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Brasil/ Educação

Investir em pesquisa é garantia de independência e soberania, diz cientista

Os cortes nas 11,8 mil novas bolsas de pós-graduação da Capes, somados aos riscos que pairam sobre as 80 mil bolsas de pesquisa do CNPQ, ameaçam o desenvolvimento social e econômico do país. Além disso, também colocam em risco até a soberania do Brasil, que fica mais dependente de tecnologias estrangeiras para conseguir progredir.

Um biólogo trabalha com células de mosquito no laboratório de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 11/02/2016.
Um biólogo trabalha com células de mosquito no laboratório de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 11/02/2016. REUTERS/Paulo Whitaker
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“É uma questão de independência e, mais ainda, de soberania”, destaca o cientista Leandro Tessler, físico e especialista em educação superior da Universidade de Campinas (Unicamp). “O grande risco desse desinvestimento que o Brasil está fazendo é ficar de fora das próximas ondas tecnológicas e não ter gente capaz nem de entender o que está acontecendo. Até em países que passaram por graves crises, é muito raro cortar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento dessa forma, porque eles são motores da atividade econômica”, sublinha o pesquisador.

Tessler observa que o agronegócio, principal propulsor do crescimento brasileiro, só é o que é graças às pesquisas que agregaram tecnologia à agricultura. Os materiais

nióbio e grafeno, exaltados por Jair Bolsonaro como potenciais alavancas da economia, de nada valem sem a tecnologia para recuperá-los e transformá-los, frisa o professor. “O que agrega valor ao nióbio não é ele em si, mas o que se faz com ele. Esse é só um exemplo do quanto as pesquisas são fundamentais.”

Tessler chama atenção ainda para o caso da Coreia do Sul, que até os anos 1980 tinha um PIB per capita inferior ao do Brasil, e hoje é um país desenvolvido graças aos investimentos colossais em pesquisa e desenvolvimento. “O resultado é que, hoje, as marcas coreanas são conhecidas no mundo inteiro”, destaca o físico da Unicamp.

Disparidade em relação a países da OCDE

Camila de Moraes, analista de Educação da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), ressalta que “existe um entendimento consolidado de que o investimento em pesquisa e desenvolvimento é essencial para o desenvolvimento econômico de um país, principalmente os recursos públicos”.

No seu relatório de 2018 sobre a educação no mundo, a entidade pontuava que o Brasil já se situava abaixo dos países desenvolvidos nos investimentos nesta área, com 1,3% do PIB, contra cerca de 2% nas economias ricas. A meta da União Europeia, ainda mais ambiciosa, é de 3% das riquezas direcionadas a bancar pesquisa e desenvolvimento.

Uma comparação mais aprofundada sobre o assunto é complexa: o Brasil não disponibiliza dados detalhados a respeito da questão. “De qualquer forma, no Brasil, um percentual muito pequeno da população tem ensino superior (17%) e um percentual ainda menor tem mestrado ou doutorado, muito abaixo dos países da OCDE. No máximo 0,2% da população brasileira tem doutorado, e na OCDE o número chega a 1,5%”, afirma Camila. “No mestrado, a diferença é ainda maior, já que chega a 13% da população dos países da OCDE com mestrado”, nota a especialista.

Fuga de cérebros

A analista explica que a organização não prevê um mínimo de investimentos em pós-graduação. O Brasil é candidato a integrar a entidade, um objetivo que ganhou impulso sob Bolsonaro. “No procedimento de adesão, cada equipe das diferentes áreas da OCDE faz um relatório e pode dar recomendações, mas não existe ua meta a cumprir”, frisa Camila.  

Nesse contexto de enxugamento de recursos, a fuga de cérebros do Brasil é um fenômeno que já está curso, nota Tessler. “Está acontecendo e vai continuar, não só na universidade como no mercado de trabalho qualificado. Não consigo imaginar um jovem brasileiro formado no exterior querer voltar para o Brasil nessas condições”, lamenta o pesquisador.

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