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Saúde em dia

Pesquisadores associam anorexia a um vício pelo emagrecimento

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Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature trouxe um outro viés para as pesquisas sobre anorexia. O distúrbio, tratado tradicionalmente na psquiatria como "um medo de engordar", foi relacionado a "um vício pelo emagrecimento" pela equipe do especialista Philip Gorwood, do Hospital psiquiátrico de Sainte-Anne, em Paris.

A anorexia nervosa é predominante entre mulheres, de 13 a 25 anos de idade, em média.
A anorexia nervosa é predominante entre mulheres, de 13 a 25 anos de idade, em média. Captura vídeo
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Para chegar a essa conclusão, pesquisadores analisaram a reação de um grupo de mulheres selecionadas para o estudo a imagens de pessoas com sobrepeso, com o peso normal e de pessoas muito magras. A emoção das mulheres a essas fotos foi medida através do aumento da transpiração delas. Fizeram parte da análise 70 pacientes anoréxicas, em diversos estágios do distúrbio, e 20 mulheres sadias.

A equipe de Gorwood percebeu que, diante das fotos de pessoas com sobrepeso e peso normal, as pacientes não tiveram reações relevantes. Mas o sentimento observado em relação às imagens de pessoas muito magras foi de forte emoção, tendo como consequência o aumento da transpiração.

Segundo Gorwood, a reação fisiológica do sentimento com testes de "conduta cutânea" demonstram a variação da transpiração. "Eles são indicadores muito objetivos e científicos e nos mostraram uma reação emocional imediata e positiva a imagens de mulheres em estado de magreza excessiva, apenas por parte das pacientes com anorexia", ressalta o especialista.

Com base nesse comportamento, a equipe estabeleceu a associação da anorexia ao vício pelo emagrecimento."A hipótese que formulamos é que, claro, as pacientes anoréxicas nos expressam o medo de engordar, mas talvez esse comportamento apenas reflita uma realidade completamente diferente, que seria o prazer de perder peso e não o medo de ganhar peso", explicou Gorwood à RFI.

Nova forma de compreender a anorexia

De acordo com Philip Gorwood, o estudo que coordenou é uma nova forma de compreender o transtorno, criando novas perspectivas de pesquisa, que vai além do espectro da fobia e migra ao campo dos estudos sobre o "efeito da recompensa", dentro do universo dos vícios. "A partir do momento em que entramos no campo dos efeitos da recompensa, pensamos em outros tipos de abordagens farmacológicas. Por exemplo, tudo o que pode modificar a ação da dopamina, que é um neurotransmissor implicado nos efeitos de recompensa, substância sobre a qual não há nenhum estudo sendo realizado atualmente relacionado à anorexia", preconiza, lembrando que não há no mercado atualmente nenhum medicamento para tratar o distúrbio.

Para o psiquiatra Sérgio Tamai, chefe do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina, a relação entre a anorexia e o vício, estabelecida pela pesquisa coordenada por Gorwood, é válida. Ele lembra que os principais critérios para estabelecer o vício é a perda de controle sobre o comportamento, a necessidade de repeti-lo e o prejuízo social que isso causa. "Se fomos traçar esse paralelo, realmente vemos que o indivíduo com anorexia não controla esse comportamento. Ele repete suas estratégias para perder peso, seja não se alimentando, seja fazendo exercícios. Ele gasta boa parte de seu tempo pensando nisso", diz.

Muito a progredir contra a anorexia

A anorexia é um distúrbio que tem fatores psicológicos, biológicos e sociais, e é predominante entre mulheres, de 13 a 25 anos, em média. O transtorno atinge entre 0,2% e 0,5% da população em todo o mundo. "É preciso lembrar que a anorexia é uma doença extremamente perigosa, com uma taxa de mortalidade de 1% ao ano e a primeira patologia mental que mais resulta em suicídio. Então, temos muito a progredir", ressalta Gorwood.

A França contabiliza cerca de 40 mil casos de anorexia. No Brasil, o aumento constante da incidência deste distúrbio vem sendo observado desde os anos 1950. Alguns estudos apontam que uma a cada 250 adolescentes brasileiras sofre de anorexia.

Para lutar contra o distúrbio, desde o ano passado, a França proíbe que as agências de modelo contratem quem apresente um índice de massa corporal abaixo dos padrões de saúde. No Brasil, algumas agências não contratam pessoas excessivamente magras, mas não há, até o momento, nenhuma lei que sobre a questão.

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