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Saúde em dia

Como a fobia escolar é tratada na França

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Centro especializado em Paris ajuda adolescentes que passam pelo problema a superar o medo e voltar para a escola. Tratamento passa até pela interrupção temporária das notas.

A psiquiatra Marie Rose Moro, diretora da Casa de Sollen, instituição francesa especializada no tratamento da fobia escolar.
A psiquiatra Marie Rose Moro, diretora da Casa de Sollen, instituição francesa especializada no tratamento da fobia escolar. (Foto: Taíssa Stivanin/RFI Brasil)
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Crises de pânico, vertigens, náuseas. Esses são alguns dos sintomas que algumas crianças e adolescentes sentem na hora de ir para a escola. Muitas vezes eles são tão fortes que obrigam os pais a levá-los para o pronto-socorro. Podem ocorrer na hora de acordar, tomar o café, entrar no carro ou no ônibus, e começar paulatinamente ou de maneira quase repentina.

Esse bloqueio é considerado comum e pode ser transitório: o problema chega a atingir cerca de 30% dos jovens em algum momento de suas vidas. Quando ele persiste e se transforma em um verdadeiro calvário cotidiano, é diagnosticado como fobia escolar, uma doença mental que representa entre 5% e 8% das consultas na França.

A Casa de Sollen é uma clínica francesa ligada ao hospital parisiense Cochin, especializada no tratamento de doenças comportamentais mais comuns em adolescentes. É nesse espaço, situado no 14° distrito de Paris, que são tratados os jovens que sofrem de fobia escolar.

A diretora da instituição, a psiquiatra Marie Rose Moro, convive com casos desse tipo diariamente. Ela explica que vários fatores influenciam o desenvolvimento da doença, que se manifesta principalmente em meninos entre 11 e 15 anos.

Entre elas, as dificuldades individuais que envolvem a adolescência, como a construção da autoestima, e o papel da família, que pode ter uma ideia negativa da escola. Traumas vividos no estabelecimento, como assédio moral ou problemas com professores, também podem desencadear o problema.

"Por exemplo, as notas, para alguns adolescentes, são algo terrível. Eles não conseguem aceitar o fato de ter uma nota ruim e preferem não ir à escola. A avaliação constante é algo muito importante na escola francesa. Em vez de dizer aos alunos o que eles sabem ou não fazer, dizem que são um zero à esquerda. Os adolescentes ouvem isso e se questionam: se eu sou um zero à esquerda, então para quê preciso ir à escola?", explica a psiquiatra.

De acordo com ela, é importante que a família identifique rapidamente o problema, que é uma situação urgente quando começa a se manifestar fisicamente. "Não é fingimento. Eles realmente têm dor de barriga, dor de cabeça, às vezes não conseguem andar, por exemplo. São angústias que repercutem no corpo."

Associação ajuda famílias

Luc Mathis, presidente da Associação francesa Fobia Escolar, viveu essa situação com a filha, que hoje está curada. “Minha história pessoal é similar às de todas as pessoas que frequentam a associação. Um de meus filhos viveu esse drama e durante muitos anos teve dificuldades por conta disso. Hoje ela cresceu e está tudo bem, mas não foram anos fáceis, nem para ela, nem para a família.”

A associação foi fundada em 2008 e reúne cerca de 100 mil famílias em toda a França e até mesmo no exterior, em países como Bélgica e Canadá. Seus membros também lançaram um livro “Escola: quando a fobia vence”, em tradução livre. A obra de 380 páginas a ajuda os pais a viverem essa situação.

Muitas vezes a família, aliás, inconsciente da fobia, age de maneira equivocada. O representante da associação francesa lembra como é importante detectar o problema e não subestimar o sofrimento. “O primeiro reflexo, o primeiro movimento, é forçar a criança, que no início pode aceitar esse jogo, até o momento em que ele não poderá fingir. Nessa hora, é preciso iniciar um trabalho para que a criança, com os cuidados necessários, possa se sentir melhor.”

Quando a doença é identificada, os adolescentes são ajudados por uma equipe multidisciplinar da Casa Sollen. Segundo a diretora, Marie Rose Moro, os tratamentos são individualizados. Depois dos fatores serem identificados, o centro propõe uma terapia com o jovem, sua família, e até mesmo uma intervenção escolar se necessário. As ações incluem até mesmo uma interrupção das avaliações. Esse respiro em geral basta para curar o paciente. A taxa de cura, diz a psiquiatra, é de cerca de 70%.

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