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Barbara Paz: Documentário premiado em Veneza é seu “filho-filme” com Babenco

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A atriz, produtora e cineasta, Bárbara Paz está em Portugal para apresentar o livro Mr. Babenco - Solóquio a dois sem um, na Feira Literária FOLIO, da cidade de Óbidos. Bárbara foi a companheira do cineasta Hector Babenco nos seus últimos anos de vida. Ela recentemente ganhou o prêmio do Festival de Veneza de Melhor Documentário com o filme Babenco - Alguém tem que ouvir o coração.

A atriz, produtora e diretora brasileira Bárbara Paz
A atriz, produtora e diretora brasileira Bárbara Paz Libia Florentino
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Por Adriana Niemeyer, correspondente da RFI em Lisboa

RFI: O filme é um retrato falado do livro, baseado em diálogos gravados por você?

Bárbara Paz: Na verdade, o filme acabou sendo um poema visual. O livro e o filme coincidentemente nasceram juntos: o filme é um recorte e, no livro, pude colocar mais coisas. O Solóquio começou com uns poemas que eu descobri, que o Hector guardava desde a sua adolescência, em Mar del Plata, na Argentina. Ele queria ter sido poeta.

Um dia, abri uma caixa e perguntei para ele o que era. Ele me respondeu que eram poemas que um dia gostaria de publicar. Então eu comecei a trabalhar neles. O fio condutor do livro é a nossa conversa, que passa pela infância, pela Argentina, depois pelo Brasil. Passa por ele fazendo figuração na Espanha e Itália até chegar no primeiro filme. Chegar ao Oscar, Hollywood, e a ser indicado para vários prêmios.

Desde os 38 anos, ele teve de lutar contra a sua doença, fazendo filmes para sobreviver. Ele dizia: “eu não sei o que vem primeiro filmar ou estar vivo”.

RFI: Você já tinha pensado em ser documentarista? Ou foi uma maneira de perpetuar a imagem e a história de Hector Babenco?

Ser documentarista sempre foi meu sonho. Eu sou muito apaixonada pelo ser humano, pelos contadores de histórias. Acho que a história de toda gente dá um filme.

Além disso, sempre, fui muito cinéfila, mas o meu trabalho de atriz falou mais alto. Casei com um cineasta que me deu todo o aval, todo o respeito e a confiança de que eu posso. Ele falava que estava me entregando o passaporte dele para eu confiar em mim mesma, no meu olhar. Então, o filme nasceu bonito e me fez trazer um Leão de Ouro de Veneza. Um voto de confiança muito grande para eu seguir.

A atriz, diretora e produtora Bárbara Paz
A atriz, diretora e produtora Bárbara Paz Libia Florentino

RFI: Além da emoção de recebê-lo, você sentiu que este seria mais um prêmio também para o Babenco?

Eu sabia que receberia um prêmio, mas não sabia que seria o melhor. Não sabia que existia só um prêmio nessa categoria. O que veio na minha cabeça primeiro é que o mundo precisa mais de amor, porque este é um filme de amor à vida, ao cinema. Quando eu recebi aquele troféu, pensei: “Como ele teria gostado de receber este Leão”. Ele é nosso, mas é mais para ele. É o nosso filho-filme.

RFI: Babenco te dirigiu no teatro. Lembro que você veio acompanhada com ele a Lisboa e apresentou a peça Hell. Como foi dirigir um grande cineasta e fazer com que ele falasse para as câmeras, do fundo do coração?

Acima de tudo, nós nos tornamos os nossos melhores amigos, pessoas fundamentais uma para a outra. O que eu sinto mais falta são as nossas longas conversas, diálogos e discussões sobre cinema, literatura, a vida. A gente tinha uma parceria muito boa e dirigir o Babenco, que era uma pessoa difícil e um mito, não era fácil. Ele foi se libertando aos pouquinhos e foi passando o bastão.

Mas demorou um pouco para vir essa confiança. No filme, tem uma cena em que estamos discutindo “que filme é esse que estamos fazendo?”. Ele começa a fala uma coisa e eu brigo. Coloquei tudo, tanto no filme como no livro: está o bruto. Havia uma relação homem-mulher, mestre-aprendiz. Essa também é a beleza do filme: essa construção para uma nova cineasta, a quem ele está passando o aval.

RFI: Você conheceu o Babenco numa Feira Literária, a FLIP. E agora você apresenta o livro em outra feira literária, a FOLIO. É como fechar um ciclo?

São várias coincidências. No dia que eu lancei este livro na FLIP, dia 13 de julho, fazia três anos que ele tinha falecido. Também nesse mesmo dia, recebi a notícia de que tinha passado para o Festival de Veneza. Agora, estou aqui em Portugal, no FOLIO.

Acho que são ciclos que estão se fechando, mas abrindo outros caminhos, porque estou levando a história dele para o mundo. Perpetuando, deixando a história viva, dessa pessoa da qual muita gente não tem noção do que representou. Trazendo de volta o que ele representou para o cinema nacional e também como ser humano e pensador. Acho que se eu conseguir levar para as pessoas o pouquinho do que ele me ensinou, já vai valer a pena.

RFI: Quais são os seus planos para o futuro: focar mais na carreira de atriz ou de cineasta?

O filme começa a viajar o mundo. Vamos estrear em Mar del Plata, a cidade dele, depois vamos ao Egito, no Festival do Cairo. Estamos entrando em vários festivais. Em Portugal, vamos ver se vamos ao FESTin. Vamos traduzir o livro em inglês e espanhol, para andarem sempre juntos.

Quanto a mim, acho que a gente pode tudo. Sempre achei que meu primeiro livro seria focado na minha história, e foi sobre um homem que eu amei. O Hector sempre falava que tínhamos que fazer o primeiro para fazer o segundo. Já estou esboçando um roteiro e, se Deus quiser, no próximo ano estarei filmando.

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