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Brasil abre mão de tratamento especial na OMC em troca de apoio americano na OCDE

O presidente Jair Bolsonaro encerrou nesta terça-feira, 19, uma visita oficial de negócios de três dias aos Estados Unidos. Voltou para casa com um trunfo na mala, o apoio de Donald Trump à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que promove cooperação e discussão de políticas públicas e econômicas para guiar os países membros.

Donald Trump (à dir.) et Jair Bolsonaro (à esq.) na Casa Branca, em 19 de março de 2019..
Donald Trump (à dir.) et Jair Bolsonaro (à esq.) na Casa Branca, em 19 de março de 2019.. REUTERS/Kevin Lamarque
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Nuria Saldanha, colaboração para a RFI Brasil, de Washington

O Brasil entrou com pedido para fazer parte do clube dos países ricos em 2017, mas enfrentava resistência das autoridades americanas. No entanto, a chancela não veio de graça. Em troca, Bolsonaro precisou renunciar ao status que confere tratamento especial ao país na Organização Mundial do Comércio (OMC), que regula negociações internacionais.

Os presidentes se encontraram na Casa Branca para uma reunião a portas fechadas no Salão Oval que foi acompanhada de perto pelo filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, depois de um convite inusitado do anfitrião. Em tom descontraído, os dois presidentes trocaram camisas de futebol, fizeram piadas e segundo o filho de Bolsonaro, se comportaram como "velhos amigos".

Ao fim da programação, participaram de uma entrevista coletiva no Rose Garden, onde mais de 200 profissionais de imprensa os esperavam. O número surpreendeu jornalistas que costumam cobrir eventos na Casa Branca.

Os presidentes trocaram elogios e falaram de seus próprios pontos em comum, como o alinhamento ideológico conservador, o uso das redes sociais como plataforma de comunicação com o povo, as brigas com a mídia tradicional e o combate à esquerda. "A última coisa que a gente quer nos EUA é o socialismo", declarou Trump.

O presidente americano contou que os dois países se comprometeram a aprofundar as parcerias e a reduzir as barreiras ao comércio e aos investimentos. Trump elogiou a visão de Bolsonaro de liberar o setor privado e abrir a economia.

Gesto comercial

Ao deixar a Casa Branca, o clima entre os membros da comitiva brasileira era de vitória, mas o comunicado conjunto do encontro dos presidentes mostrou que as negociações pesaram mais para o lado brasileiro.

O Brasil concordou em adotar uma cota de 750 milhões de toneladas de trigo americano por ano com tarifa de importação zero, mas os Estados Unidos não ofereceram nada de concreto em troca.

O governo americano apenas se comprometeu em enviar uma missão técnica para avaliar a possibilidade de retomada das importações de carne bovina in natura do Brasil, embargadas desde 2017 por questões sanitárias.

Estratégia para a Venezuela

Os dois presidentes disseram que reconhecem e apoiam o presidente encarregado Juan Guaidó no trabalho de restauração pacífica da ordem constitucional na Venezuela.

Ao ser questionado sobre a crise naquele país, Trump voltou a dizer esta aberto a todas as possibilidades e opções e não descarta usar a força. Do lado brasileiro, Bolsonaro se mostrou cauteloso sobre o apoio a uma possível intervenção militar dos Estados Unidos.

"Tem certas questões que se você divulgar deixam de ser estratégicas. Essas questões não podem se tornar públicas. Certas informações, se vierem à mesa, não podem ser debatidas de forma pública. É uma questão de estratégia e tudo o que tratarmos aqui será honrado", disse Bolsonaro.

Mais tarde, em entrevista coletiva, Bolsonaro disse que o Brasil prioriza a diplomacia. "Nós queremos resolver essa situação porque o Brasil esta sendo prejudicado e não interessa nem a nós nem a eles que o pais se perpetue na situação em que esta a Venezuela.

Ao ser questionado por um jornalista estrangeiro sobre a possibilidade de autorizar a instalação de uma base americana no Brasil, Bolsonaro disse que vai fazer o que estiver a seu alcance para apoiar os Estados Unidos a resolver a crise na Venezuela.

"Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como um grande aliado extra-Otan. Há pouco, permitimos que alimentos fossem alocados em Boa Vista, capital de Roraima, por parte dos americanos para que a ajuda se fizesse presente na Venezuela. Agora, o que for possível fazermos juntos para solucionar o problema da ditadura venezuelana o Brasil está a postos", disse o presidente.

Trump apoia Brasil na Otan  

Do lado americano, Trump foi além ao dizer que o Brasil pode se tornar um membro da Otan. "Eu disse ao presidente Bolsonaro que também pretendo indicar o Brasil como um grande aliado extra-Otan, ou até mesmo começar a cogitar como um integrante da Otan. Eu tenho que conversar com muita gente, mas talvez se tornar um integrante da Otan seria um grande avanço para a segurança e cooperação entre nossos países", afirmou o americano.

Fim de visita

Ao sair da Casa Branca, Bolsonaro fez uma visita ao Cemitério de Arlington, onde são sepultados soldados americanos. E em seguida deu uma entrevista coletiva à imprensa brasileira. O presidente aproveitou o momento para pedir desculpas a imigrantes brasileiros que moram nos Estados Unidos.

É que em entrevista à rede de TV americana Fox News na segunda-feira, ele havia dito que "a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer o melhor ou fazer bem ao povo americano". Mas voltou atrás, "foi um equívoco meu. A menor parte não tem boas intenções. Foi um ato falho que cometi no dia de ontem e peço perdão".

A programação do dia contou ainda com um jantar de trabalho com executivos e líderes religiosos. A comitiva presidencial decolou com destino ao Brasil às 21h18 pelo horário local, marcando o encerramento da primeira visita oficial de negócios do presidente a outro país. Bolsonaro prevê viagens a Israel e Chile ainda em março. A China deve receber a vista do governante brasileiro no segundo semestre.

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