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Banda Natiruts lota casa de shows em Paris com 'I love', "ampliando raízes" do reggae

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A banda braziliense Natiruts se projetou no cenário musical brasileiro em meados da década de 1990, com canções como "Beija-Flor", inventando uma roupagem pop para o então debutante reggae made in Brazil. Mais de duas décadas depois, a banda continua arrastando legiões de fãs, como durante a apresentação de seu último disco, "I Love", na casa de shows Elysée Montmartre, que teve ingressos esgotados para esta única apresentação na capital francesa. A RFI esteve no camarim e conversou com o vocal e líder do grupo, Alexandro Carlo, antes do espetáculo. O Natiruts segue viagem após apresentações lotadas na Suíça e em Portugal e, depois de Paris, leva seus ritmos para Barcelona, antes de gravar um DVD na prestigiosa casa de shows Luna Park, em Buenos Aires.

Alexandre Carlo, da banda Natiruts, conversou com a RFI no camarim da casa de shows Elysée Montmartre, em Paris, onde apresentou o show de seu novo disco, "I love".
Alexandre Carlo, da banda Natiruts, conversou com a RFI no camarim da casa de shows Elysée Montmartre, em Paris, onde apresentou o show de seu novo disco, "I love". RFI/Márcia Bechara
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Alexandre Carlo, vocalista e líder da banda Natiruts, que viaja com 12 integrantes nesta turnê europeia de 2019, acredita que a vitalidade da banda se deve a uma questão de "honestidade sobre o seu próprio trabalho". "Os discos são sempre diferentes, seja na sonoridade, seja nas influências que buscamos", diz. 

O novo disco "I love", lançado em dezembro de 2018 no Brasil, é o oitavo CD de inéditas da banda e traz uma miscelânea de ritmos, sempre fraseados com a pegada do reggae, mas com participações e feats como Gilberto Gil, Tiaguinho e a banda norte-americana Morgan Heritage. Um dos ritmos que o Natiruts foi buscar no disco para inventar o que Alexandre chama de "dancefloor abrasileirado" foi o xaxado nordestino.

"Depois que a gente começou a ir para o Caribe tocar, um lugar riquíssimo de ritmos, começamos a ver que existem muitas coisas similares a ritmos oriundos do Brasil. E o xaxado tem muito a ver com o dancehall. É quase a mesma batida", conta o músico. "Tentamos fazer essa brincadeira. Pegar o eletrônico do dancehall mas colocando um tempero melódico e de letra do xaxado brasileiro", diz. "Sempre tem gente dizendo que estamos perdendo as raízes, mas não estamos perdendo, estamos ampliando raízes", afirma.

A banda Natiruts lotou a casa de shows Elysée Montmartre no 18° distrito de Paris, em 22 de agosto de 2019.
A banda Natiruts lotou a casa de shows Elysée Montmartre no 18° distrito de Paris, em 22 de agosto de 2019. RFI/Márcia Bechara

Alexandre explica o que ele imagina ser a razão de tanto sucesso. "São dois motivos. O reggae hoje em dia se inseriu dentro da cultura mundial como um estilo, porque até então era apenas uma coisa sazonal de verão", avalia. "Hoje isso mudou. O reggae, como o rock nos anos 1970, ele se inseriu na cultura mundial. O outro ponto é o interesse pelo que vem do Brasil, um dos grandes pólos culturais do mundo", diz o cantor.

Estilo de vida ou mero filão comercial? Para Alexandro Carlo, o reggae hoje seria "as duas coisas". "É como o punk. Sempre existe o lado comercial. Hoje o verde, amarelo e vermelho [cores que identificam o gênero musical, numa referência à Jamaica] é universal, principalmente por causa do Bob Marley", lembra. "Essa difusão comercial acaba trazendo junto a coisa da filosofia, a parte espiritual, a preservação do meio ambiente, essa coisa do 'one love' que o Bob Marley propôs. É muito bonito e cabe para todos os povos", diz Carlo, que vestia uma camiseta com os dizeres "respect your mother" ["respeite sua mãe", numa alusão ao planeta Terra] e que pediu palmas para a Amazônia "em perigo" no início do show em Paris.

Alexandre considera que o som do Natiruts "evoluiu", "porque continua sendo um reflexo das nossas vidas". "Nosso som amadurece junte conosco. Essa honestidade é uma das coisas principais que tentamos colocar. Não faria sentido pra gente estar como Natiruts se não fosse para propor brasilidades dentro do reggae", afirma o artista. "Claro que existe todo um movimento, mas, sem dúvida nenhuma, o reconhecimento do reggae brasileiro fora do país foi feito pelo Natiruts", diz.

Reggae de Brasília?

"Brasília é uma capital super musical. Talvez pela constituição do seu povo. Brasília foi inventada em 1960, pegou um pouco de cada lugar do Brasil e colocou ali no Centro", comenta. "Ja vi sociólogos brazilienses comentando que a música é uma das ferramentas da saudade. Parece que quando pessoas do Rio, do Ceará ou de Manaus se reuniam no domingo para cozinhar, tocavam as músicas de seus estados. E a minha geração de Brasília cresceu com isso", conta.

Brasília foi também terra e palco de bandas que forjaram o rock brasileiro, como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial. "Sem dúvida. Era a classe média de Brasília, o avião, o plano-piloto, que tinha um contato maior com a cultura que vinha de fora do país, com toda aquela geração dos anos 1970, o Jimi Hendrix, o Joy Division", lembra.

Após Paris, o Natiruts está de malas prontas para um novo desafio: levar o show "I love" para o público catalão, após uma turnê bem-sucedida em Genebra, além de algumas cidades portuguesas.

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