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Planeta Verde

Aquecimento global faz Inglaterra voltar a produzir espumantes

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As mudanças climáticas estão deixando os britânicos marcar pontos na eterna disputa com os franceses, e em um setor no qual a França é particularmente orgulhosa: o vinho. Graças ao retorno do clima mais quente no sul do Reino Unido, a produção vinícola dos ingleses não para de subir, em especial de espumantes.

No Reino Unido, champagne francês já é ameaçado pelo espumante inglês.
No Reino Unido, champagne francês já é ameaçado pelo espumante inglês. Reuters/Issei Kato
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Já faz algum tempo que os cientistas constataram que as condições ideais para a produção do vinho estão se espalhando rumo ao norte da Europa. Em alguns países, essa alteração pode ser preocupante, mas outros estão aproveitando a oportunidade para retomar a fabricação própria - um costume que, tradicionalmente, sempre tiveram.

A pesquisadora da Universidade de Bourgogne Jocelyne Pérard conhece bem essa história. Ela estuda os impactos das mudanças climáticas na viticultura e dirige a cátedra da Unesco para a tradição e a cultura do vinho.

“De fato, constatamos que os vinhedos da Europa estão se espalhando em direção ao norte, porque as mudanças climáticas agora oferecem condições que permitem a viticultura. Mas ainda estamos distantes do que chamamos de anomalia climática medieval”, recorda-se. “Na Idade Média, até o século 16, tivemos um período mais quente do que o atual, que nos possibilitou ter vinhedos até no sul da Dinamarca e da Suécia.”

Vinho de Paris era reputado

A pesquisadora lembra que, naquela época, as condições climáticas mais quentes viabilizavam a produção de vinhos de excelente qualidade em Ile de France, a região de Paris. Hoje em dia, essa fabricação é irrisória.

“Os vinhos da região parisiense eram muito apreciados, até que, no século 16, começa o que chamamos de pequena era glacial na Europa, um longo período de resfriamento que durou até o século do 19”, afirma Pérard.

O retorno do frio levou o norte europeu a abandonar a fabricação de vinho. No lugar, países como a Alemanha se aperfeiçoaram na produção de outras bebidas, como a cerveja.

Queda da importação de champagne no Reino Unido

Já os ingleses, grandes consumidores de vinhos e espumantes, agora decidiram relançar os seus vinhedos, principalmente nas regiões de Sussex e Kent, ao sul e sudeste de Londres. Deu tão certo que as vendas dos espumantes nacionais cresceram 27% em 2014, um resultado bem mais robusto do que a alta de 5% do champagne francês.

“Constatamos que as vendas de espumantes da Borgonha ou de champagnes para a Inglaterra estão em plena curva descendente, porque os ingleses estão preferindo consumir o ‘sparkling wine’ deles. E olha que, desde a Idade Média, os ingleses eram os maiores importadores de vinho de Bordeaux, da região parisiense e até de champagne”, comenta a especialista.

Taittinger vai produzir na Inglaterra

Em dezembro, a notícia de que um dos maiores produtores da famosa bebida francesa adquiriu 69 hectares para fabricar no Reino Unido causou furor no meio francês. A maison Tattinger alega que foram apenas razões econômicas que motivaram a decisão. A marca diz que o verdadeiro champagne continua incomparável e nenhuma outra região produtora no mundo ameaça o reinado da bebida francesa.

“Voltou a ser rentável em todas as regiões do norte onde há um potencial consumidor, não só na Inglaterra. Voltamos a ver os vinhedos subindo bastante ao norte, na Escandinávia, na Normandia, como na época medieval”, diz a pesquisadora.

Espumante pode “consertar” vinho que não era tão bom

Não é por nada que a fabricação de espumante se generalizou, inclusive na África e na Ásia. Jocelyne Pérard explica que a técnica de produção da bebida possibilita que “defeitos” de acidez do vinho sejam corrigidos. O fenômeno chegou até no Brasil.

“No Brasil, agora temos vinhedos em todo o lugar. A particularidade do Brasil é que eles estão se espalhando para as regiões tropicais. Tem produção de vinho até na Bahia”, destaca.

No ano passado, a produção de espumantes no Vale do São Francisco cresceu 30%. Atualmente, a Embrapa realiza uma ampla pesquisa sobre as consequências das mudanças climáticas na viticultura brasileira. O maior produtor nacional é o Rio Grande do Sul.
 

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