"Camocim", documentário de Quentin Delaroche, recupera juventude idealista do interior de Pernambuco, no caos do esvaziamento ideológico do Brasil
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Um cineasta francês que penetra nos meandros do processo político brasileiro, retratando os bastidores das eleições municipais em Camocim de São Félix, uma pequena cidade do inteiror de Pernambuco. O RFI Convida recebeu nesta quarta-feira (18) o documentarista Quentin Delaroche. Seu filme, "Camocim", será exibido em Paris nesta quarta-feira (19).
*Para ver a entrevista na íntegra, clique no vídeo ao fim do texto
Uma pequena cidade do interior de Pernambuco que, a cada quatro anos, vê seu cotidiano ser revirado pela chegada das eleições municipais, que dividem o local e despertam paixões. Camocim, o terceiro documentário Quentin Delaroche, é uma metáfora do Brasil, segundo o diretor.
"Filmar em Camocim de São Félix foi como colocar uma lupa sobre o cenário brasileiro global", diz o diretor. "Filmamos em 2016, era o processo de impeachment durante o golpe contra Dilma Rousseff, e a sociedade estava muito dividida. Isso fica muito explícito no documentário numa escala local, fica maior essa bipolarização", afirma.
"Outro elemento muito claro no filme é a questão do esvaziamento ideológico dentro das campanhas [políticas]. Sinto isso no Brasil de forma geral. Falamos muito sobre, a política é onipresente, mas muita gente deseja esse esvaziamento ideológico", diz o francês. Para o diretor, a sociedade brasileira coloca a política "como um mal, como algo que se deve combater". "Por isso surgiu a extrema direita [no Brasil], com a possibilidade do discurso antissistema", diz.
"Ideia falsa"
"Isso é uma ideia falsa, de Escola Sem Partido, é justamente o contrário. (...) O filme acompanha uma juventude, com a Mayara, cabo eleitoral de um vereador amigo dela, César Lucena, uma juventude idealista que acredita na política. Para eles, a política é uma solução para transformar a sociedade, não um problema", diz.
"Camocim", que será finalmente exibido em Paris nesta quarta-feira (19), no cinema Les 3 Luxembourg, no 6° distrito da capital, é o terceiro documentário de Delaroche, depois de Nomad's Land, onde ele seguiu uma trupe de circo pelos quatro cantos da França, e Marie la dompteuse de crabe, onde o diretor retrata uma jovem mãe que luta contra um câncer em fase terminal.
Quentin Delaroche assina também a edição de imagens de outro documentário, Indianara, exibido em 2019 na mostra paralela L'Acid em Cannes. O filme, de Aude Chevalier-Beaumel et Marcelo Barbosa, retrata a vida da militante e fundadora revolucionaria da Casa Nem, um lugar histórico que acolhe travestis e a população trans no Rio de Janeiro.
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