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Brasil

Escândalo Bolsogate mostra que presidente eleito não é diferente de outros políticos, diz Le Monde

O jornal Le Monde desta quarta-feira (19) traz uma matéria sobre o caso das movimentações bancárias suspeitas envolvendo a família do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro. O caso, apelidado de "Bolsogate", demonstra que o líder da extrema direita não consegue se afastar da imagem do político corrupto que se tornou insuportável para os brasileiros.

O presidente eleito Jair Bolsonaro em Brasília. 04/12/2018.
O presidente eleito Jair Bolsonaro em Brasília. 04/12/2018. REUTERS/Adriano Machado
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A correspondente do Le Monde em São Paulo, Claire Gatinois, explica como Fabricio Queiroz, ex-motorista e ex-agente de segurança de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito, tornou-se "um dos homens mais procurados do Brasil". Invisível e inaudível desde que o caso veio à tona, Queiroz deve reaparecer nesta quarta-feira, quando irá se explicar diante dos investigadores sobre as movimentações bancárias atípicas detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo em 6 de dezembro.

Le Monde destaca que o empregado de Flávio Bolsonaro movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta bancária entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. "Uma soma incompatível com o patrimônio, a atividade profissional e a capacidade financeira de Queiroz", sublinha o diário, citando a Coaf.

A matéria destaca que Fabricio Queiroz, ex-policial militar, é amigo do clã Bolsonaro e compartilha das ideias políticas do presidente eleito. Ele deixou de trabalhar para a família em 15 de outubro, dia seguinte ao primeiro turno das eleições.

Frenesia de depósitos bancários

Para muitos especialistas, "a frenesia de depósitos bancários", 176 em apenas um ano, e de saques, 56 no mesmo período, seria uma tática para lavagem de dinheiro. Classificada de "pedágio", a estratégia é célebre entre os deputados de pequenos partidos, como o PSL de Bolsonaro. Além de Queiroz, a filha do ex-policial, Nathalia de Melo Queiroz, também empregada de Flávio Bolsonaro, é suspeita de envolvimento no esquema. O filho do presidente eleito, no entanto, nega qualquer responsabilidade: segundo ele, quem tem de se explicar é Queiroz.

Le Monde ressalta que as irregularidades vão além dos empregados de Flávio Bolsonaro e envolveriam também a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que recebeu um cheque de R$ 24 mil de Queiroz. Entretanto, segundo o presidente eleito, o valor corresponde a parte do reembolso de uma dívida de R$ 40 mil do ex-policial à família. A matéria reitera, no entanto, que nenhum esclarecimento foi dado sobre a finalidade desse montante.

Popularidade de Bolsonaro segue alta

O caso é embaraçoso, mas ainda não é considerado como um escândalo de Estado, escreve Le Monde, ressaltando que "os brasileiros estão acostumados com desvios de milhões". A apenas alguns dias de sua posse, Bolsonaro registra uma popularidade excepcional: segundo uma pesquisa recente do CNI-Ibope, 75% da população acredita que o líder da extrema direita está no caminho certo.

Em contrapartida, o jornal lembra que a suspeita mancha a imagem de Bolsonaro, que "se apresentou aos eleitores como a encarnação da decência e da moralidade". O "mito", reitera Le Monde, "mostra que, antes mesmo de chegar ao poder, não se diferencia do homem político ordinário do Brasil".

As suspeitas de irregularidades já levam muitos brasileiros a comparar Jair Bolsonaro a Fernando Collor de Mello que, eleito em 1989, se autointitulava "caçador de marajás", mas foi destituído dois anos depois ao protagonizar um dos maiores escândalos de corrupção da história do país.

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