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Linha Direta

Ernesto Araújo chega a Buenos Aires para explicar nova política externa brasileira a argentinos

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Durante "palestra acadêmica" em Buenos Aires nesta terça-feira (9), o chanceler brasileiro Ernesto Araújo vai explicar o novo rumo internacional que pretende para o Brasil. A agenda se desenvolve também na quarta-feira (10), quando será tratada uma visita oficial do presidente Jair Bolsonaro à Argentina, ainda neste primeiro semestre, para não afugentar os votos a Mauricio Macri nas eleições de outubro.

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viaja nesta terça-feira a Buenos Aires
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viaja nesta terça-feira a Buenos Aires José Cruz/Agência Brasil
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chega a Buenos Aires na tarde desta terça-feira. No começo da noite, o ministro dará uma "palestra acadêmica" no prestigioso Conselho Argentino para as Relações Internacionais (CARI), sob o título "A Nova Política Externa do Brasil". Na plateia, diplomatas, acadêmicos e membros do governo argentino. Todos ainda um pouco desnorteados com o novo governo brasileiro.

Os argentinos ainda não conseguiram entender completamente o que o governo de Jair Bolsonaro pretende em matéria de política internacional, nem qual é o papel que a Argentina ocupa nas prioridades da nova política externa brasileira.

Até a posse de Bolsonaro, o parceiro mais estratégico do Brasil para a integração regional como plataforma de inserção internacional era a Argentina.

Essa será a primeira atividade de uma viagem tratada com certo hermetismo ao longo dos últimos dez dias. Nesse período, o governo Bolsonaro defendeu o golpe de 64 e negou a ditadura militar que se seguiu. Na Argentina, o assunto é extremamente sensível e poderia provocar manifestações de organizações de direitos humanos.

Reuniões bilaterais

As atividades oficiais continuam na quarta-feira. De manhã, o ministro terá uma reunião com o seu colega, o chanceler argentino, Jorge Faurie, no Palácio San Martín, sede da Diplomacia argentina.

Em pauta, a agenda bilateral e a do Mercosul. Assuntos como cooperação em matéria de segurança nas fronteiras e uma possível visita do presidente Jair Bolsonaro à Argentina.

A Argentina quer combater o crime organizado na fronteira com o Brasil, especialmente o tráfico de drogas e de armas. Se o crime organizado não respeita fronteiras, o combate precisa ser transnacional, defendem os dois países.

Logo em seguida, o ministro brasileiro deve-se reunir com o ministro da Produção da Argentina, Dante Sica, um profundo conhecedor da economia brasileira.

Alguns dos principais assuntos são a modernização do Mercosul, uma revisão na Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco e alguns assuntos mais espinhosos da relação como a recente oferta brasileira para os Estados Unidos venderem até 750 mil toneladas de trigo ao Brasil com isenção da TEC. O país mais prejudicado com essa decisão é a Argentina.

Por outro lado, o Brasil quer agora que a Argentina compre açúcar brasileiro, eliminando a reserva de mercado. "Açúcar" e "Automóveis", mesmo depois de 24 anos de União Alfandegária do Mercosul são os dois únicos itens de fora do livre comércio, por protecionismo argentino.

Trigo x Açúcar

No mês passado, o Brasil anunciou que reservaria uma quota de 750 mil toneladas de trigo aos Estados Unidos com isenção da alíquota de 10% cobrada aos países de fora do Mercosul.

O país mais afetado pela medida é a Argentina, responsável por 84,4% de todo o trigo que o Brasil importou no ano passado.

Os exportadores argentinos de trigo se queixaram e o governo argentino se mostrou preocupado. Em jogo, cerca de US£$ 300 milhões num momento em que o país precisa gerar divisas e superar uma forte recessão.

Depois da queixa argentina, o Brasil esclareceu que a quota de 750 mil toneladas não é reservada somente aos Estados Unidos, mas que pode ser usada por qualquer país que for competitivo, inclusive pela Argentina.

Isso acalmou as reclamações, mas não dissipou a preocupação. O Brasil acumula um importante superávit comercial com a Argentina nos últimos 20 anos e o ministro da Produção, Dante Sica, com quem Ernesto Araújo deve-se reunir amanhã, já disse que "o único beneficiário ao longo do Mercosul é o Brasil".

Já o ministro Ernesto Araújo, quando soube da queixa dos argentinos, disse que o Brasil vai pôr sobre a mesa o livre comércio do açúcar, produto sobre o qual os argentinos nunca quiseram negociar uma abertura do mercado.

Bolsonaro na Argentina

Quando viajou a Brasília em janeiro, o presidente Mauricio Macri convidou Bolsonaro à Argentina. O assunto estará na agenda nesta quarta-feira.

O governo argentino quer que Bolsonaro venha à Argentina ainda neste primeiro semestre, antes da reunião de Cúpula do Mercosul, que vai acontecer na cidade argentina de Santa Fé em julho.

A Argentina pretende que o Brasil veja o país como o seu principal aliado na região, depois das declarações das autoridades brasileiras de que o Chile é a referência econômica e o modelo a ser seguido. É como contrabalançar esse peso regional.

Porém, Mauricio Macri precisa manter um equilíbrio político num ano eleitoral no qual disputa a reeleição em outubro. Receber Bolsonaro ajudaria o presidente Macri a garantir o voto da direita argentina e de dar um sinal de que também fará necessárias reformas econômicas. Mas, por outro lado, receber Bolsonaro no segundo semestre, perto das eleições, pode ter o efeito contrário: afugentar o voto progressista.

As últimas declarações de Bolsonaro em negação do golpe de 64 e da ditadura militar caíram muito mal na Argentina, o país que mais condenou militares no mundo e onde as organizações de direitos humanos têm amplo apoio popular.

Uma foto de Macri com Bolsonaro às vésperas das eleições argentinas é tudo o que a oposição quer para tornar mais difícil a reeleição de Macri.

 

 

 

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