Série sobre índios da Amazônia rende prêmio a fotógrafa brasileira em Perpignan
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Ouvir - 07:04
Com o trabalho “Perda de Identidade Cultural”, que retrata a vida dos índios da tribo Waurá, do Alto Xingu, a fotógrafa mineira Liza Moura recebeu o prêmio “Découverte” (Descoberta, em português) do Perpignan OFF. O evento é paralelo ao Festival Visa Pour l’Image de fotojornalismo.
A série de 15 fotos exibida por Liza na 25ª edição do Perpignan OFF chamou a atenção do júri e também dos participantes presentes na cidade do sul da França, que tradicionalmente no mês de setembro seleciona os melhores trabalhos de fotógrafos contemporâneos.
Financeiramente o prêmio “Découverte” é simbólico, de € 300 (R$1.340), mas garante uma grande visibilidade profissional para o contemplado. Assim, o trabalho de Liza sobre o que considera um complexo processo de transformação cultural de comunidades indígenas ganhou uma nova dimensão.
“Resolvi fazer essa série porque muita gente tem a ideia de que o índio sempre está em festa, está sempre feliz, caça com arco e flecha. Não tem problema nenhum, exceto que a Amazônia está pegando fogo. Quando o índio tem contato com o branco, ele começa a querer ter a vida do homem branco, aí ele vai perdendo sua identidade cultural e por quê? Porque fica sem mais a vontade de preservar a floresta”, afirma.
Segundo Liza, esse contato com outros setores da sociedade muitas vezes resulta em trocas que desfiguram a natureza dos indígenas. “Muitos não ligam mais se vão queimar a floresta ou derrubar a mata, contanto que recebam dinheiro para ter acesso a objetos como celulares, televisão, fogão, ets. Eles não têm como usar isso lá, mas querem ter. Ao mesmo tempo que vão perdendo essa identidade de preservar a floresta, perdem sua própria identidade”, observa.
Em sua experiência com a tribo Waurá, no Alto Xingu, a fotógrafa registrou cenas que simbolizam os novos costumes que revelam um maior descuidado com o ambiente natural e seu entorno como o consumo de plástico, a presença de fogão à gás dentro das ocas, e até motocicletas dentro de rios, poluindo uma importante fonte de alimento.
“A natureza está sendo degradada, eles estão perdendo essa identidade de defender a floresta. É complexo e resolvi mostrar que as pessoas devem ter consciência de que não podem deixar nos índios a vontade de querer ser como nós, homens brancos, como eles dizem”.
Bisneta de índia, a mineira se interessou pelo tema ao buscar compreender melhor suas raízes e história. Ao visitar uma tribo, diz ter levado um “choque” e por isso, resolveu usar imagens para denunciar o processo de perda identidade de muitos indígenas.
“É alarmante, por isso essa minha vontade de mostrar ao mundo o que está acontecendo. Daí veio essa série”, acrescentou.
Apesar das cores associadas à exuberância da floresta amazônica, Liza Moura optou pelo preto e branco, linguagem habitualmente usada em outros projetos. “Mergulhei ainda mais no preto e branco porque permite focar ainda mais no assunto. Isto permite também mostrar que, se a floresta morrer, tudo ficará em preto e branco”, justifica.
Atualidade deu mais visibilidade
A série “Perda de Identidade Cultural” foi apresentada na mostra Perpignan OFF no mesmo período da divulgação das notícias sobre as queimadas e as consequências do desflorestamento na região amazônica. Liza constatou um maior interesse pelo seu trabalho devido a atualidade que resultou em polêmicas entre os governos da França e do Brasil.
“Deu muita visibilidade. No dia da vernissage, todo mundo que chegava perto de mim, dizia: É um absurdo o que está acontecendo no teu país. A floresta está pegando fogo e olhamos para estas fotos e vimos que há muita coisa além do fogo. Outros ainda diziam: é ainda mais triste ver (a exposição) agora. Além dos incêndios, ainda há esta questão da perda de identidade cultural dos indígenas. Uma coisa ajudou a outra para mostrar que é muito grave o que está acontecendo no Brasil”, diz.
Clique no link abaixo para ver a íntegra da entrevista em vídeo
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