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Saúde em dia

Com cerca de 18% de adultos obesos, França é campeã de cirurgia bariátrica na Europa

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Quase metade da população francesa está acima do peso ou é obesa, uma realidade que difere da imagem do povo magro e elegante difundida em todo mundo. O número de operações para reduzir o estômago triplicou entre 2006 e 2017, um índice que preocupa os profissionais da área e mostra que a obesidade também se transformou em um problema de saúde pública no país.

Um jovem paciente francês com sobrepeso em Niort, no sul da França
Um jovem paciente francês com sobrepeso em Niort, no sul da França ©AFP
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Os números são surpreendentes: cerca de 17% dos adultos franceses entre 18 e 74 anos são obesos e 26,8% das mulheres e 37,1% dos homens estão acima do peso, de acordo com dados divulgados pela Seguridade Social. O maior índice é registrado no norte do país, onde 25,7% dos habitantes tem obesidade.

“O americano médio não é o nova-iorquino hiperativo que trabalha em Wall Street, corre o tempo todo e é esbelto, porque vai à academia para ter um IMC, índice de massa corporal, entre 15 e 20%. Infelizmente, o americano médio mora no Minesota e tem obesidade mórbida. Na França é a mesma coisa. Temos o parisiense, que toma café nos bares, bonito, esbelto, e uma população mais pobre, que come mal”, lamenta o gastroenterologista francês Jérôme Loriau, chefe do setor de doenças digestivas do hospital Saint Joseph.

Com cerca de 450 mil operados em dez anos, a França não é somente um dos campeões europeus em cirurgias bariátricas realizadas, é também um dos países onde mais se realiza esse tipo de intervenção em todo o mundo, o que preocupa os especialistas. “A cirurgia da obesidade não pode ser feita de qualquer maneira. Existem critérios, regras, que muitas vezes não são respeitados antes e depois da operação. Por esse motivo os resultados nem sempre são satisfatórios”.

Última alternativa para perder peso

A Alta Autoridade de Saúde francesa determina que um paciente que recebe uma recomendação para esse tipo de cirurgia deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar especializada durante no mínimo seis meses. O objetivo é provar que a cirurgia é a última alternativa para perder peso. A técnica é reservada às pessoas com um índice de massa corporal que ultrapassa 40 kg/m2 ou 35 kg/m2, caso o problema esteja associado a outras doenças, como o diabetes ou a hipertensão, por exemplo.

“Há dois grandes princípios: diminuir o tamanho do estômago para que o paciente tenha a sensação de saciedade mais rapidamente ou provocar a má absorção, o que impede o intestino de absorver os alimentos ingeridos criando um curto-circuito no tubo digestivo”, diz Loriau.

As técnicas para atingir um desses dois objetivos evoluíram nos últimos 20 anos. Os anéis gástricos foram substituídos por outras duas operações: o chamado “sleeve”, que diminui o tamanho do estômago em dois terços, e o by-pass, que modifica o circuito alimentar: a comida não passa pelo estômago, indo diretamente para o duodeno, o intestino delgado. As duas intervenções trazem riscos até mesmo fatais e exigem diversas precauções.

“É preciso esclarecer quais são os riscos e explicá-los aos pacientes. Uma boa parte deles compreende que essa cirurgia é perigosa e desiste da operação. Também é preciso explicar que a cirurgia é apenas uma etapa. Há o antes, o acompanhamento e o depois da operação. O paciente deve entender que serão necessários esforços para o resto da vida, com hábitos alimentares e higiene de vida rígidos”.

O especialista lembra que há diversas etapas neste acompanhamento que não são reembolsadas, como as consultas com um nutricionista, por exemplo, ou atividades físicas, o que limita o sucesso da operação. Apesar de ter um dos sistemas de saúde mais generosos do mundo, os hospitais franceses dispõem de cada vez menos recursos. Muitos pacientes que precisam desembolsar complementos para darem continuidade a seus tratamentos e preferem então abdicar dos cuidados preconizados.

Desta forma, lembra Jérôme Loriau, a situação socio-econômica do paciente também deve ser levada em conta na decisão de operar. “Selecionando melhor os pacientes com indicações para a operação e reservando os recursos para quem realmente precisa, poderemos propor um acompanhamento mais completo e global”.

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