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Brasil

Brics tem histórico de superação de divergências e continua relevante, segundo analistas

A XI Cúpula do Brics começou nesta quarta-feira (13) em Brasília cercada de incertezas. A invasão da Embaixada da Venezuela criou constrangimento para o governo do presidente Jair Bolsonaro, que tinha a intenção de evitar os temas polêmicos, como a crise na Venezuela, para não melindrar Rússia e China, aliadas do governo de Nicolás Maduro. Agora, ninguém arrisca um prognóstico sobre a atmosfera entre os parceiros do Brics no final do encontro, que termina nesta quinta-feira (14).

Os presidentes Xi Jinping e Jair Bolsonaro, em Brasília.
Os presidentes Xi Jinping e Jair Bolsonaro, em Brasília. REUTERS
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A China, hoje, é o motor do Brics, destaca o cientista político Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc) da universidade Sciences Po, em Paris. "Parece paradoxal o presidente chinês, Xi Jinping, estar em Brasília, devido às posições do atual governo brasileiro, que despreza o multilateralismo e a cooperação sul-sul, desenvolvida nos governos do ex-presidente Lula, mas o Brics continua relevante, sob a impulsão de Pequim e do Banco de Desenvolvimento do Brics, em Xangai", ressalta o cientista político.

Em Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou que o governo brasileiro discute a criação de uma área de livre comércio com a China, o maior parceiro comercial do Brasil.

Avanços

Enquanto os mais pessimistas consideram que o Brics perdeu protagonismo, a advogada e pesquisadora Elen de Paula Bueno, autora do livro "Brics e as reformas das instituições internacionais", discorda dessa visão. Ela lembra que o grupo se estruturou a partir de uma agenda de reformas de governança nos organismos multilaterais e obteve resultados.

"As reformas do Banco Mundial, em 2010, e do Fundo Monetário Internacional, em 2016, foram benéficas para os emergentes e não teriam ocorrido se esses países não tivessem se articulado nesse período", destaca a especialista, que também é membro fundadora do Grupo de Estudos sobre os Brics da Universidade de São Paulo (Gebrics/USP). Outra vitória do grupo foi a conquista da direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2013, com a eleição do embaixador brasileiro Roberto de Azevedo, reeleito há dois anos para um segundo mandato.

Na avaliação da especialista da USP, os maiores desafios do Brics, atualmente, são superar as divergências sobre a defesa do multilateralismo, fragilizado pelos ataques do governo de Donald Trump, ampliar o comércio intra-Brics, ainda tímido, e investir na reforma das Nações Unidas, sobretudo na ampliação do Conselho de Segurança da ONU. "É um tema complexo, que envolve muita articulação política, mas absolutamente necessário", enfatiza Bueno. O Brasil atua pela reforma ao lado da Alemanha, da Índia e do Japão, reunidos no chamado Grupo dos 4 (G4). As discussões esbarram na oposição da China à entrada do Japão no Conselho, mas o assunto tem espaço para ser abordado pelos emergentes.

"O Brics avançou muito nos últimos dez anos, diferentemente do G7 [grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido], que no último encontro mal conseguiu formular uma declaração final. Os países do Brics sempre chegam a um acordo e promulgam declarações com objetivos convergentes, apesar das enormes difirenças entre eles", assinala a pesquisadora da USP.

Estrada, da Sciences Po, também acredita que, apesar da profunda mudança na correlação de forças entre os membros, os líderes do Brics tentarão avançar, em Brasília, em temas que não sejam fonte de conflito. A declaração final do encontro deve suprimir parágrafos de defesa do multilateralismo, mas outros aspectos de cooperação serão, provavelmente, incrementados.

"A China é o motor, mas continua sendo interessante para Brasil, Rússia, Índia e África do Sul terem um relacionamento distinto, não apenas com Pequim, mas com os demais países da comunidade internacional através do Brics. "O grupo segue tendo um espaço de influência importante pela liderança da China, seu peso no mundo e perante os Estados Unidos", conclui Estrada.  

Bueno minimiza o impacto do alinhamento de Bolsonaro às políticas de Trump. "A cúpula em Brasília demonstra que a temática Brics faz parte de uma política de Estado e é uma das prioridades da política externa brasileira", afirma a especialista.

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