Le Monde vê 'sacrilégio' em padres que defendem posse de armas para legítima defesa no Brasil
O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro tornando mais flexível a posse de armas de fogo em casa continua em destaque na imprensa francesa. Uma reportagem publicada nesta quinta-feira (17) pelo jornal Le Monde mostra as dificuldades enfrentadas pela Igreja Católica com o crescente aumento de fiéis e padres brasileiros simpatizantes da extrema direita e defensores do uso de armas em legítima defesa.
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Le Monde conta o caso do padre Edvaldo Betioli, fotografado durante uma sessão de treinamento num clube de tiro de Atibaia, no Estado de São Paulo. A foto do padre foi exibida como um troféu no Instagram do instrutor Benê Barbosa, simpatizante de Bolsonaro, que usou a imagem para mostrar o apoio de um religioso às armas de fogo, relata o jornal francês.
Segundo Le Monde, para quem tem uma vaga lembrança dos cursos de catecismo, a imagem é um sacrilégio. "Mas no Brasil, religião e munição não são obrigatoriamente contraditórios", observa o vespertino francês.
Igreja dividida
Le Monde constata que os padres defensores dos valores de Bolsonaro e do uso de armas de fogo estão em evidência. Basta ver o sucesso do padre Paulo Ricardo, da Arquidiocese de Cuiabá, que tem 1,4 milhões de seguidores nas redes sociais e publicou recentemente no Twitter que "os cristãos buscam a paz, mas isso não significa que sejam pacifistas". A reportagem também destaca a declaração do padre Paulo Ricardo dizendo que "a legítima defesa é cristã, moral e perfeita". Um posicionamento que demonstra divisões internas profundas na Igreja no Brasil, estima Le Monde.
O jornal relata que é impossível saber quantos padres bolsonaristas existem no Brasil. Mas está claro que esses religiosos ultraconservadores se deixaram seduzir por um Deus "politicamente incorreto", como observou o jornal El País.
"Em um Brasil ainda marcado pela memória dos sacerdotes da teologia da libertação, um movimento progressista de inspiração marxista, o aparecimento desses simpatizantes religiosos da extrema direita, que lembram a corrente 'tradição, família, propriedade', particularmente ativa sob a ditadura militar (1964-1985), demonstra a fragilidade de uma Igreja desestabilizada pelo surgimento de uma ideologia ultraconservadora dentro da sociedade e enfraquecida pela progressão das igrejas evangélicas e seu proselitismo agressivo", conclui Le Monde.
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