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“Sou nômade e híbrida”, diz cantora e artista visual Lica Cecato

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Artista multifacetada, com trânsito entre a música, artes visuais, poesia e dança, a brasileira Lica Cecato expôs durante o verão parisiense, na Caféothèque de Paris, suas obras inspiradas em grãos de café.

A cantora e artista visual, Lica Cecato nos estúdios da RFI.
A cantora e artista visual, Lica Cecato nos estúdios da RFI. RFI
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A exposição “Synchronicités”, sob curadoria de Christina Montenegro, foi o mais recente trabalho da paulistana desde o lançamento do disco Quero Querer, no ano passado, para celebrar os 40 anos de carreira musical. 

A obra traz composições de Lica com arranjos e concepção musical do maestro multi-instrumentista, Paulo Calasans, com quem descobriu ter uma ligação histórica de familiares com a música. Os avós da dupla tocaram juntos em uma orquestra em Jundiaí, interior de São Paulo. Da coincidência surgiu a ideia de realizarem um trabalho conjunto.

“Nós decidimos que seria um ótimo matrimônio. É um trabalho também de coragem por ter feito só um disco com ele na concepção harmônica e arranjos do disco”, revela.

Em Quero Querer, Lica dividiu a gravação com o maranhense Zeca Baleiro, que conheceu durante um concerto na Itália. O disco traz ainda as participações especiais da amiga Zélia Duncan e da italiana Mariella Nava, que divide com ela a versão em italiano (Voglio Volere).

O resultado, na sua avaliação, foi totalmente surpreendente. “Foi inesperado. Tem vários ritmos no CD, músicas que são alegres, xote, xaxado, choro. Tem muita coisa de Brasil”, admite.

O complexo infantil por ter uma voz grave hoje é uma agradável lembrança na memória. Mal podia imaginar que a profecia do pai de uma amiga de escola, de que se tornaria cantora, se confirmaria.

Carreira começou na Itália

A carreira desabrochou na Itália, aos 22 anos, quando decidiu investir na música para sobreviver, abandonando os trabalhos como desenhista. Aos 24, teve o que chamou de “sorte e privilégio”, ao ser convidada para abrir o concerto do famoso jazzista Sun Ra (EUA, 1914-1993).

“Era eu e meu violão, não tinha bateria eletrônica. Cantava música dos ‘malditos’ como Jorge Mautner, Macalé e as canções mais desconhecidas do Caetano e do Gil”, recorda.

Na sequência foi para Boston e frequentou a Berkely College of Music e chegou a ser contemplada com o prestigioso prêmio Sarah Vaughan.

“Meu estilo é híbrido e nômade”, revela ao tentar definir seu estilo musical. Com avô maestro em Jundiaí, o pai saxofonista e os tios músicos, as influências familiares lhe abriram as portas para uma formação eclética e com muito jazz. “Ouvi Ben Webster bem antes de ter ouvido samba. Tenho afinidade com jazz, e vem também do fato de que meu pai me ensinou a cantar com o saxofone. ”

Apesar da longa experiência como cantora, Lica se prepara para lançar oficialmente seu mais novo trabalho, o disco Call Porter, uma homenagem a Cole Porter, um dos maiores nomes do jazz e da música americana. Ela interpreta grandes clássicos do músico como Love for Sale, Night and Day, Every Time We Say Goodbye, entre outros.

Ao falar dessa obra, ela destaca a parceria com o produtor Paolo Botaro. “Ele trouxe Cole Porter para uma linguagem atual. É como um musical através do tempo”, avalia. E o resultado não poderia ser outro. “Porter era um desaforado. E o disco é desaforado porque é uma viagem ao tempo que leva a música de Cole Porter não somente ao jazz, mas também ao trash metal (Let’s do it, Let’s fall in love), rock progressivo (I’ve got you under my skin). Entrei nessa viagem. Para mim foi uma descoberta como cantora de que posso cantar em vários ritmos”, diz.

Outras artes

Assim como divide seu tempo entre Rio de Janeiro, Veneza e Kamakura, cidade no interior do Japão, Lica também transita por diferentes expressões artísticas. Além da música, sua principal atividade, encontra inspiração para criar desenhos, telas, elaborar capas de seus discos com a técnica japonesa katagami, além de trabalhos com vídeoarte e literatura.

Ela gosta de ser definida como uma personagem renascentista, como destacou o crítico Antonio Carlos Miguel, que assina o texto de seu álbum Quero Querer.

“Na Renascença, o artista era um criador. E você utiliza os meios para você transmitir o que você tem por dentro. O trabalho da alma, do coração, da mente, sai pelos meios que você escolhe e que melhor te traduzem no momento”, teoriza.

Seu ritmo de viagens e de produção é intenso e, aos 63 anos, não pretende desacelerar. “Essa é uma maneira mito rica de viver. Por enquanto, não conseguiria viver de maneira diferente”, afirma.

 

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