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Moro/Brasil

Imprensa internacional destaca decisão “polêmica” de Moro ao aceitar Ministério da Justiça

Veículos internacionais repercutiram nesta quinta-feira (1°) a decisão do juiz Sérgio Moro de assumir o “superministério” unindo a pasta da Justiça à Segurança Pública, à área de Transparência e Combate à Corrupção, além de incorporar a Controladoria-Geral da União (CGU) no governo de Jair Bolsonaro, em 2019. Especialistas destacam uma atitude “polêmica”, que torna “mais difícil a defesa política de Moro” e que “corrobora para a narrativa do PT de uma Justiça partidária”.

Sérgio Moro após votar em Curitiba, em 7 de outubro de 2018.
Sérgio Moro após votar em Curitiba, em 7 de outubro de 2018. REUTERS/Rodolfo Buhrer
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A manchete do jornal britânico The Guardian afirma que “Bolsonaro indica juiz que ajudou a encarcerar Lula para liderar a pasta da Justiça”. “Em uma decisão altamente polêmica, Bolsonaro anunciou que Sérgio Moro, que se tornou uma celebridade no Brasil graças ao seu papel na operação de investigação de casos de corrupção ‘Lava Jato’, seria seu ministro de Justiça e segurança pública quando assumir o poder em janeiro”, diz o periódico.

Para o Guardian, o juiz que “pavimentou o caminho para a estrondosa vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, colocando na prisão seu rival”, aceitou o posto no “governo do presidente de extrema direita”. O jornal lembra ainda que, em 2016, Moro afirmou “a um jornal brasileiro [O Estado de S. Paulo] que “nunca” entraria na política. The Guardian cita ainda a crítica da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffman, que considerou o fato “a fraude do século”.

"Algumas pessoas vão usar isso apenas para destruí-lo - algumas pessoas que eram fãs dele. É inevitável. A narrativa de um juiz que prendeu Lula e depois conseguiu um emprego no governo de seu oponente atrairá muita gente. E suspeito que ele saiba disso e que ele acredite que os benefícios sejam maiores que os riscos”, disse Brian Winter, editor do Guardian. "Eu acredito em Sérgio Moro. Eu conheço Sérgio Moro. Mas sua decisão torna muito mais difícil, a partir de agora, defendê-lo politicamente", disse Winter ao jornal.

Já Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos da Universidade Johns Hopkins, disse ao periódico britânico estar “decepcionada com a decisão perturbadora” do juiz brasileiro.

Decisão enfraquece “confiança no Judiciário”

A matéria do The New York Times (NYT) acompanha a tendência do The Guardian. Para o jornal norte-americano, “a decisão do juiz Sérgio Moro de assumir o comando do Ministério da Justiça foi recebida com indignação e júbilo, reflexo de quão polarizado ele se tornou”.

Segundo analistas ouvidos pelo Times, “Bolsonaro, uma figura profundamente polarizadora, poderia prejudicar a reputação de Moro e enfraquecer a confiança no Judiciário”. Para Matthew Taylor, professor da American University que entrevistou Moro como parte de sua pesquisa sobre corrupção no Brasil, a decisão do juiz "corrobora a narrativa do PT de manipulação e de uma Justiça partidária". Mas para "Roberta Braga, especialista brasileira no Atlantic Council, entrevistada pelo NYT, Moro seria “mais do que qualificado” para ser ministro da Justiça. "É um bom augúrio para a aprovação de reformas estruturais anticorrupção", declarou.

“Pressa ansiosa”

Na França, o jornal Libération afirma que “o juiz que derrubou Lula é condecorado por Bolsonaro”. “Ele agarrou a bola com uma pressa ansiosa”, diz o periódico. ”Símbolo da luta contra a corrupção no Brasil, o juiz Sérgio Moro será o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, presidente eleito de extrema direita. No avião que o trouxe de Curitiba, a cidade do sul onde ele atua, para o Rio, onde os dois homens se reuniram na quinta-feira, o magistrado tentou justificar essa aproximação corrida. Ele aceitaria o cargo apenas se tivesse as mãos livres para realizar uma ação enérgica contra a corrupção. E ele conseguiu o que queria, segundo confirmou em um comunicado após a reunião, prometendo ‘consolidar as conquistas dos últimos anos’”, publica o Libé.

No entanto, para a correspondente do Libération em São Paulo, Chantal Rayes, “o flerte de Moro com Jair Bolsonaro, no entanto, é um golpe em sua credibilidade, e até mesmo no da operação Lava Jato: ele dá credibilidade ao discurso do ex-presidente Lula, que o acusa de falta de imparcialidade e de tê-lo condenado sem provas, com o único propósito de destituí-lo do jogo político”.

Para o espanhol El País, “O juiz mais famoso do Brasil, chefe das maiores investigações do caso Lava Jato e responsável pelo encarceramento do ex-presidente progressista, Lula da Silva, volta-se para a política diante do olhar atônito de quem o considerava um homem sem partido e acima de preferências ideológicas”.

"Ambiguidades"

O jornal francês Le Monde, em sua edição desta quinta-feira (1°), publicada antes do anúncio, traz uma reportagem sobre as “ambiguidades de Sérgio Moro”. O diário afirma que a inexperiência política do responsável pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um fator que não deve ser ignorado e questiona se “foi por ter emprisionado o líder da esquerda brasileira que o magistrado será recompensado por Jair Bolsonaro”.

A matéria do Monde retraça a história do juiz que, investigando “um caso banal” de lavagem de dinheiro, acabou revelando um dos maiores casos de corrupção do país. “A operação envolve quase todos os partidos, mas a Justiça e Sérgio Moro têm um cuidado todo especial em relação ao Partido dos Trabalhadores”, diz a reportagem.

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