios na irrigação”, afirma.

O cientista cita ainda a restrição da água como uma medida eficiente para habituar as pessoas a consumir menos. Neste caso, atacar o bolso é o melhor remédio: algumas cidades americanas, por exemplo, aplicam um custo superior para a água nas residências que possuem piscinas e grandes jardins.

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