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Planeta Verde

França atrai cientistas do clima rejeitados por Trump

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No dia seguinte ao presidente Donald Trump retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima, em junho, o francês Emmanuel Macron reagiu com uma provocação: convidou os pesquisadores sobre as mudanças climáticas a se instalarem na França. O programa Make Our Planet Great Again é mais uma iniciativa do presidente para projetar o país na linha de frente no combate à degradação do meio ambiente.

Sete mulheres e 11homens de seis países: Emmanuel Macron revela os 18 primeiros selecionados para o programa "Make Our Planet Great Again", lançado após a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris
Sete mulheres e 11homens de seis países: Emmanuel Macron revela os 18 primeiros selecionados para o programa "Make Our Planet Great Again", lançado após a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris @jjpierrat
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Na véspera da conferência One Planet, realizada em Paris no dia 12 de dezembro, foram anunciados os nomes dos primeiros pesquisadores internacionais selecionados para o projeto, aberto para cientistas do mundo inteiro. No total, a França recebeu 400 candidaturas adequadas ao perfil procurado.

“Nós enviamos 255 convites a pesquisadores que atendiam aos critérios específicos que estabelecemos: ter defendido uma tese há pelo menos quatro anos e morado no exterior por pelo menos dois”, explica o pesquisador Stéphane Blanc, que atua junto à presidência do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Cientificas), encarregado da seleção. “Com base nas realizações cientificas dos pesquisadores e seus currículos, os primeiros 90 candidatos selecionados foram convidados a apresentar um projeto de pesquisa junto a um laboratório francês, ou seja, a ser elaborado com uma equipe de pesquisa francesa. Desses, 18 foram escolhidos pelo júri internacional, na semana passada.”

Candidaturas do mundo inteiro

Dos 18 selecionados, cinco são americanos e cinco são franceses que atuavam nos Estados Unidos. Outro grupo de 20 será chamado no ano que vem. Embora a iniciativa seja uma resposta ao desdém de Trump pelas questões climáticas, o governo francês ressalta que o principal critério da escolha era a apresentação de um projeto “de nível excepcional”, em inovação e originalidade.

“A seleção foi aberta para todos os cientistas do mundo que desejavam realizar pesquisas na França, sobre as temáticas propostas. Os americanos e pesquisadores residentes nos Estados Unidos representam a maioria dos candidatos, mas tivemos propostas de Gana, da Itália, da Espanha, do Reino Unido e da Polônia”, afirma Blanc. “Os projetos têm, em geral, um eixo inédito a ser somado à equipe que eles vão integrar na França. Ou seja, é bom para todos, e podemos esperar que haverá um efeito dinamizador nas temáticas que serão tratadas nos nossos laboratórios.”  

Falta de verba extra decepciona

O programa conta com um orçamento de € 30 milhões – uma verba que será redirecionada dentro do atual financiamento das pesquisas na França. Por isso, a iniciativa foi mal vista por certos cientistas que já atuam no país.

O diretor de pesquisas do CNRS Patrick Monfort, secretário-geral do Sindicato dos Pesquisadores Científicos, denuncia uma “operação de marketing” do presidente Macron. “O programa não foi acompanhado de um anúncio de investimentos nas pesquisas na França. Hoje, temos um grave problema de orçamento, que é inferior ao disponibilizado nos nossos concorrentes, como Estados Unidos, Alemanha, Japão ou Coreia do Sul. O investimento francês é de cerca de 2,22% do PIB, enquanto os americanos investem 2,79% e os alemães, quase 3%”, critica o representante sindical. “Os países europeus tinham assumido o compromisso de investir 3% do PIB até 2010 - mas até agora, nada.”

Monfort argumenta que o CNRS contrata 25% de estrangeiros a cada ano e considera uma injustiça que os selecionados pelo Make Our Planet Great Again ganhem duas vezes mais do que a média dos pesquisadores já empregados. Ele ressalta que faz 15 anos que o orçamento do setor está estagnado, apenas com a correção da inflação.

“Acho que o programa descredita a pesquisa francesa e dá a entender que ela não é de alto nível, embora, na área climática, ela seja exemplar. Não precisamos chamar 18 pesquisadores pagando o dobro por eles: é preciso investir massivamente”, aponta. “Macron tem um discurso interessante sobre o meio ambiente, mas eu preferiria que a França e a Europa dissessem que vão dobrar o orçamento das pesquisas, para que possamos responder a todas as questões urgentes que são colocadas sobre transição ecológica, energética, social e econômica.”

A verba insuficiente não é uma queixa exclusiva dos franceses: os americanos que vieram pesquisar na França alegaram justamente o mesmo problema nos Estados Unidos. Eles afirmam que o orçamento das pesquisas em ciências registra quedas há 10 anos, uma situação que eles temem piorar sob Trump.  

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