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Afastamento de França e Brasil vem desde o impeachment, lembra cientista político

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A França e o Brasil trocam duras farpas desde a semana passada. O clima esquentou com as queimadas na Amazônia e, na sequência, chegou a atingir até a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Mas o afastamento entre os dois países não vem de agora: desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, Paris “dá um gelo” em Brasília, lembra o cientista político Gaspar Estrada, diretor adjunto do Observatório da América Latina da universidade Sciences Po.

Gaspard Estrada, cientista político do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po)
Gaspard Estrada, cientista político do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) RFI
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“Desde a saída da Dilma Rousseff do Planalto, não havia visitas de ministros franceses a Brasília”, recorda o pesquisador.

No fim de julho, houve uma tentativa de reaproximação com a viagem do ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, ao país. No entanto, a ida ao cabeleireiro de Jair Bolsonaro, retransmitida nas redes sociais no mesmo horário em que havia previsto receber o chanceler francês, estragou qualquer possibilidade de entendimento.  

“As relações pessoais entre Bolsonaro e Macron não estão permitindo que as relações diplomáticas melhorem, e a crise atual aprofunda o distanciamento”, avalia Estrada.

Ele espera, entretanto, que a tensão baixe nas próximas semanas, com o fim da cúpula do G7 “de Macron”, na qual o líder francês se esforçou para atingir um protagonismo internacional.

“Os dois presidentes vão voltar às suas agendas, mas o que aconteceu terá consequências, não só nas relações entre França e Brasil como entre a União Europeia e o Mercosul”, ressalta o especialista em assuntos latino-americanos, em referência ao acordo de livre comércio entre os dois blocos. Nas circunstâncias atuais, Macron garante que não vai ratificar o tratado.  

Distanciamento de Trump

Estrada chama a atenção para o fato de que o presidente americano, Donald Trump, se manteve alheio à polêmica entre o francês e o brasileiro, apesar de todo o destaque que o assunto teve nos últimos dias. Para o analista, é um sinal de que a política externa brasileira, alinhada aos Estados Unidos, “não está dando os resultados esperados”.

“Trump, embora apoie o governo Bolsonaro, não vetou que o G7 fizesse uma proposta de doação de US$ 20 milhões, por exemplo. Vemos que os interesses de Trump são os interesses dos Estados Unidos, e não apoiar os interesses do Brasil”, indica o professor. “Brasil está numa posição de isolamento neste assunto da Amazônia.”

O especialista sublinha ainda que, por mais que Bolsonaro se esforce em demonstrar que está no controle da situação, ao rejeitar a proposta de ajuda financeira oferecida pelo G7, “a crise na Amazônia é regional”. “No Itamaraty, a questão da soberania tem sido muito importante. Mas o fato é que os incêndios não ocorrem só no Brasil. A solução tem que ser regional, com a participação dos outros países”, afirma o professor.

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