O Brasil registrou 31.568 mil pessoas em tratamento de hanseníase em 2014, incluindo 24.612 novos casos. É o segundo país no mundo com maior incidência, só perdendo para a Índia. A doença, que durante séculos foi chamada de lepra, é considerada praticamente extinta em países desenvolvidos, como a França.
Os números foram divulgados por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a Hanseníase, no último dia 25 de janeiro. Entre as estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde para tentar eliminar a hanseníase estão ampliar a oferta de serviços de diagnóstico e tratamento e intensificar a busca de casos em crianças e em áreas com maior incidência da doença, como Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Rondônia, Pará e Goiás. O mal é praticamente extinto nos Estados do sul e sudeste, Rio Grande do Norte, Alagoas e Distrito Federal.
A hanseníase é uma infecto-contagiosa, causada por uma bactéria chamada internacionalmente de Mycobacterium leaprae. “No Brasil, usa-se a nomenclatura Mycobacterium hansen”, explica Dilhermando Calil, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Hansenologia. “Os primeiros sinais são manchas na pele, que podem ser brancas, avermelhadas, vinhosas, em qualquer lugar do corpo, com alteração da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil”, explica.
90% da população protegida
O tratamento chama-se polioquiometerapia e é composto por três drogas associadas, usadas por um período de seis a doze meses, dependendo da classificação da doença no momento do diagnóstico. “Hoje, nós sabemos que imunologicamente, 90% da população é geneticamente protegida contra o bacilo e não desenvolve a doença”, diz o dr. Calil, que critica o “estigma absurdo que a doença teve por muito tempo”.
Na Idade Média, os portadores de hanseníase eram obrigados a carregar um sino, para anunciar a própria presença. No século 17, na Europa, há registros de mais de 18 mil leprosários, lembra o dermatologista. Em vários países do mundo, inclusive no Brasil até final de 1960, as pessoas com a doença eram internadas compulsoriamente.
Preconceito
Faustino Pinto, 44 anos, morador de Juazeiro do Norte, no Ceará, é criador da RedHansen, para informação sobre a doença e apoio aos infectados. Ele teve hanseníase aos 9 anos, mas só teve a doença diagnosticada com 18 anos. E foram mais cinco anos de tratamento até a cura.
Ele fala de vários episódios de preconceito, na família, na escola e em postos de saúde. O catolicismo acentuado da região, terra natal do Padre Cícero, também foi um dos obstáculos. “Com muita campanha nas escolas, na comunidade, conseguimos com que a hanseníase fosse vista como ela realmente é: uma doença que tem diagnóstico, tratamento e cura”, relata.
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