Afastamento de França e Brasil vem desde o impeachment, lembra cientista político
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Ouvir - 07:10
A França e o Brasil trocam duras farpas desde a semana passada. O clima esquentou com as queimadas na Amazônia e, na sequência, chegou a atingir até a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Mas o afastamento entre os dois países não vem de agora: desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, Paris “dá um gelo” em Brasília, lembra o cientista político Gaspar Estrada, diretor adjunto do Observatório da América Latina da universidade Sciences Po.
“Desde a saída da Dilma Rousseff do Planalto, não havia visitas de ministros franceses a Brasília”, recorda o pesquisador.
No fim de julho, houve uma tentativa de reaproximação com a viagem do ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, ao país. No entanto, a ida ao cabeleireiro de Jair Bolsonaro, retransmitida nas redes sociais no mesmo horário em que havia previsto receber o chanceler francês, estragou qualquer possibilidade de entendimento.
“As relações pessoais entre Bolsonaro e Macron não estão permitindo que as relações diplomáticas melhorem, e a crise atual aprofunda o distanciamento”, avalia Estrada.
Ele espera, entretanto, que a tensão baixe nas próximas semanas, com o fim da cúpula do G7 “de Macron”, na qual o líder francês se esforçou para atingir um protagonismo internacional.
“Os dois presidentes vão voltar às suas agendas, mas o que aconteceu terá consequências, não só nas relações entre França e Brasil como entre a União Europeia e o Mercosul”, ressalta o especialista em assuntos latino-americanos, em referência ao acordo de livre comércio entre os dois blocos. Nas circunstâncias atuais, Macron garante que não vai ratificar o tratado.
Distanciamento de Trump
Estrada chama a atenção para o fato de que o presidente americano, Donald Trump, se manteve alheio à polêmica entre o francês e o brasileiro, apesar de todo o destaque que o assunto teve nos últimos dias. Para o analista, é um sinal de que a política externa brasileira, alinhada aos Estados Unidos, “não está dando os resultados esperados”.
“Trump, embora apoie o governo Bolsonaro, não vetou que o G7 fizesse uma proposta de doação de US$ 20 milhões, por exemplo. Vemos que os interesses de Trump são os interesses dos Estados Unidos, e não apoiar os interesses do Brasil”, indica o professor. “Brasil está numa posição de isolamento neste assunto da Amazônia.”
O especialista sublinha ainda que, por mais que Bolsonaro se esforce em demonstrar que está no controle da situação, ao rejeitar a proposta de ajuda financeira oferecida pelo G7, “a crise na Amazônia é regional”. “No Itamaraty, a questão da soberania tem sido muito importante. Mas o fato é que os incêndios não ocorrem só no Brasil. A solução tem que ser regional, com a participação dos outros países”, afirma o professor.
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