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“Ataques contra universidades estimularam criação do Observatório do Conhecimento”, diz professora da UFRJ

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Lançado no mês de abril para defender as universidades públicas do Brasil e a liberdade acadêmica, o Observatório do Conhecimento reúne diversas associações de docentes de vários estados brasileiros. 

A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Lígia Bahia.
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Lígia Bahia. Foto: Divulgação Marco Fernandes/Adufrj
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Uma das responsáveis pela iniciativa, a professora de medicina Ligia Bahia, representante da ADUFRJ (Associação de Docentes da Universidade do Rio de Janeiro) indica que o Observatório se constitui como uma rede e uma plataforma de defesa das instituições públicas de ensino superior, que estão na mira do governo Bolsonaro.

“As universidades públicas estão sob forte ataque, em diversos sentidos, tanto de arrocho financeiro, com cortes de orçamento e contingenciamento de orçamento para as universidade e o sistema de ciência e tecnologia, como também ataque ideológico”, afirma.

Segundo Lígia, são “falsas” as afirmações de que as universidades são um “antro de pessoas que só difundem ideologia marxista, de esquerda”.  

“Esses ataques nos estimularam a ter a ideia do Observatório do Conhecimento”, justifica.

Entre seus principais objetivos, a entidade visa divulgar e expandir informações sobre as atividades do meio universitário para à população em geral. “Pretendemos dizer o que nós somos, o quê e como fazemos, quem são os alunos, quais seus destinos depois que deixam as universidades, e qual a contribuição delas par ao desenvolvimento econômico e social do país, enfim, qual tem sido a nossa participação na sociedade brasileira, afirma.  

O Observatório já estabeleceu três prioridades e ações, como a defesa da realização do Censo 2020. Programado para acontecer a cada 10 anos no país, ele está ameaçado de não existir por problemas de verbas e estrutura para fazer o grande estudo demográfico de mais de 210 milhões de habitantes.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Censo brasileiro, cujo questionário tem 150 perguntas, deveria ser simplificado e sugeriu que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria vender alguns de seus imóveis para financiar a pesquisa.  

“Vamos nos unir as instituições de produção de conhecimento no país. Nós temos uma atuação muito fragmentada e a pretensão de ser uma plataforma de união. Precisamos responder com conhecimento. O censo brasileiro é um dos mais baratos do planeta”, garante

Outra ação considerada prioritária do Observatório é em relação à CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo, que vai investigar possíveis irregularidades na gestão das universidades paulistas, especialmente em relação ao repasse de verbas públicas.

“Como vamos responder? Produzindo conhecimento sobre a relevância que as universidades públicas estaduais têm para São Paulo, o Brasil e o mundo. A USP é a maior universidade brasileira. Não faz sentido ter uma CPI como essa em um país com tanta desigualdade social e outras prioridades”, diz.

Outro eixo de atuação será o de retomar os recursos que estão sendo retirados das universidades e para os projetos de pesquisas.

Ações prioritárias

Durante o lançamento do Observatório, em Brasília, os representantes denunciaram uma queda brutal dos financiamentos para as instituições de ensino e pesquisa. De acordo com o levantamento da rede de docentes, a rede brasileira de produção de conhecimento perdeu R$ 38,7 bilhões em 5 anos e o maior corte (R$ 5 bi) foi registrado no período 2018-2019. Há o temor de que essa queda se acelere com o governo Bolsonaro.  

“Desde 2004 já houve redução de recursos, não podemos atribuir essa queda no contexto da eleição do Jair Bolsonaro. No entanto, o que acontece agora é que estamos com a metade da metade dos recursos”, afirma.

“Houve inclusive contingenciamento que retirou recursos da ciência e tecnologia. Bolsas de pesquisa e o projeto Sirius, um importante projeto de acelerador de partículas, estão ameaçados”, exemplifica.

O momento é grave e exige mobilização, diz a professora. “Estamos em uma situação na qual nos acusam de sermos improdutivos, mas na realidade não nos permitem produzir. O Observatório do Conhecimento tem que esclarecer o que está acontecendo”, acrescenta. A professora lamenta que os ataques podem comprometer o futuro da instituições e das pesquisas em curso.

 

“Nós temos uma capacidade de produção científica com pesquisadores, cientistas, professores e estudantes, extremamente boa, muito qualificada e de excelência, mas estamos sendo impedidos de dar continuidade a pesquisas que são extremamente relevantes”, afirma, citando projetos de vacinas contra a malária, zika e outras que têm impacto concreto na vida dos brasileiros.

O lançamento do Observatório na Câmara de Deputados, em Brasília, na presença de professores, parlamentares, pesquisadores e estudantes, revela a preocupação de se aproximar e sensibilizar os legisladores para a defesa das universidades públicas.

“Estamos priorizando nossa atuação com o poder legislativo. A partir do apoio desses parlamentares de um amplo espectro político será mais fácil retomar o diálogo com o poder executivo, especialmente com os ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia”.

De acordo com Lígia Bahia, o ministro da Ciência e tecnologia Marcos Pontes tem conversado com instituições como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências, mas não têm evitado os cortes nas verbas.  

Declaração "absurda" de Bolsonaro

O Observatório também não pretende polemizar com o presidente Jair Bolsonaro, que fez uma declaração com críticas indiretas às universidades públicas. “Poucas universidades têm pesquisa, e, dessas poucas, a grande parte está na iniciativa privada, como a Mackenzie em São Paulo”, disse o ex-capitão do Exército.

“Não é possível que o presidente não saiba que no Brasil 95% das pesquisas são produzidas pelas universidades públicas. Tradicionalmente elas foram as protagonistas desse sistema de ciência e tecnologia”, argumenta Ligia.

“Ele (Bolsonaro) foi infeliz, mas não estamos voltados a responder esse tipo de desinformação ou provocação. Foi uma afirmação tão absurda que não cabe resposta”, concluiu.

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