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Linha Direta

Novas sanções americanas aumentam importância da China na crise na Venezuela

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Na segunda-feira (28), o governo dos Estados Unidos congelou ativos da empresa estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA. Até agora, Washington tinha evitado impor restrições que afetassem a economia da Venezuela como um todo e optado por sanções individuais. Mas os cálculos mudaram desde a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, na semana passada.

O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, confirmou na segunda-feira que dialogou com o presidente americano, Donald Trump. Fotomantem de Juan Guaidó e Nicolás Maduro
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, confirmou na segunda-feira que dialogou com o presidente americano, Donald Trump. Fotomantem de Juan Guaidó e Nicolás Maduro REUTERS/Carlos Garcia Rawlins/ Miraflores Palace
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Nathália Watkins, correspondente da RFI Brasil em Washington

A legitimidade de Guaidó foi reconhecida pelos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Israel, Brasil, Argentina, Peru e outros países da América Latina. A União Europeia também sinalizou que vai aumentar a pressão contra o regime de Maduro. Isolado, o Palácio de Miraflores precisará mais que nunca de seu principal aliado e credor, a China.

Aumenta a pressão

As novas medidas, que congelam os ativos da PDVSA nos Estados Unidos e também proíbem que norte-americanos façam negócios com a estatal, são um golpe duro para Maduro. A economia venezuelana depende da renda petroleira para importar quase a totalidade dos bens consumidos no país. Ao vetar o acesso ao mercado americano e à subsidiária Citgo, os Estados Unidos tentam redirecionar as receitas para o governo interino da Venezuela – o que é crucial para que a mudança de governo no país se concretize. Nicolás Maduro ainda tem o controle de grande parte das Forças Armadas, mas tem cada vez menos recursos para manter o apoio ao regime – inclusive o apoio militar. Maduro iniciou no dia 10 de janeiro um segundo mandato, previsto até 2025, após ter sido declarado vencedor em eleições tidas como ilegítimas pela maioria dos países ocidentais.

Discurso chinês

Na imprensa oficial chinesa, não há nenhuma menção ao apoio de dezenas de países ao novo presidente interino da Venezuela, ou mesmo à crise econômica e à repressão violenta a protestos do regime chavista. É pela retórica antiamericana difundida pelo falecido presidente Hugo Chávez que os chineses localizam a Venezuela no mapa. Os cidadãos comuns sabem pouco ou nada sobre o que acontece no país latino-americano. “O lucro é o que rege o interesse do governo na Venezuela. O povo chinês não tem consciência do que a China faz ou deixa de fazer por lá, é uma realidade muito distante para a maioria”, diz Guo Jie, especialista em relações entre China e América Latina, da Universidade de Pequim.

Especialistas em centro de estudos chineses, que também ocupam cargos no governo, se limitam em ressaltar que uma mudança abrupta de governo na Venezuela não seria positiva para a região. Rússia e a China são os principais guardiões do regime chavista, e se mantém firmes ao lado de Maduro.

O que está em jogo

Apesar de muito ser dito sobre a convergência ideológica entre Venezuela, socialista e a China, comunista, os chineses não veem caminho político comum entre os dois países. Pequim garante que o interesse na Venezuela é apenas econômico: o país tem as maiores reservas de óleo do mundo, e a commodity é valiosa a longo prazo. Pequim já tem mais de US$ 62 bilhões investidos na Venezuela – em sua maioria, no setor petroleiro. É com óleo que a nação caribenha paga seus empréstimos na China. Espera-se que as sanções americanas resultem em um incremento nas exportações de petróleo para a China, possivelmente a preço mais baixo. Isso aumenta a importância da China para a sobrevivência do regime.

Mas, caso o regime de Maduro caia, não há garantias de que os acordos entre China e Venezuela sejam cumpridos. Um novo governo em Caracas poderia se aproximar dos Estados Unidos e deixar a China com prejuízos financeiros e diplomáticos. Afinal, Pequim planeja estender acordos semelhantes ao venezuelano, que usa commodities como pagamento, como parte da iniciativa “Um Cinturão, uma rota”, o plano chinês para investimento em infraestrutura em mais de 100 países. Portanto, o fracasso do acordo pode repercutir nos investimentos chineses em outras regiões.

Apesar de o apoio chinês ao governo venezuelano ter sido mais sutil esta semana, nada indica que Pequim mudará de lado. Em setembro, Maduro esteve na China e os líderes asiáticos prometeram dar “todo o apoio que puderem” ao aliado, fecharam mais acordos comerciais e garantiram outros cinco bilhões de dólares em linhas de crédito.

 

A jornalista Nathalia Watkins participou de uma pesquisa de campo sobre as relações entre China e América Latina em Pequim e Xangai pela Johns Hopkins University School of Advanced International Studies (SAIS), baseada em Washington, DC.

 

 

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