Países em desenvolvimento podem ser influenciados pelo "ceticismo climático" de Trump
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Ambientalistas de todo o mundo aguardam, sob muito suspense e tensão, a posse de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (20). O bilionário, que é um assumido negacionista das mudanças climáticas, fez, durante sua campanha, promessas que podem colocar em questão decisões e medidas importantíssimas contra o aquecimento global. Para especialistas entrevistados pela RFI, os países em movimento podem ser influenciados pelas intenções da futura administração americana.
Donald Trump ameaçou, diversas vezes, retirar os Estados Unidos do Acordo sobre o Clima. Não bastasse essa promessa, Ongs e ecologistas se preocupam com a escolha de Trump de Scott Pruitt, um forte opositor da política climática de Barack Obama, para liderar a Agência americana de Proteção Ambiental. Além da nomeação de Rex Tillerson, presidente da gigante do petróleo Exxon Mobil, como secretário de Estado americano. A postura do futuro presidente, aliado a escolhas de céticos sobre o aquecimento global, podem incitar alguns países a tomar o mesmo rumo.
"Países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, sempre utilizaram o argumento que as nações desenvolvidas estavam investindo pouco na luta contra o aquecimento global e se perguntaram por que eles, os mais pobres, deveriam assumir metas de reduções de emissões e investir em programas de substituição de energia fóssil por renovável. Então, se os Estados Unidos mantiverem a posição prometida por Trump, eles podem estimular os países mais pobres a recuarem em suas obrigações também", prevê Ricardo Ernesto Rose, consultor em inteligência de mercado, meio ambiente e energia.
Rose enfatiza, no entanto, que Trump terá dificuldades em encontrar cúmplices na Europa para colocar seus planos em ação. Além disso, a China pode contribuir para barrar os projetos do bilionário. "Os problemas ambientais que os chineses enfrentam são muito importantes. Por isso, a China é o hoje o país que mais investe nas reduções de emissões e energia limpa. Pequim também já deixou claro que, mesmo que os Estados Unidos reduzam suas metas, dará seguimento a seus compromissos", reitera.
O coordenador de mudanças climáticas do Greenpeace Brasil, Pedro Telles, ressalta que, embora Trump passe a impressão de ser imprevisível em relação ao clima, a continuidade das ações climáticas faz parte dos interesses dos próprios americanos. "Os Estados Unidos são atualmente o principal país em investir em energias renováveis, que é uma tendência irreversível hoje. Portanto, tanto devido ao impacto climático quanto às oportunidades surgindo na economia americana, seguir em direção de uma política climática construtiva é imprescindível para eles", ressalta.
Quem tem medo de Donald Trump?
Entre as temidas promessas do bilionário, estão a limitação do poder da Agência americana de Proteção Ambiental, a proposta de abrir diversas áreas federais para a exploração do petróleo, gás natural e carvão, além de paralisar os programas de redução de emissões instituídos pela atual administração, que se engajou no Acordo Sobre o Clima, assinado no ano passado em Paris.
Diante destas propostas radicais, nem todos são otimistas em relação aos planos do bilionário sobre o clima. É o caso do professor de desenvolvimento sustentável na Sciences Po de Paris, Henri Landes, e co-fundador do think tank CliMates. Para ele, o futuro presidente americano pode causar uma regressão de um século nas questões climáticas.
"Donald Trump é um negacionista da mudança climática - é desta forma que ele mesmo se define. Segundo ele, o aquecimento global é algo criado pelos chineses para enfraquecer a economia americana. E, sobre isso, eu tenho vontade de dizer: 'no comment!'. Porque essa é uma consideração obscura. Para ele, proteger o meio ambiente é algo que prejudica a economia, o que é uma regressão em relação ao que o mundo inteiro acredita hoje", diz.
Telles reconhece que existe a possibilidade não apenas de que o magnata retire os Estados Unidos do Acordo sobre o Clima, como que ele continue na mesa de negociações durante as próximas Conferências do Clima para impedir o avanço dos diálogos. "Entravar o processo também é um cenário muito grave e que nos preocupa muito. Por isso, vamos acompanhar atentamente como serão esses primeiros meses de governo e continuaremos trabalhando para que a postura correta seja mantida.”
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