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Metáfora do Brasil atual, peça de Koltès desembarca em São Paulo

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Com estreia prevista para o dia 6 de setembro em São Paulo, a montagem da peça Cais Oeste reúne atores brasileiros para contar uma das histórias mais marcantes do francês Bernard-Marie Koltès. A RFI conversou com o diretor Cyril Desclés, um especialista no trabalho do dramaturgo morto há 30 anos.

Cyril Descles diretor de teatro
Cyril Descles diretor de teatro RFI
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Para assistir à entrevista completa, clique no vídeo abaixo.

O texto, traduzido para o português por Carolina Gonzalez, aborda o encontro improvável de oito pessoas em torno de um galpão, às margens de um rio de uma grande cidade portuária.

“A peça começa com um empresário que desviou dinheiro e quer cometer suicídio para não ver a própria queda. Ele decide se matar em um bairro abandonado, onde vivem imigrantes e refugiados que querem se aproveitar da presença dele”, conta Desclés, diretor artístico da Companhia francesa l’Embarcadère. 

É uma história improvável de personagens que não teriam nenhum motivo para se encontrar. Um deles é esse homem que perdeu tudo, que está no seu carro de luxo com a assistente em frente ao galpão abandonado. A presença dele desperta inveja nos imigrantes sem documentos.

“É um choque de classes sociais. Tem essa pessoa muito rica, que chega com um Jaguar, com um isqueiro luxuoso, e ele tem inveja das pessoas que não têm nada, que apenas sobrevivem. Por isso me parece que essa peça tem muito a ver com o Brasil,” afirma Desclés, que diz ser um apaixonado pelo país latino-americano.

“É difícil de explicar porque, mas eu gosto desse país, onde estive pela primeira vez há mais de vinte anos e que tem uma energia que não existe na França”, diz.

Fracasso na primeira montagem

De acordo com alguns críticos, o texto é misterioso como um bom romance policial e apresenta uma visão do mundo no qual vivemos. Porém, a sua estréia, em 1986, não foi um sucesso.

“Prestou-se muita atenção ao cenário, mas não à essência do texto”, explica o diretor. “E Koltès ficou muito decepcionado. No ano seguinte, ele assistiu a um filme do Cacá Diegues, ‘Um Trem para as Estrelas’ e disse ‘é um Cais Oeste que deu certo’. Então, é uma peça que, apesar de ter sido escrita 35 anos atrás, parece muito forte metaforicamente para falar de hoje”, completa.

O autor de 'Cais Oeste' explora as diferenças entre classes sociais. Para o diretor da companhia, o assunto cabe muito bem no Brasil atual, um país desigual, com uma sociedade profundamente miscigenada e repleto de tensões sociais.

“O projeto foi lançado em 2015 e levamos quatro anos para viabilizar essa produção. Não foi de propósito, mas agora faz muito mais sentido montar esse espetáculo no Brasil por causa da situação política do país e todo esse processo que levou até a eleição do Bolsonaro”, afirma Desclés. “Tem um personagem que é um ex-capitão do Exército que elogia as armas de fogo”, conta.

"A corrupção no Brasil não é nova, mas esse assunto se tornou mais comum nos últimos três anos, com a Operação Lava Jato. Quando eu falo de um homem corrupto que desviou dinheiro, todo mundo reconhece”, conclui.

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