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Saúde em dia

Médicos criticam ineficácia de ações contra câncer de mama no Brasil e na França

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Desde a década de 90, o mês de outubro foi escolhido para simbolizar a luta contra o câncer de mama. A partir de então, campanhas em todo o mundo passaram a chamar a população para aderir ao movimento que promove a conscientização sobre a doença e reivindica mais acesso ao diagnóstico e ao tratamento da enfermidade. Apesar das várias ações promovidas a cada ano, médicos e pacientes ainda reclamam da falta informações sobre o câncer de mama. Neste ano, duas polêmicas sobre a campanha foram registradas na França e no Brasil.

No Brasil, mulheres a partir dos 40 anos podem realizar gratuitamente a mamografia pelo Sistema Unico de Saúde (SUS).
No Brasil, mulheres a partir dos 40 anos podem realizar gratuitamente a mamografia pelo Sistema Unico de Saúde (SUS). wikimédia
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Na França, associações de profissionais da saúde protestam contra a falta de consciência das mulheres sobre as vantagens e as desvantagens da mamografia. Todas as francesas, a partir de 50 anos de idade, têm direito a realizar gratuitamente o exame, a cada dois anos; ou a cada ano para as mulheres que têm maior risco de desenvolver a doença.

Já no Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) reclama da falta do acesso das brasileiras à mamografia. O exame pode ser realizado gratuitamente pelas mulheres a partir dos 40 anos pelo Sistema Unico de Saúde (SUS).

Uma recente pesquisa divulgada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) irritou a classe médica. Segundo o estudo, 66% das mulheres com a doença detectaram nódulos nos seios através do autoexame. Uma pesquisa que, segundo o presidente da SBM, Ruffo de Freitas Júnior, responsabiliza das próprias pacientes pela detecção da doença. "Isso mostra claramente a inoperância do Estado em relação à questão. O estudo tira a obrigação do governo de oferecer às mulheres algo que é lei, um direito que as brasileiras têm e isso deveria ser respeitado."

Autoexame não evita o câncer de mama

O mastologista ressalta que muitos estudos, inclusive um realizado pela própria Sociedade Brasileira de Mastologia, mostram que o autoexame não reduz a mortalidade do câncer de mama. "Quando nós comparamos as mulheres que faziam com as que não faziam o autoexame dos seios, percebemos que isso não possibilitava uma redução do tamanho do tumor ou evitou a mastectomia. Pior: a sobrevida das brasileiras que fazem o autoexame é exatamente a mesma das que não fazem", explica.

Por isso, segundo o especialista, a mamografia a partir dos 40 anos ainda é o melhor método para detectar a doença. Ele exemplifica citando três importantes estudos sobre a questão: "Um recente estudo realizado na Inglaterra mostrou um benefício deste exame na redução da mortalidade populacional em até 17 %. Pesquisas canadenses apontaram uma redução de mortalidade de até 40 % e mostraram que mulheres que detectaram o câncer na mamografia tiveram mais chances de sobreviver do que as que não realizaram a mamografia. Ou seja, esse exame pode aumentar as chances de sobrevida das pacientes."

Benefícios e desvantagens

A radiologista Cécile Bour, do coletivo francês Câncer Rosa, acredita que as pacientes devem estar a par dos benefícios e desvantagens da mamografia. Ela faz parte de um grupo que escreveu uma carta aberta à ministra francesa da Saúde, Marisol Touraine, pedindo uma informação mais objetiva sobre os métodos de detecção da doença.

"A mamografia é apresentada às mulheres como se fosse uma prevenção do câncer, quando sabemos que ela não previne o câncer. Há falhas de informação sobre as incertezas da mamografia na campanha Outubro Rosa, que utiliza um marketing enganador e infantil. É preciso que as mulheres saibam que os benefícios da mamografia não são garantidos e que, além disso, há muitos riscos: de exagero no diagnóstico, de falsos alertas e de radiação inútil", ressalta.

Por isso Bour defende a realização de um trabalho muito mais que informativo, mas pedagógico. "Isso implica se concentrar nas mulheres que estão mais expostas ao câncer de mama, como as que trabalham à noite, por exemplo. Também é preciso diminuir a exposição das populações a substâncias cancerígenas, tanto nos alimentos como no meio ambiente. Além disso, é necessário estar mais atento à exposição a radiações, refletir sobre a quantidade de mulheres que são mais expostas fazendo radiografias, scanners e mamografias."

Outra ideia, segundo a radiologista, é oferecer consultas médicas preventivas gratuitas a partir dos 40 anos, com análises de fatores de risco em função da genealogia das mulheres, modo de vida e hábitos alimentares. "Ou seja, é preciso fazer esse trabalho pedagógico e de prevenção, antes do câncer, não quando ele já se desenvolveu", conclui.

Últimos balanços

No último balanço do governo francês sobre a doença, que data de 2014, quase 12 mil mulheres morreram de câncer de mama naquele ano. No Brasil, um relatório de 2013 apontou a morte de mais de 14 mil mulheres. O Inca estima que em 2016, quase 58 mil novos casos serão registrados no país.

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