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Saúde em dia

Nova fórmula de remédio para tireoide causa problemas para milhares de pessoas na França

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Um medicamento para reposição ou suplementação hormonal em pessoas que sofrem com hipotireoidismo está no centro de uma polêmica na França: o Levothyrox, produzido pelo laboratório Merck. Em abril, as farmácias francesas receberam uma nova versão do produto, cujo excipiente passou a contar com o ácido cítrico anidro e o manitol. Em contrapartida, o princípio ativo do produto, a levotiroxina sódica, não foi alterada. 

O Levothyrox (levotiroxina sódica), produzido pela Merck, teve sua fórmula alterada em abril.
O Levothyrox (levotiroxina sódica), produzido pela Merck, teve sua fórmula alterada em abril. Captura de vídeo LCI
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A Merck não comunicou as mudanças na fórmula do Levothyrox, realizadas a pedidos da Agência de Segurança do Medicamento da França (ANSM). As autoridades sanitárias alegam que essas transformações não representam risco aos usuários do medicamento, entre os quais 80% são mulheres. Contraditoriamente, milhares de pacientes vem se manifestando sobre os efeitos colaterais da nova fórmula, como cansaço, perda de memória, dor de cabeça, dor muscular, tontura, queda de cabelo, e até mesmo sintomas de depressão

A Merck França alega que "para a maior parte dos três milhões de pacientes tratados com o Levothyrox, a transição entre a antiga e a nova fórmula foi bem sucedida". No entanto, até o final de agosto, cinco mil reclamações formais sobre efeitos colaterais do novo produto foram registradas junto à ANSM.

O endocrinologista Roberto Assumpção, da Câmara Técnica de Endocrinologia e Metabologia do Rio de Janeiro, explica que mudanças nos excipientes dos medicamentos não são incomuns. "Elas podem acontecer, eventualmente, principalmente quando o excipiente tem lactose ou glicose, o que pode ter restrições para alguns pacientes. Mas isso não influencia na estrutura básica do medicamento."

Além disso, segundo o especialista, mudanças como essas passam por uma série de controles. "Para realizar transformações como essas, devem ser feitos testes de bioequivalência para saber se essa modificação teve alguma influência na ação final do medicamento", afirma. 

Associação pede restabelecimento da antiga fórmula

A Associação Francesa dos Pacientes com Doenças na Tireoide lançou uma forte mobilização na França e organiza uma petição pelo restabelecimento da antiga fórmula do Levothyrox. Quase 200 mil pessoas já assinaram o documento. 

Rafaela Tillier, naturopata brasileira radicada na França, assinou a petição. Em entrevista à RFI, ela enumerou os problemas enfrenta desde que passou a ingerir a nova fórmula do Levothyrox. "Faz entre um mês e meio que estou tomando a nova fórmula. Comecei a sentir que não estava muito legal. Passei a ter dores de cabeça frequentemente, tontura, cansaço, indisposição. Acordei uma noite me sentindo mal, com o coração batendo muito forte. Também comecei a ter ânsias de vômito e minha menstruação veio antes do tempo... fiquei realmente muito mal", diz. 

Em entrevista à RFI, a co-presidente da associação, Chantal Garnier, denuncia o desdém das autoridades sobre o problema. "É um escândalo sanitário! Diante de todas as pessoas que tomam o Levothyrox na França, é urgente fazer algo. Sabemos que há quem não teve efeitos colaterais, mas milhares estão sofrendo com os problemas causados pela nova fórmula. Por isso, exigimos uma reunião urgente com a ANSM. Não podemos deixar os doentes desamparados!" 

Já endocrinologista francês Alain Krivitzky minimizou a polêmica e aconselhou, sobretudo, que os pacientes não deixem de tomar o medicamento. "Efetivamente, há uma nova fórmula, mas o hormônio ativo não mudou, o que mudou foi apenas o excipiente. Se as pessoas perceberem efeitos colaterais, é preciso que elas peçam ao endocrinologista o exame de TSH, que avalia os distúrbios da tireoide. Mas o importante é que as pessoas não parem de tomar o remédio. Não há nada de preocupante com a nova fórmula do Levothyrox." 

No Brasil, medicamento mantém a fórmula tradicional

A levotiroxina sódica produzida pela Merck é comercializada com o nome de Euthyrox no Brasil. No entanto, o medicamento vendido no país não sofreu nenhuma alteração. Contatada pela reportagem da RFI, a Merck Brasil indicou que "a nova fórmula do Euthyrox ainda não está disponível no Brasil e não há previsão para seu lançamento".

A Merck França não respondeu aos pedidos de entrevista da RFI.
 

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