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Saúde em dia

Pesquisadores descobrem nova combinação de anticorpos que pode prevenir contaminação do HIV

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Um grupo de pesquisadores americanos e franceses descobriu uma nova combinação de três anticorpos que pode neutralizar o vírus HIV. A nova molécula poderia ser usada no futuro na prevenção da infecção, principalmente em regiões onde a Aids ainda continua sendo uma epidemia, como a África.

Pesquisadores do grupo farmacêutico francês Sanofi et do instituto nacional americano da saúde (NIH) conseguiram fabricar um triplo antiviral.(Foto ilustração 30/11/13)
Pesquisadores do grupo farmacêutico francês Sanofi et do instituto nacional americano da saúde (NIH) conseguiram fabricar um triplo antiviral.(Foto ilustração 30/11/13) FAROOQ NAEEM / AFP
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O estudo foi divulgado no dia 20 de setembro na revista Science e descreve a utilização da nova molécula em um grupo de oito macacos. Inoculados com o vírus SHIV, variação do HIV que passa do primata para o homem, nenhum deles desenvolveu a infecção, protegidos pela combinação dos três anticorpos.

Atualmente, o único remédio utilizado para evitar a contaminação é o Truvada, que associa dois anti-virais: entricitabina e fumarato de tenofovir desoproxila. Seu uso na prevenção da contaminação do HIV foi autorizado pela Anvisa no Brasil em maio deste ano, quando houve uma modificação da bula do medicamento. O remédio é uma das únicas possibilidades existentes para evitar a infecção e é administrado principalmente em pacientes que convivem com soropositivos, por exemplo, ou grupos considerados de risco, que se expõem com frequência ao vírus.

Prevenindo a contaminação

Segundo o médico imunologista francês Jean-Daniel Lelièvre, responsável pela pesquisa clínica do laboratório sobre o HIV do instituto francês Inserm, e da universidade France-Créteil, em Paris, o estudo busca investigar a ação de um grupo de anticorpos capaz de neutralizar o HIV, que é geneticamente mutante.

Num primeiro momento, os anticorpos triplos seriam usados apenas na prevenção da contaminação, explica o especialista francês. “Principalmente em pacientes considerados de risco, em regiões onde a prevalência da doença é alta. O medicamento seria administrado uma vez por mês ou a cada dois meses e a pessoa estaria protegida contra a doença. É como se você vivesse na Europa e, antes de viajar para um país tropical, tomasse um remédio contra o paludismo”, descreve.

Em síntese, não se trata de uma vacina, mas a molécula poderia ser utilizada da mesma maneira, diz. A questão agora é saber se ela vai reagir no organismo humano e se terá o mesmo efeito que nos macacos que participaram da experiência. Vários anticorpos diferentes já foram testados em seres humanos, inclusive em protocolos de desenvolvimento de vacinas, mas o problema é que muitas das cepas do HIV1, o mais comum no homem, “driblam” o bloqueio dos chamados anticorpos neutralizadores, que visam tratar ou impedir a contaminação.

“As condições e os critérios para o remédio ser usado nos humanos é diferente. Em termos de segurança e da estabilidade da molécula é um processo de desenvolvimento farmacêutico importante. Quando tivermos um medicamento como esse, que possa ser utilizado no homem, só depois dos primeiros testes com humanos saberemos se ele é bem suportado e tolerado, levando em conta os efeitos colaterais”.

Um protocolo como esse, explica Jean Daniel Lelièvre, levaria em média dez anos para ser cumprido e aprovado pelas autoridades internacionais de saúde, que dão o aval para disponibilizar o remédio no mercado. O cientista francês lembra que um anticorpo único, o VRCO1, que já vem sendo testado em humanos, seria uma alternativa de prevenção acessível antes do “modelo triplo” chegar aos hospitais, mas ele é provavelmente menos eficaz.

Por que algumas pessoas não pegam o HIV?

Segundo o especialista francês, algumas pessoas têm uma anomalia genética que as impede de contrair o vírus: elas não possuem um receptor na célula essencial para a contaminação. Outras não tem essa anomalia e ainda assim não contraem o vírus, mas os cientistas ainda não conseguiram descobrir o porquê.

Segundo ele, alguns estudos com prostitutas na África mostraram que elas pareciam desenvolver uma resistência temporária em contato constante com o HIV. Mas, diminuindo a exposição ao vírus, elas contraíam a doença como todo mundo. “Por hora, não temos elementos sólidos suficientes para saber o que seria uma proteção natural e fisiológica contra o vírus HIV.”

Ele também explica que diversas linhas de pesquisa estão sendo desenvolvidas na busca de uma vacina, mas a longo prazo. Por enquanto, o tratamento continua sendo os antirretrovirais, conhecidos como coquetel, mas os anticorpos poderão ser utilizados no futuro para tratar doentes que não suportam mais a medicação.

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