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Saúde em dia

Com cuidados, dieta vegana pode ser adotada por crianças

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As dietas vegetariana e vegana têm cada vez mais adeptos – por motivações éticas, de saúde ou simplesmente de gosto pessoal, o número de pessoas que cortam os produtos de origem animal do cardápio não para de crescer. O fenômeno se reflete em lojas e restaurantes especializados, que se espalham pelas grandes cidades. No entanto, o regime apenas com produtos vegetais pode ser seguido por todos, inclusive as crianças? Ou a falta de proteína animal prejudica o desenvolvimento infantil?

As dietas vegetariana e vegana podem ser adequada às crianças, se ela contiver a quantidade necessária de vitamina B12 e nutrientes
As dietas vegetariana e vegana podem ser adequada às crianças, se ela contiver a quantidade necessária de vitamina B12 e nutrientes Pixabay
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O assunto alimenta uma polêmica na Itália, onde uma deputada conservadora apresentou um projeto para levar para a cadeia os pais que estendem as práticas veganas aos filhos pequenos. Ela propõe um ano de prisão para aqueles que “impuserem um regime alimentar que prive os filhos de elementos essenciais para um crescimento sadio e equilibrado”. A pena seria dobrada nos casos de crianças com menos de três anos.

O projeto veio à tona porque, em poucos meses, quatro crianças veganas foram internadas com desnutrição no país. Enquanto o vegetarianismo exclui as carnes do cardápio, o veganismo não tolera nenhum tipo de produto de origem animal, como ovos e leite.

“Eu acho que uma punição dos pais seria um pouco excessivo. É verdade que levanta questionamentos, mas acho perigoso quando os políticos se metem nas questões de nutrição. Eles optam pelo caminho de leis rígidas, mas a flexibilidade e o diálogo são muito úteis neste tipo de assunto”, afirma o médico nutricionista Arnaud Cocaul, do hospital parisiense de Pitié-Salpetrière. “Talvez o melhor seja conversar e explicar os perigos para os pais veganos que querem que os filhos também sejam, para tentarmos moderar esse projeto e, principalmente, verificar que não haverá carências alimentares importantes para a criança.”

Paris foram condenados pela morte da filha na França

Na França, em 2011, um casal de veganos foi condenado a 5 anos de prisão pela morte da filha de dois anos, por desnutrição. No momento da morte, a menina tinha apenas 5,7kg.

O doutor Cocaul, autor de uma série de livros sobre os regimes, explica que uma alimentação vegana não apresenta nenhum risco vital para a criança – desde que o caso seja acompanhado por um especialista e as carências diárias de vitaminas e proteínas sejam substituídas.

“Tudo é substituível, mas é preciso estar de olho. Sabemos que o ferro vegetal é menos bem assimilado na digestão do que o de origem animal, então a criança pode ter carências de vitamina B12. Vai ser fundamental tomar suplementos porque a B12 é essencial para a fabricação dos glóbulos vermelhos”, frisa. “As necessidades da criança evoluem conforme a idade. Por exemplo: um bebê não pode consumir muita proteína, mas precisa de uma dieta reforçada em lipídios, em gorduras.”

Os especialistas afirmam que cada organismo reage de uma maneira diferente à alimentação – cada um tem uma genética e uma flora intestinal próprios. Por isso, alguns vão tolerar perfeitamente uma alimentação vegana, enquanto outros podem até colocar a saúde em risco. O Dr. Cocaul recomenda que, antes de os pais adotarem o regime vegano para os filhos, realizem exames na criança para verificar se o projeto não será prejudicial à saúde.

Riscos maiores na gravidez

O nutricionista destaca que as consequências de uma dieta vegana podem ser bem mais sérias em gestantes, quando a falta de determinadas vitaminas pode gerar predisposições da criança a desenvolver certas doenças. Ele ressalta que o problema se restringe aos regimes veganos, e não aos vegetarianos.

“Sou contra mulheres grávidas continuarem veganas, porque há o risco de ser prejudicial para o feto. É claro que há bebês perfeitamente normais que nasceram de mães veganas, mas, em geral, costuma ser problemático para a criança”, indica o médico. “Durante a gravidez, há períodos específicos, como o terceiro e o sexto mês, nos quais o bebê é muito receptivo às práticas alimentares da mãe.”

O nutricionista francês observa que, tradicionalmente, a culinária dos países ocidentais é onívora e não há nenhum país europeu no qual os habitantes comam apenas vegetais. Os humanos se adaptam a mudanças de costumes – mas o corpo não necessariamente assimila essas alterações na velocidade que o homem espera.
 

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