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Planeta Verde

Países em desenvolvimento podem ser influenciados pelo "ceticismo climático" de Trump

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Ambientalistas de todo o mundo aguardam, sob muito suspense e tensão, a posse de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (20). O bilionário, que é um assumido negacionista das mudanças climáticas, fez, durante sua campanha, promessas que podem colocar em questão decisões e medidas importantíssimas contra o aquecimento global. Para especialistas entrevistados pela RFI, os países em movimento podem ser influenciados pelas intenções da futura administração americana. 

Jovens que participavam da COP-22 em Marrakech em manifestação após vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA. Novembro 2016
Jovens que participavam da COP-22 em Marrakech em manifestação após vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA. Novembro 2016 @Emma Jagu/  Creative Commons/John Englart
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Donald Trump ameaçou, diversas vezes, retirar os Estados Unidos do Acordo sobre o Clima. Não bastasse essa promessa, Ongs e ecologistas se preocupam com a escolha de Trump de Scott Pruitt, um forte opositor da política climática de Barack Obama, para liderar a Agência americana de Proteção Ambiental. Além da nomeação de Rex Tillerson, presidente da gigante do petróleo Exxon Mobil, como secretário de Estado americano. A postura do futuro presidente, aliado a escolhas de céticos sobre o aquecimento global, podem incitar alguns países a tomar o mesmo rumo.

"Países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, sempre utilizaram o argumento que as nações desenvolvidas estavam investindo pouco na luta contra o aquecimento global e se perguntaram por que eles, os mais pobres, deveriam assumir metas de reduções de emissões e investir em programas de substituição de energia fóssil por renovável. Então, se os Estados Unidos mantiverem a posição prometida por Trump, eles podem estimular os países mais pobres a recuarem em suas obrigações também", prevê Ricardo Ernesto Rose, consultor em inteligência de mercado, meio ambiente e energia.

Rose enfatiza, no entanto, que Trump terá dificuldades em encontrar cúmplices na Europa para colocar seus planos em ação. Além disso, a China pode contribuir para barrar os projetos do bilionário. "Os problemas ambientais que os chineses enfrentam são muito importantes. Por isso, a China é o hoje o país que mais investe nas reduções de emissões e energia limpa. Pequim também já deixou claro que, mesmo que os Estados Unidos reduzam suas metas, dará seguimento a seus compromissos", reitera.

O coordenador de mudanças climáticas do Greenpeace Brasil, Pedro Telles, ressalta que, embora Trump passe a impressão de ser imprevisível em relação ao clima, a continuidade das ações climáticas faz parte dos interesses dos próprios americanos. "Os Estados Unidos são atualmente o principal país em investir em energias renováveis, que é uma tendência irreversível hoje. Portanto, tanto devido ao impacto climático quanto às oportunidades surgindo na economia americana, seguir em direção de uma política climática construtiva é imprescindível para eles", ressalta.

Quem tem medo de Donald Trump?

Entre as temidas promessas do bilionário, estão a limitação do poder da Agência americana de Proteção Ambiental, a proposta de abrir diversas áreas federais para a exploração do petróleo, gás natural e carvão, além de paralisar os programas de redução de emissões instituídos pela atual administração, que se engajou no Acordo Sobre o Clima, assinado no ano passado em Paris.

Diante destas propostas radicais, nem todos são otimistas em relação aos planos do bilionário sobre o clima. É o caso do professor de desenvolvimento sustentável na Sciences Po de Paris, Henri Landes, e co-fundador do think tank CliMates. Para ele, o futuro presidente americano pode causar uma regressão de um século nas questões climáticas.

"Donald Trump é um negacionista da mudança climática - é desta forma que ele mesmo se define. Segundo ele, o aquecimento global é algo criado pelos chineses para enfraquecer a economia americana. E, sobre isso, eu tenho vontade de dizer: 'no comment!'. Porque essa é uma consideração obscura. Para ele, proteger o meio ambiente é algo que prejudica a economia, o que é uma regressão em relação ao que o mundo inteiro acredita hoje", diz.

Telles reconhece que existe a possibilidade não apenas de que o magnata retire os Estados Unidos do Acordo sobre o Clima, como que ele continue na mesa de negociações durante as próximas Conferências do Clima para impedir o avanço dos diálogos. "Entravar o processo também é um cenário muito grave e que nos preocupa muito. Por isso, vamos acompanhar atentamente como serão esses primeiros meses de governo e continuaremos trabalhando para que a postura correta seja mantida.”
 

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