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A palavra reinventada por Angela Detanico e Rafael Lain em exposição no Grand Palais

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“Irregular, áspera, cheia de cavidades e proeminências”. A descrição - arrebatada e poética - de Galileu Galilei ao contemplar a Lua pela primeira vez, há 410 anos, é inspiração e matéria de trabalho dos artistas Angela Detanico e Rafael Lain para a obra “28 Luas”, que integra a exposição “A Lua, da Viagem Real às Viagens Imaginárias”, no Grand Palais, em Paris, que celebra os primeiros passos do homem na Lua, há 50 anos.

Angela Detanico e Rafael Lain
Angela Detanico e Rafael Lain RFI
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Andreia Durão, colaboração para a RFI Brasil

O desafio humano para traduzir aquilo que ele não consegue definir ou explicar é um tema recorrente na produção desse casal, que leva à exposição uma vídeo-arte, em que o depoimento do astrônomo italiano é diagramado de forma animada, revelando as fases da Lua. O texto original e o telescópio utilizado por Galileu completam a instalação.

O cruzamento de suportes, muito utilizado por Detanico e Lain, está alinhado à pluralidade da mostra, em que dialogam o fascínio dos artistas, mas também dos cientistas pelo astro, e estilos, que vão da arte clássica à contemporânea. “A gente se interessa muito pela forma como o ser humano expressa as coisas que são difíceis de representar, como as estrelas ou a cartografia”, conta Rafael Lain.

Para dar voz a essa busca pela compreensão e interpretação, a linguagem é importante objeto de trabalho do coletivo, discurso que, ao mesmo tempo que questiona, ressignifica. “Nós tentamos entrever, no uso da linguagem, como o homem articula e constrói o conhecimento que ele tem do mundo”, explica Angela Detanico.

Em um momento em que há uma enorme oferta de informação e de meios para se expressar e interagir, o diálogo humano está em permanente construção, seja na intenção de se fazer entender, seja na intenção de entender o outro. “O nosso papel, enquanto artistas, é trabalhar com os meios da nossa época. Os artistas vão se apropriando dos novos meios e criando novos significados”, acredita Lain. “E a incompreensão também faz parte da linguagem. Nunca vamos chegar a uma verdade absoluta. Então a linguagem e a arte são essa grande aventura”, completa Detanico.

Reserva do Louvre em Liévin

A arte do coletivo Detanico Lain também poderá ser contemplada, em breve, no prédio que irá abrigar a reserva técnica do Museu do Louvre, projeto em desenvolvimento na cidade de Liévin, no Norte da França, com previsão de inauguração em setembro deste ano. No site-specific, os artistas criam uma obra que dialoga com a própria coleção do museu, sendo assim a única obra instalada do prédio. “Escolhemos uma seleção de 119 pinturas do Louvre, algumas mais outras menos icônicas, e com esse corpus, nós fizemos uma proposta de composição”, define Detanico.

Obra "28 moons", Exposição La Lune, no Grand Palais
Obra "28 moons", Exposição La Lune, no Grand Palais Angela Detanico e Rafael Lain

O site-specific para a reserva do Museu do Louvre será mais um projeto definitivo em um espaço público francês. O casal também assina a obra La Ceinture de Feu (A Cintura de Fogo, 2010), uma linha de néon vermelha instalada em torno do Institut de Physique du Globe de Paris. Uma alusão à linha imaginária que liga os muitos vulcões que fazem fronteira com o Oceano Pacífico. “Nosso desafio foi sintetizar toda a vasta atuação do instituto em uma obra para a fachada do prédio. E para os geólogos, a Ceinture de Feu é o verdadeiro Equador da Terra, separando o hemisfério de água de todos os outros continentes”, explica Lain.

Obra La Ceinture de Feu, no IPGP
Obra La Ceinture de Feu, no IPGP Angela Detanico e Rafael Lain

Gaúchos de Caxias do Sul, eles “migraram” primeiro para São Paulo, e chegaram a Paris para uma residência artística no Palais de Tokyo, em 2002. Suas obras já foram, e muitas ainda estão, expostas em diversos países da Europa, além da França, no Canadá, nos Estados Unidos e até no Japão. Em 2004, eles receberam o prêmio Nam June Paik, um dos mais prestigiosos prêmios de mídia-arte do mundo. E foram eles que representaram o Brasil na Bienal de Veneza em 2007. “Mas foi em Paris que nós começamos a ser artistas”, lembra Detanico.

Angela Detanico e Rafael Lain são representados em Paris pela galeria Martine Aboucaya. E para quem ainda não teve a oportunidade de ver as obras da dupla no Grand Palais, a exposição “A Lua, da Viagem Real às Viagens Imaginárias” pode ser visitada até 22 de julho.

 

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